As famílias da Região Metropolitana de Porto Alegre estão enfrentando um trio cruel para conseguir fechar as contas no final do mês: luz, gás de cozinha e gasolina. O impacto desses três gastos foi flagrado na inflação medida pelo Centro de Estudos e Pesquisas Econômicas (Iepe) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Trata-se do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) do Iepe, que mostrou inflação de 0,39%. E os três itens, sozinhos, levaram esse percentual nas costas.
— Identificamos que 70% da inflação fechada em setembro foi pela soma de energia elétrica, gás de cozinha e gasolina. O problema é que não se consegue reduzir significativamente o consumo deles, não tem alternativa — explica o coordenador da pesquisa IPC/Iepe da UFRGS, Everson Vieira dos Santos.
Ele cita o caso do tomate, que teve uma disparada no preço nas últimas semanas por causa da safra. Como há possibilidade de substituição – colocar legumes e verduras na salada, por exemplo –, é possível fugir do estrago no bolso. Mas, com a energia elétrica, não há para onde escapar. Há cinco meses, os consumidores pagam bandeira tarifária vermelha (cobrança extra de R$ 5 a cada 100 kW na conta), valor que se soma aos reajustes da tarifa.
Apertar o cinto é a saída
Por causa do aumento da gasolina, outro dos vilões do IPC/Iepe, a Região Metropolitana teve a maior inflação na prévia de outubro divulgada pelo IBGE nesta terça-feira (23). E o acumulado de 12 meses da inflação também é o maior do país: está em 5,51%. Levantamento do Procon Porto Alegre de segunda-feira (22) identificou que a gasolina comum varia de R$ 4,820 a R$ 4,999 na Capital. O órgão também conferiu neste mês o preço dos botijões de 13kg em 34 estabelecimentos, e os valores oscilaram entre R$ 61 e R$ 75.
— A saída para tentar reduzir esses gastos fica somente na capacidade das famílias de disciplinar os componentes da casa. Todos devem assumir papel de diminuir o consumo de energia, por exemplo, aproveitar mais a luz natural, abrir menos vezes a geladeira, adotar o ônibus sempre que possível, entre outras medidas — recomenda o coordenador da pesquisa IPC/Iepe.
Impacto pesado no orçamento do mês
A cozinheira Débora Emilene Moura Ferreira, 40 anos, chega a ter uma prancheta com as contas de luz de quase um ano atrás. Trata-se do atual inimigo número 1 da família. A fatura de outubro é de R$ 389, e ela teme que a barreira dos R$ 400 seja superada em novembro. O problema é que a luta contra os inimigos número 2 e 3 também não é nada fácil: são dois botijões de gás por mês, cerca de R$ 140, e gasolina para encher dois tanques do carro da família, valor que ela estima em mais R$ 400 mensais – por enquanto.
— Eu trabalho em casa, faço salgados e refeições para vender. Por isso, gasto muito gás. E faço as entregas de carro, aqui na região e mais longe, não tem lugar onde não vá. E tem essa conta de luz, que era de cerca de R$ 150 e deu um salto. Então, sei bem o peso dessas três gastos — conta a moradora do bairro Partenon, zona leste de Porto Alegre.
Somados, os três vilões sugam quase R$ 1 mil por mês, o que chega a ser até metade do que Débora consegue lucrar com a comida e os salgados. O que ajuda a amenizar esse drama é o salário do marido, Rafael Maciel Moura Ferreira, 28 anos, pizzaiolo.
— Eu trabalho aqui perto, então vou a pé para o meu emprego. Isso já ajuda muito, não gasto com transporte. O carro, mesmo, é usado para as entregas — conta Rafael.
Outras seis pessoas vivem na casa com Débora e Rafael: três filhos, genro e dois netos. A chance para economizar parece estar na energia elétrica. O valor perto dos R$ 400 é um mistério para ela, e uma obra em toda a fiação da casa pode ser a solução para estancar essa conta. Enquanto isso, capricha nas viandas para captar mais clientes e faturar mais por mês.
— Faço tudo separadinho, o feijão numa potinho, a salada na outra, tudo bem bonito. Fiz para o Rafael levar pro trabalho e os colegas dele gostaram, começaram a me encomendar, e a coisa engrenou. Chegam a vir comer aqui em casa. Nós dois trabalhamos com alimentação, queremos um dia montar nosso restaurante — sonha Débora.
25 dicas para domar os três vilões
Energia elétrica
1) O chuveiro elétrico é um dos maiores vilões da conta de luz. Explique às crianças da casa que o banho precisa ser rápido.
2) Os chuveiros eletrônicos, com mais opções de temperaturas, tendem a ser mais econômicos, pois possibilitam escolha de faixas intermediárias de calor, sem usar a opção mais quente.
3) Algumas pessoas ligam antes o chuveiro para esquentar o banheiro. Se organize com a família para que todos tomem banho em sequência, aproveitando o calor do ambiente.
4) Evite fazer a barba durante o banho. As mulheres, dentro do possível, também podem evitar a depilação em água corrente.
5) Opte por lavar roupas em dias mais secos e menos frios, para depender menos dos secadores elétricos.
6) Certifique-se de que o termostato da geladeira está na função adequada à estação: temperatura baixa demais sem necessidade é mais gasto.
7) Limpe os filtros do ar-condicionado e de condicionadores de ar portáteis, para que a energia consumida seja transformada em calor da forma mais eficiente.
8) Aquecedores elétricos a base de óleo consomem menos do que os que funcionam com resistência, além de serem mais benéficos à saúde por manterem a umidade do ar.
9) Durante o dia, tente aproveitar melhor a luz natural dos ambientes abrindo as cortinas ou janelas. Nem sempre é preciso acender a luz para as atividades do cotidiano.
10) Passe mais roupas de uma vez só. O processo de aquecimento da resistência do ferro é gradativo e demorado. Ligar uma única vez e passar uma grande quantidade de peças é mais racional e econômico do que ligar repetidas vezes.
Gás de cozinha
11) Evite vazamentos: verifique a mangueira do gás com frequência. Examine minuciosamente e certifique-se de que está encaixada e dentro do prazo de validade. Isso garante a segurança e a economia do gás de cozinha.
12) Use panelas proporcionais à boca do fogão, o contrário provoca desperdício de gás. Boa parte do calor gerado acaba passando para o ar e não para a panela.
13) Use mais a panela de pressão. Como essa panela cozinha com mais facilidade, é tida como aliada da economia de gás.
14) Repare na coloração da chama. O ideal é que esteja azulada. A cor amarela indica que os queimadores estão desregulados e, por isso, acabam soltando mais gás do que o necessário.
15) Alimentos de molho um dia antes (atitude válida para itens como feijão, arroz, grão de bico, ervilhas secas, grão de soja e semente de trigo) torna o cozimento mais rápido.
16) Descongele previamente carnes e outros alimentos que costumam ficar no congelador e são preparados no fogo. Isso ajuda a reduzir o tempo de cozimento e gera uma boa economia do gás.
17) Otimize o uso do forno. Quando for assar algo, procure incluir mais de um prato na mesma leva. A cada vez que o forno é ligado, uma grande quantidade de gás é liberada para que ele fique aquecido.
Gasolina
18) Trocar as marchas na hora certa mantém a rotação baixa e poupa gasolina. Nos carros mais novos, o motorista deve prestar atenção no indicador para troca de marcha na hora certa.
19) Não acelere o carro imediatamente antes de desligá-lo, isso aumenta o gasto. Antigamente, havia motivos para isso, como dar uma carga na bateria ou jogar combustível dentro do motor. Carros fabricados a partir dos anos 1970 já não precisavam disso.
20) Rodar com os pneus calibrados é essencial para economizar combustível. O ideal é fazer a conferência uma vez a cada 15 dias, pelo menos.
21) Gasolina aditivada deixa o motor mais limpo, nas condições originais por mais tempo. Isso ajuda no consumo ideal. Mas só funciona com o uso continuado da aditivada, por longo tempo.
22) Com os vidros abertos, em uma rodovia, o ar "freia" o veículo e o gasto equivale ao do ar-condicionado. Na velocidade urbana, esse efeito é irrelevante. Logo, vale a pena, sim, desligar o ar-condicionado em dias de temperatura amena. Se precisar de aquecimento, ligue o ar quente que usa somente a ventilação.
23) Veículo em velocidade constante poupa combustível. Quanto menos se acelera para mudar de velocidade, menos combustível o motor puxa. Manter a velocidade significa exigir menos do acelerador.
24) Carro com muita bagagem gasta mais, por causa da exigência que se faz a mais do veículo. Carro mais leve é mais econômico. Ou seja, tire do porta-malas a carga desnecessária para não ter prejuízo. Não deixe acumular no bagageiro, por exemplo, cadeiras de praia, caixa de ferramentas e engradados de bebidas.
25) Manutenção faz o veículo gastar menos combustível. O segredo para o motor não consumir demais está no bom estado das velas e dos filtros do motor.
Fontes: Centro de Pesquisa do Instituto Mauá de Tecnologia (SP), Ultragás e Associação Sul Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Aquecimento e Ventilação (Asbrav)