Nos últimos dias, técnicos ligados ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) percorrem quilômetros de zonas rurais no coração da Região Metropolitana com um objetivo: definir por onde vai passar um novo trecho de rodovia que tem o objetivo estratégico de desafogar o fluxo de veículos e cargas em uma das áreas mais populosas do Estado e facilitar a ligação com a serra gaúcha.
O governo federal já contava com uma proposta inicial de extensão da BR-448 entre os municípios de Esteio e Portão, mas o plano original passou a ser reavaliado. A decisão final sobre o percurso por onde vão circular cerca de 40 mil veículos ao dia deverá ser tomada ainda no mês de setembro. Depois de marcar no mapa o caminho a ser seguido, será preciso superar outras etapas como o licenciamento ambiental, desapropriações e a garantia do recurso estimado em R$ 1,67 bilhão para construir cerca de 18 quilômetros de pista dupla.
Esperada desde que o primeiro trecho da chamada Rodovia do Parque foi entregue, em 2013 – com 22 quilômetros entre a Capital e Sapucaia do Sul – a ampliação do asfalto até Portão já contava com um desenho que partia das proximidades do Rio do Sinos, pendia para Oeste e depois retornava ao eixo original para encontrar a RS-240 nas proximidades da área urbana de Portão. Há algumas semanas, os técnicos do Dnit voltaram às pranchetas e começaram a reestudar a topografia da região.
O principal motivo para a estrada ter sido pensada com uma curvatura em direção a Nova Santa Rita era se aproximar da área onde se planejava construir um novo aeroporto internacional a ser batizado como 20 de Setembro. O projeto idealizado em 2009 ganhou alguns estudos, mas jamais decolou e perdeu sustentação com as melhorias implementadas no velho Salgado Filho a partir da concessão à Fraport.
— A curva passaria a uns dois quilômetros desse novo aeroporto, o que garantiria um acesso mais rápido. Mas fizemos uma consulta ao governo do Estado, e não está mais nas pautas viáveis para ocorrer — esclarece o superintendente do Dnit no Estado, Hiratan Pinheiro da Silva.
Por meio de nota oficial, o Departamento Aeroportuário da Secretaria de Logística e Transporte do Estado lembra que essa é uma "pauta federal", mas informa que "a questão da construção de um aeroporto entre Santa Rita e Portão foi superada com a concessão do Aeroporto Salgado Filho à iniciativa privada, em 2017. Somado a isso, e ao fato de a concessão ter prazo de 25 anos, o projeto um novo sítio na região no curto e médio prazo foi postergado. Também é importante lembrar que parecer do Comando da Aeronáutica afirmava que um aeroporto naquela localidade traria restrições para a operação da Base Aérea de Canoas e do próprio Aeroporto Salgado Filho."
Em razão disso, uma alternativa mais vantajosa para espichar a Rodovia do Parque entrou em consideração. Os locais de início e fim da ampliação continuam os mesmos: o novo trecho, tomando-se como base o sentido Capital-Interior, começaria em um ponto de curva da BR-448 em Esteio (veja mais detalhes no infográfico abaixo), teria pelo menos quatro quilômetros de pista elevada para não represar as águas do Rio dos Sinos e avançaria até encontrar a RS-240 em Portão, nas proximidades do entroncamento com a Rua Portão (traçado coincidente da RS-239, que dá acesso a Estância Velha). A geometria no meio do caminho, porém, agora poderá tomar um desvio para o lado oposto ao planejado anteriormente.
— Nossa equipe propôs um novo trajeto que pega menos propriedades, é até um pouco mais curto, porque ficaria mais reto. Em vez da curvatura a Oeste, teríamos uma leve curva a Leste. Mas estamos estudando ainda, detalhando, com o nosso pessoal indo a campo, caminhando e sobrevoando a área com drones — complementa Hiratan.
A obra já garantiu R$ 6,3 milhões para elaboração dos projetos básico (que apresenta as diretrizes gerais) e executivo (que detalha as intervenções de engenharia), que devem ser entregues em data a ser confirmada no ano que vem. Depois disso, a extensão da 448 dependeria de aprovação do Congresso para receber o recurso capaz de dar início à construção da via. Como ela foi incluída no novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a expectativa é de que não ocorram problemas por falta de fundos.
— A obra está no PAC, o projeto executivo foi contratado ainda no mês de fevereiro, está sendo realizado, e a expectativa é de que a licitação saia até o final do ano que vem. Sabemos que é uma obra muito grande, tem questões ambientais envolvidas, mas há uma equipe técnica com experiência para lidar com isso. Havia o mesmo tipo de questão no trecho já entregue da rodovia — avalia o deputado estadual Miguel Rossetto (PT), líder da frente parlamentar de acompanhamento das obras na BR-116 e na BR-448.
Depois de confirmar o trajeto da nova rota metropolitana, o Dnit deverá formalizar a mudança de projeto com a superintendência nacional, em Brasília, e encaminhar o processo de licenciamento ambiental junto ao Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). A primeira etapa da Rodovia do Parque, localizada em área de proteção, foi liberada pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam). Mas, segundo Hiratan Pinheiro da Silva, novas diretrizes envolvendo obras federais desta vez fazem com que a iniciativa seja tratada de forma diferente. Desatados os nós ambientais, burocráticos e financeiros, a expectativa é de que a construção leve três anos, um a menos do que necessitou o percurso atual da Rodovia do Parque.