Quando alguém diz que está endividado ou com o nome sujo na praça, logo vem à cabeça o imaginário de uma grande dívida impagável. Porém, dados recentes do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) demonstram que isso não é verdade. Pelos números, mais da metade dos brasileiros – cerca de 52,8% – com contas em atraso precisaria de até R$ 1 mil para se livrar do problema. Esse valor é menor do que o salário mínimo, atualmente em R$ 1.039,00.
O valor da média geral de endividamento – contando todos os inadimplentes – é mais alta, mas ainda é menor do que há alguns anos. Conforme os números do SPC, somando todas as pendências, cada consumidor inadimplente deve, em média, R$ 3.257,91. E descontando os efeitos da inflação deste número, os valores ficam 30% menores do que no início da série histórica do birô de crédito, de 2010 – na época, o endividamento médio era de R$ 4.238,32.
Olhando especificamente para o Rio Grande do Sul, dados do Serasa Experian – outro serviço de proteção de crédito – colocam 3.062.352 de gaúchos como pessoas com o nome sujo na praça. Assim, 34,7% da população adulta no RS tem contas atrasadas, o que representa um terço da população.
Os dados do SPC ainda trazem um ponto positivo para os Estados da região Sul. Entre as cinco regiões do país, esta é a que tem a menor população proporcional inadimplente, com cerca 35,5% das pessoas com crédito comprometido. Depois, aparecem as regiões Sudeste – com 37,4% –, Nordeste – com 40,2% –, Centro-Oeste – com 42,5% – e Norte, onde 47,3% da população está deve e não paga.
Descontrole
Economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, aponta que a colocação da região sul no ranking é uma indicação de amadurecimento financeiro. Segundo ela, estes Estados tiveram um desenvolvimento maior ao longo do tempo, tendo mais preparo para lidar com crises – como a mais recente, da qual o Brasil recupera-se lentamente.
Sobre o valor relativamente baixo da dívida de boa parte dos inadimplentes, Marcela diz que isto é o retrato da clássica falta de educação financeira dos brasileiros. Ela ressalta que dentro dos 52% que devem até R$ 1 mil, cerca de 37% deve menos de R$ 500.
— Além da crise, claro, que sufoca o orçamento das famílias, a falta de planejamento de onde economizar para conseguir pagar as dívidas mostra como o autocontrole faz falta — diz Marcela.
Para a economista, a principal dica para sair da inadimplência é rever o orçamento mensal e anotar todos os gastos e ganhos. Só assim o devedor conseguirá ver se e onde é possível fazer ajustes e obter alguma renda que será direcionada ao pagamento da dívida.
Dicas para economizar
/// Organização deve ser o mantra de quem está endividado. É preciso colocar no papel os gatos e a renda, olhando de forma geral onde é possível fazer corte de gastos.
/// Se não for possível redirecionar alguns gastos para permitir que sobre dinheiro, busque por itens sem uso que você possa vender ou maneiras de conseguir renda extra.
/// A renda extra depende do talento da pessoa, que pode usar suas habilidades para prestar consultorias, fazer comida para vender, conseguir bicos em monitorias ou em eventos. Trabalhos de final de semana, como garçom temporário, por exemplo, também são uma dica.
/// Não será possível juntar todo o dinheiro da dívida em um mês. Por isso, é preciso ter paciência para guardar o que for possível mensalmente até atingir o valor necessário para quitação.
Antes de pagar, negocie
/// Com o dinheiro em mãos, utilize do seu poder de barganha. Procure seu credor para renegociar, seja pedindo mais prazo para quitar ou conseguindo redução nos juros por pagar mais rápido.
/// Com a dívida paga, é importante olhar para trás e ver o que lhe deixou inadimplente.
/// Entre os principais motivos, costumam aparecer cartão de crédito e cheque especial. Por isso, evite a recorrência no uso destes elementos que podem auxiliar no seu descontrole financeiro.
/// Para quem não está inadimplente, mas fecha as contas no limite – gastando tudo que ganha – é essencial guardar qualquer valor possível por mês para situações de emergência, evitando que você torne-se inadimplente de uma hora para outra.
*Fonte: Marcela Kawauti, economista-chefe do SPC Brasil.