Como esperado pelo mercado financeiro, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, manter em 6,5% a taxa Selic, usada como referência para outros juros da economia. O anúncio foi feito pelo Banco Central nesta quarta-feira (8). A taxa básica de juros está no atual patamar desde março do ano passado, estendendo o período de mínima histórica em um momento em que economistas enxergam espaço para cortes adicionais.
De acordo com o Banco Central, indicadores recentes da atividade econômica apontam que o arrefecimento observado no final de 2018 teve continuidade no início deste ano de 2019. O cenário contempla, segundo nota divulgada, a "retomada do processo de recuperação gradual da atividade econômica".
Para o Copom, reduções adicionais dependem da aprovação da reforma da Previdência, algo que vem sendo repetido nos comunicados que justificam a decisão da Selic. As novas regras para aposentadoria são tidas como essenciais para a manutenção das contas públicas, conforme o anúncio:
"O Comitê enfatiza que a continuidade do processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para a manutenção da inflação baixa no médio e longo prazos, para a queda da taxa de juros estrutural e para a recuperação sustentável da economia. O Comitê ressalta ainda que a percepção de continuidade da agenda de reformas afeta as expectativas e projeções macroeconômicas correntes."
Em relatório, a equipe econômica do Itaú escreveu:
"Acreditamos que o Copom manterá a taxa Selic estável (...) dadas as projeções de inflação ancoradas em torno das respectivas metas até 2021, e diante da pouca disposição da autoridade monetária em alterar o nível de estímulos até que haja maior clareza sobre as perspectivas para as reformas econômicas — em particular, quanto à reforma da Previdência".
A inflação em 12 meses registrou repique a 4,58% em março, acima da meta de 4,25%, mas dentro da margem de tolerância. A perspectiva é de que esse efeito seja apenas temporário, um choques de preços que logo será absorvido, dizem economistas.
"Tais choques devem se dissipar nos próximos meses, fazendo a inflação retornar para abaixo da meta. A inflação implícita para os próximos 12 meses está em 4,09%", escreveu a corretora Guide.
"Olhando à frente, acreditamos que uma combinação de atividade fraca com projeções de inflação abaixo da meta abrirá espaço para estímulos monetários adicionais, caso o risco de deterioração fiscal seja reduzido após a aprovação da reforma da Previdência", acrescentou o Itaú.
Estímulos monetários adicionais, fora do jargão do mercado financeiro, é redução da taxa de juros. Na teoria, quando o juro básico cai, há mais dinheiro circulando na economia e o custo (a taxa cobrada dos consumidores) se reduz.
Isso estimularia famílias e empresas a tomarem crédito e movimentar a economia.
A economia brasileira patina e cai semana após semana as expectativas de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) para 2019. Na estimativa mais recente colhida pelo Banco Central no Boletim Focus, a projeção era de avanço de 1,49%.
Eles estimam que a Selic terminará o ano no atual patamar, ainda que o mercado fale em chances de cortes.
Há um ano, na reunião de maio do ano passado, o Banco Central surpreendeu o mercado ao decidir manter a Selic no atual patamar, contrariando as estimativas que apontavam corte para 6,25%.
Naquela época, o Banco Central projetava riscos vindos do exterior com o ciclo de alta de juros nos Estados Unidos, que estimula a migração de recursos de países emergentes para o mercado americano, pressionando o dólar.