Uma pesquisa recente comprovou o que os consumidores já perceberam faz tempo: ir à feira ou ao supermercado e voltar com o carrinho cheio está cada vez mais caro. O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que mantém a Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos (PNCBA), realizada mensalmente em 17 capitais do Brasil, divulgou que, em 12 meses, entre janeiro de 2019 e o mesmo mês de 2020, a elevação foi de 13,89% – bem mais do que a inflação do período, que foi de 4,3%, segundo o IBGE.
O conjunto de 13 produtos alimentícios considerados essenciais saía por R$ 502,98 em janeiro – valor que colocou Porto Alegre como a cidade que tem o terceiro cesto mais caro do Brasil. A capital dos gaúchos ficou atrás apenas de São Paulo (R$ 517,51) e do Rio de Janeiro (R$ 507,13) neste quesito. Neste período, todas as cidades analisadas acumularam alta.
Economista do Dieese no Rio Grande do Sul, Daniela Sandi explica que 11 dos 13 produtos analisados tiveram alta nos 12 meses. Porém, a maior pressão ficou por conta da carne bovina. O preço médio do quilo passou de R$ 26,39 em janeiro de 2019 para R$ 33,41 em janeiro de 2020.
– Este produto registrou alta de 26,61% em 12 meses. Essa alta ocorreu por conta do grande volume de exportações ao longo de 2019, principalmente para a China. Somou-se a isso, no segundo semestre, entressafra e maior custo de reposição dos bezerros – explica a profissional.
Quem sofre mais com isso, é claro, é quem ganha menos.
– Quem recebeu salário mínimo em janeiro gastou mais da metade (52,6%) do valor somente com os itens básicos, sobrando muito pouco para os demais itens do orçamento – diz Daniela.
Nas últimas semanas, a carne, vilã da cesta básica, está ficando mais barata. Mas ainda não retornou ao patamar de alguns meses atrás. Vendedor de uma das bancas especializadas em carne do Mercado Público, Marlon Streck afirma que, mesmo com a diminuição, os clientes não voltaram a comprar carne vermelha como antes.
– O coxão de dentro, por exemplo, estava custando R$ 39,90 o quilo há cerca de um mês. Agora, está R$ 37,90. Mas ainda é caro para muita gente – diz ele.
Mesma situação de outra banca próxima: carne levemente mais barata, mas ainda vendendo menos.
– Ultimamente, muita gente tenta substituir alguns cortes por outros que antes não eram tão populares, como língua e fígado. Às vezes, chega a faltar – explica a sócia-proprietária Claudia Novo.
Banana salgada
O segundo item que mais subiu em 12 meses foi a banana, que registrou aumento de 18,95%. O preço médio do quilo passou de R$ 6,01 em janeiro de 2019 para R$ 7,15 em janeiro de 2020. Só no primeiro mês deste ano, o aumento foi de 5,93%. Nas bancas que vendem frutas e verduras no Mercado Público da Capital, o aumento chegou, mas os lojistas buscam, sempre que possível, não repassar ao consumidor.
– Se eu aumentar muito, deixo de vender. Os clientes percebem, reclamam. Sempre que dá, seguramos – relata o gerente da banca 10, Bruno Weis de Matos.
Pesquisa é o segredo dos consumidores
Para os consumidores, nem sempre as variações indicadas em pesquisas são perceptíveis em cada produto, mas o valor final da conta, sim. É o caso do autônomo Benedito Carvalho da Silva, morador do Rubem Berta. Durante uma visita ao Mercado Público da Capital, na semana passada, ele usou o tempo para pesquisar.
– Costumo ir à feira e a mais de um supermercado, para saber os preços de cada coisa. Só quem trabalha sabe o valor do dinheiro que entra. Então, tem que valorizar cada centavo – opina.
Diante de produtos que ficam mais caros, a alternativa é substituir, diz ele:
– Se está caro, não dá pra levar.
Escolha
Opinião semelhante tem a técnica em enfermagem Lia Maria Miranda Calvet, 59 anos. Moradora de Viamão, ela prefere fazer as compras por lá, onde diz encontrar os produtos por preços menores. Mas não deixa de frequentar supermercados e o Mercado Público também na Capital, onde trabalha, em busca de ofertas.
– Já sei os dias de promoção em vários mercados. Se eu puder, compro sempre aquilo que está mais barato. A banana, por exemplo, encontrei por menos de R$ 3 por quilo (em Viamão). É o jeito para a conta não ser tão alta – opina.