Os efeitos da estiagem que se alastra pelo quarto ano seguido no Rio Grande do Sul chegam também à zona rural de Porto Alegre e já afetam os produtores de maneira generalizada. De acordo com o Sindicato Rural da Capital, os estragos atingem mesmo os produtores que têm sistema de irrigação e açude nas propriedades, em maior ou menor grau.
O município decretou situação de emergência na terça-feira (24). O documento é necessário para que os produtores consigam renegociar financiamentos e acessar recursos de socorro. O decreto também facilita ações emergenciais como perfuração de poços, encurtando trâmites.
— Em 25 anos de sindicato e em 50 como produtor, nunca vi nada igual — relata o presidente do Sindicato Rural de Porto Alegre, Cléber Vieira.
No ano passado, o prefeito Sebastião Melo já havia declarado situação de emergência por crise hídrica, mas o documento não se tratava de prejuízo na área rural do município, e sim a problemas de abastecimento de água em bairros da Capital.
Conforme o sindicato, os estragos neste ano são muito mais severos que no ano passado, quando a faixa próxima à Costa Doce foi menos afetada. Neste ciclo, o quadro se assemelha ao restante das regiões. O presidente fala em perdas de 60% no milho e de 40% em algumas plantações de soja. Também há danos na produção de hortaliças, de frutas e de orgânicos.
— Quase todos têm sistema de irrigação e açude, mas o nosso problema é o calor e o sol quente. Tem de irrigar o dia todo. Mas com 37°C em cima de uma plantação de alface não adianta molhar, o sol liquida com elas — explica Vieira.
Prefeitura estima prejuízo de R$ 4,1 milhões
Eduardo Gonçalves é um dos produtores que relata estragos. Ele cultiva soja em área de 120 hectares no Lami, no extremo sul da Capital. O produtor diz que o impacto da seca é visível no desenvolvimento das plantas, que estão com as folhas ressecadas. Se não chover até o fim de semana, ele diz que a situação estará ainda mais complicada.
— Nunca tinha passado por algo parecido — conta Gonçalves.
Na propriedade de Hamilton Lopes, também no Lami, a falta de chuva já devastou quase toda a plantação de milho. Produtor há cerca de oito anos na Capital, ele conta que nunca havia visto cenário parecido e que a estiagem este ano está “muito mais cruel” do que a do ano passado.
— Está feia a coisa. Plantamos 20 hectares de milho. A primeira parte tive de abandonar por inteiro. As folhas secaram, puxamos água do açude e acredito que cerca de oitos hectares vamos conseguir salvar. Outra parte, que já estava desenvolvida, não vou colher nada — lamenta Lopes.
Se a chuva não vier nos próximos dias, os estragos nas lavouras serão ainda maiores. O prejuízo financeiro estimado pela prefeitura da Capital até este momento é de R$ 4,1 milhões.
Formada em grande parte por pequenos produtores, a área rural de Porto Alegre é a segunda maior do Brasil entre as capitais. A estimativa é de que 120 famílias estejam entre as mais prejudicadas.