Pressionado pela inflação acima das expectativas do mercado e do próprio governo em 2013, o Banco Central (BC) decidiu, nesta quarta-feira, elevar a taxa básica de juro (Selic) de 10% para 10,5% ao ano, retornando ao patamar de janeiro de 2012. Em um ano que será marcado pelas eleições, o BC dá sinais de que o controle de preços terá prioridade sobre o crescimento da economia.
Economistas e instituições financeiras dividiam as apostas em reajustes de 0,25 ou 0,5 ponto percentual. A Selic, usada como referência para os juros ao consumidor, às empresas e para remuneração de muitas aplicações de renda fixa, teve a sétima alta seguida, e pela sexta vez foi ajustada em meio ponto. Em um ano, o BC levou a taxa básica de 7,25% para 10,25%, um aumento de três pontos percentuais pouco usual depois da estabilização da economia. Nesse período, o juro real (descontada a inflação) dobrou, de aproximadamente 2% para 4%.
- A expectativa para a inflação para 2014 está cada vez mais alta (no último Boletim Focus chegou a 6% para o IPCA, índice que serve de referência ao sistema de metas de inflação), e o BC quis mostrar ao mercado que está comprometido no combate à alta de preços - avalia Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do Banco Central e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio.
VÍDEO: entenda a relação entre a taxa de juro e a inflação
Ainda que o impacto no crescimento econômico seja alto, avalia Freitas, uma vez que a Selic desestimula o consumo e os investimentos, a medida pode frear a expectativa de empresários de que os preços subirão em ritmo muito maior, levando-os a adiar remarcações de seus produtos.
- O problema é que, em algum momento, esse freio na economia e no crédito vai começar a causar demissões - alerta.
Economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rogério César de Souza avalia que o BC quis mostrar ao mercado, em sua primeira reunião do ano, que as eleições de outubro não causarão afrouxamento na busca pela meta do IPCA, que varia de 2,5% a 6,5%.
- O governo sabe que o mercado está exigindo medidas duras no combate à inflação - diz Souza.
Ainda assim, Souza avalia que uma alta de 0,25 ponto percentual teria sido de bom tamanho, pois causaria menos danos à atividade econômica e ao crédito. Economista da Rosenberg & Associados, Fernando Parmagnani prevê pelo menos mais um ajuste de 0,25 ponto percentual na Selic neste ano.
- Mesmo que a taxa feche 2014 em 10,75%, o governo terá de fazer muito mais para aproximar a inflação do centro da meta (4,5%). Os juros são apenas um instrumento para combater a alta de preços - complementa Parmagnani.
GRÁFICO: desde janeiro do ano passado, a Selic subiu mais de três pontos percentuais