O jornalista Carlos Rollsing colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço
Com a segunda maior área rural do Brasil entre as capitais, Porto Alegre está sofrendo com a estiagem e já contabiliza prejuízos na produção agrícola. As plantações de soja e milho, que somam cerca de 650 hectares, estão com perdas de pelo menos 50%. Presidente do Sindicato Rural de Porto Alegre, Cleber Vieira cria 90 ovelhas no Lami e está alimentando os animais com suplementos, o que encarece o negócio. A pastagem secou com a falta de chuvas. Os açudes secaram.
Quatro propriedades rurais que ficam no morro do bairro Extrema estão sem água. O Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) envia uma vez por semana um caminhão-pipa, mas a medida atende somente o consumo doméstico. Os produtos orgânicos, uma das marcas da zona rural de Porto Alegre, também estão sofrendo. Dono de uma propriedade no Extrema, o presidente da Associação dos Produtores da Rede Agroecológica Metropolitana (Rama), Idemar da Rocha Nunes, afirma que os cultivos foram reduzidos em até 70% por causa da escassez hídrica.
Na terra dele, anualmente colhia radite e alface, mas esse ano nem sequer plantou. Seria perda na certa, narra o produtor.
– Hoje a minha propriedade está reduzida a aipim e batata-doce, que aguentam a falta d’água. É um período muito difícil – lamenta Nunes.
Vieira atua há 24 anos no Sindicato Rural e afirma jamais ter vivenciado tamanha dificuldade. Existem 700 propriedades com o talão do produtor em Porto Alegre, legalmente inscritas para vender seus produtos. Além dos cultivos de reconhecida qualidade, comprados pela população nas feiras orgânicas, a zona rural também é um pulmão da cidade e opção de lazer e de turismo.
O secretário de Governança Local e Coordenação Política, Cássio Trogildo, visitou plantações nos últimos dias e, após reunião com o prefeito em exercício, Ricardo Gomes, preparou a minuta de um decreto de situação de emergência. No momento, técnicos fazem um levantamento sobre as perdas para verificar se a situação se enquadra, de fato, no cenário de emergência.
Em caso de confirmação, o decreto deve ser publicado até terça-feira (24). Com a medida, os produtores podem renegociar financiamentos com os bancos e acessar recursos de socorro eventualmente enviados pelos governos estadual e federal. O decreto de emergência também costuma facilitar medidas como perfuração de poços.