O governo federal anunciou nesta quarta-feira (24) a criação de uma nova modalidade de saque nas contas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). O Saque-Aniversário vai conceder ao trabalhador, a partir de 2020, a possibilidade de retirar percentual conforme o saldo disponível. E ainda neste ano, será possível pegar até R$ 500 tanto de contas ativas quanto inativas.
No anúncio, o Ministério da Economia reforçou que as novidades representam uma alternativa ao trabalhador, não uma obrigação. Essa liberdade de decisão, de acordo com especialistas em finanças, deve ser aproveitada bem para evitar que um recurso criado para ser uma reserva de segurança vá pelo ralo.
A intenção do governo é aquecer a economia, incentivando o consumo dos brasileiros com a grana extra. Mas essa é, justamente, a última opção sugerida por quem entende de planejamento financeiro. Com um valor de até R$ 500 na mão, a tentação de gastos menores é maior.
— Se esses R$ 500 conseguem quitar uma dívida, ou abater grande parte dela, não tem o que pensar, é o melhor uso para o recurso. Agora, se resolve apenas um pedacinho da pendência, não vale a pena. E, aí, sem plano para usar bem o valor, eu diria que o melhor é até deixar lá na conta do FGTS — adverte o financista Fabrizio Gueratto, do canal 1 Bilhão Educação Financeira.
Gueratto baseia sua dica em outra novidade revelada pelo governo: a divisão dos resultados do FGTS foi modificada. A rentabilidade segue atrelada à Taxa Referencial (TR), acrescida de 3% ao ano, mas o percentual destinado ao cotista foi ampliado de 50% para 100%.
— Agora, deixar o dinheiro no fundo não é mais a pior das opções. No ano passado, por exemplo, a distribuição foi equivalente a 1,72% do saldo na conta em dezembro de 2017. Se já valesse a regra dos 100% dos lucros, seria quase 3,5%. Ou seja, a rentabilidade, a partir de agora, pode ser equivalente ou até superior a taxa Selic, hoje é 6,5% mas com previsão de fechar o ano em 5,5% — diz o gestor de investimentos da Par Mais Alexandre Amorim.
Destinação original deve ser mantida
A partir de 2020, de acordo com o saldo disponível, será possível retirar anualmente percentuais que variam de 5% a 50%. Como a adesão ao Saque-Aniversário — de acordo com a data de nascimento do cotista — implica em abrir mão do saldo total em caso de demissão sem justa causa, será preciso refletir caso a caso.
Para ajudar nessa decisão, a dica do gestor de investimentos da Par Mais é mirar na função original do FGTS: um recurso para compra de patrimônio como a casa própria e para reserva de proteção ao trabalhador — no caso de demissão imprevista.
— Essa deve ser a lógica na hora de decidir sacar ou não, anualmente, os valores. A tendência de quem adotar essa modalidade, pela minha experiência, será usar o dinheiro como um 14º salário. Vai pagar as contas do final de ano, para as quais o 13º não dá mais conta, e outros gastos. E não é essa a função do FGTS — analisa o especialista.
Segue valendo, segundo ele, a regra de priorizar o pagamento de dívidas com juros altos, como as de cartão de crédito e cheque especial. Para quem está com as finanças em ordem, pode ser a hora de criar uma reserva de emergência no caso de um gasto imprevisto.
Use o FGTS conforme sua situação financeira
Quem tem contas em atraso
- A prioridade é usar para quitar dívidas.
- Entre em contato com os credores e negocie desconto para o abatimento em troca do pagamento total da conta.
- Se não puder pagar todas as dívidas, priorize as de serviços básicos (água, luz e telefone) e as com juros altos (cartão de crédito e cheque especial, que chegam a ter juros de até 13% ao mês).
Quem tem contas parceladas, mas nenhuma atrasada
Pode avaliar se vale a pena antecipar o pagamento das prestações. Se as prestações são fixas, não faz sentido antecipar os pagamentos.
- Se houver desconto no valor das parcelas, avalie a possibilidade de pagar parcelas antecipadamente. Isso porque os juros do empréstimo ou crediário costumam ser maiores do que o rendimento das aplicações mais comuns.
- Converse com o credor, banco ou financeira. Mostre que tem interesse em se livrar das parcelas, mas que para isso quer um desconto.
Quem está sem dívidas ou com as contas ajustadas no orçamento
- Com as contas em dia, sem dívidas, pode ser a hora de montar a sua proteção financeira.
- Use o valor para uma reserva financeira a ser usada em situações inesperadas: a geladeira que para de funcionar, o carro que sofre uma batida, ou mesmo a perda do emprego de forma inesperada.
- O ideal é ter o equivalente a seis vezes o orçamento mensal. O valor do FGTS, claro, pode não chegar a isso, mas se tornar o primeiro passo para construir esse colchão protetor das finanças.
Fonte: Alexandre Amorim, gestor de investimentos da Par Mais