O céu carrancudo na manhã deste sábado (2) e a previsão de chuva não impediram a boa presença de público no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio, no penúltimo dia da 46ª Expointer. A tradicional feira da agropecuária, rodeada por elementos da cultura gaúcha, trouxe os costumeiros programas que atraem não somente empresários do ramo, mas famílias da Região Metropolitana de Porto Alegre que vão ao evento em busca de entretenimento.
Uma das opções deste sábado foi a demonstração de pastoreio de ovelhas com o auxílio de cães de trabalho da raça border collie. Três espécimes do ovino eram posicionados ao fundo da pista e, da extremidade oposta, o treinador dava o sinal de partida para o border collie, que disparava em direção ao rebanho. Após a aproximação, começava um exercício de paciente destreza e fina sintonia entre o condutor e o canino. Os instrutores somente podiam usar apito e comandos vocais que significam direita, esquerda, toca e para. Como o objetivo era demonstrar ao extremo a capacidade de pastoreio do arguto canino, gestos dos instrutores e toques nos animais não estavam permitidos.
Os cães não latiam e, guiados pelo homem, circundavam os ovinos por todos os lados, buscando mantê-los no caminho correto para que percorressem a cancha e superassem cinco obstáculos que simulavam porteiras e bretes. O desafio mais difícil era a cruz de malta, onde as ovelhas deveriam ser conduzidas a passar duas vezes por entre a circunscrição, em sentidos opostos.
Os primeiros a cumprir com sucesso a cruz de malta - e o percurso inteiro - foram o treinador Ronildo Oliveira dos Santos, 49 anos, e o border collie macho Chip, 10. O público que acompanhava ao redor aplaudiu a engenhosa execução das manobras. Santos explica que o mais importante é fazer o pastoreio “a passo”, técnica em que o canino avança precisa e vagarosamente, quase acrobático, com o peito rente ao solo gramíneo. Se o cachorro correr em excesso, a tendência é deixar o rebanho estressado e disposto a disparar. Na rotina de uma propriedade rural, o pastoreio a passo faz a diferença no desenvolvimento.
— Quanto mais calmos forem os cachorros na condução, mais tranquilo vai ficar o rebanho. Fazer a passo diminui o estresse do rebanho, ajuda a ganhar peso e auxilia na fertilidade — explica Santos, de Viamão, membro da Associação Border Collie Mercosul (ABCM).
Ele diz que o canino de pastoreio deve ser um border collie específico para a atividade de trabalho, diferentemente do de companhia. Leva cerca de um ano para que um exemplar adquira, com treinamento humano, as capacidades de pastoreio.
— Se estiver preparado, o border collie busca sozinho o bicho espalhado pela propriedade na distância de um quilômetro e leva para o curral. Um cão lida com 70 bois, comandado por um treinador, e com 250 ovelhas — afirma Santos.
Próximo da atividade de pastoreio, também em uma pista tradicionalmente reservada aos ovinos, estavam neste sábado, e também no domingo (3), os estandes de cutelaria. Uma atração que dialoga com público amplo, desde colecionadores, homens do campo e churrasqueiros urbanos de final de semana. Havia diversos exemplares expostos e a gravação a laser para personalizar os objetos podia ser feita na hora.
Bacana foi a demonstração de forja. O aço foi depositado em uma espécie de forno, que alcançou a temperatura de 900 Cº com o auxílio de um botijão de Gás Liquefeito de Petróleo (GLP). Daniel Alano, 45 anos, proprietário da Cutelaria Alano, de Viamão, estava fazendo a forja com material reciclável: um prego de trilho de trem comprado em ferro velho, cujo material é de aço carbono 1045.
Depois da exposição à alta temperatura, o material fica maleável, é retirado incandescente do forno e moldado na bigorna, a golpes de marreta, o que atraiu olhares curiosos. Num processo posterior, é feito o tratamento de lixadeira na oficina para dar forma. Depois, a lâmina é temperada e revenida, o que garante ao aço a resistência de fio. Por fim, é acoplado o cabo.
— As vendas estão muito boas. Temos facas desde R$ 50 até R$ 2,5 mil. É para todos os bolsos e gostos — relatou Alano, que também é presidente da Associação Gaúcha de Cutelaria (AGC).
Em outra pista próxima, essa de terra, uma prova de duplas oferecia tom descontraído. Um dos competidores montava o cavalo e, a rápido galope, cumpria um percurso com ziguezagues e retas. Depois, apeava do bicho, corria e passava por debaixo de um obstáculo, pulava um cubo de feno, saltava no banco do carona de uma caminhonete e atava o cinto de segurança. O outro integrante da dupla já estava no volante do possante e dava partida, cumprindo mais uma etapa de curvas na pista, dando pinotes e cuspindo terra, tudo com animada narração do locutor amplificada por caixa de som.
Até o meio-dia, não havia caído chuva no Parque de Exposições Assis Brasil, apesar do tempo carregado. Por volta desse horário, para oferecer almoço ao público, havia churrascada e fumaça, seja em grupos participantes da feira ou estabelecimentos comerciais.
O movimento de visitantes era bom, de fluxo constante, mas inferior ao do final de semana anterior. Funcionários da organização ouvidos pela reportagem atribuíram o fato ao clima instável. O estacionamento apresentava trânsito intenso, mas tinha três amplas áreas com vagas disponíveis até as 9h40min deste sábado, sem repetir as longas filas verificadas uma semana antes. A 46ª Expointer se encerra neste domingo.