Reunião da próxima terça-feira (9) entre o promotor Alexandre Saltz e o secretário estadual da Agricultura, Covatti Filho, traz expectativa de desfecho sobre o uso do herbicida 2,4-D para combater erva daninha das lavouras de soja. Produtores de uvas, azeitonas e maçãs reclamam de perdas milionárias em razão da deriva do produto para suas plantações na última safra e, agora, exigem a restrição da aplicação do químico.
No inquérito que tramita na Promotoria do Meio Ambiente de Porto Alegre, sob condução de Saltz, os indicativos são de que o Ministério Público (MP) e também a área técnica da Secretaria da Agricultura estão convencidos de que a aplicação do 2,4-D precisa ser contida, sob risco de "inviabilizar a diversificação" de culturas.
— Vamos aguardar o resultado da reunião. Caso não se apresente alguma medida, uma das opções é a busca pela proibição do uso via medida judicial — diz Saltz.
Esse deve ser o caminho caso o secretário não acate o parecer dos técnicos e opte por manter o mercado gaúcho aberto ao 2,4-D, herbicida mais usado no Estado e de melhor custo-benefício para atacar a erva daninha buva.
A busca por uma decisão dos tribunais não será necessária caso, nesta reunião, Covatti manifeste adesão às medidas restritivas ao agrotóxico, o que poderia ser feito por meio de nova legislação estadual. O secretário não atendeu ZH na quarta-feira (03). A eventual proibição provoca reação entre usuários.
— O problema não é a molécula (2,4-D), outros herbicidas podem causar o mesmo. Ela é imprescindível hoje e a proibição vai gerar sérios problemas, ficaremos praticamente sem ferramentas contra plantas invasoras. Isso está se encaminhando para o pior cenário possível, as atividades vão virar inimigas — avalia Luís Fernando Fucks, presidente da Associação dos Produtores de Soja do Rio Grande do Sul (Aprosoja).
A disputa chegou às raias da judicialização após meses de negociações sem sucesso entre sojicultores e produtores de outras culturas. Em dezembro de 2018, a Secretaria da Agricultura recebeu 81 análises de laboratório realizadas em vegetais colhidos em 56 propriedades rurais, distribuídas em 23 municípios.
Do total de exames, 69 resultaram positivo para a contaminação por 2,4-D. Ao ser aplicado nas lavouras de soja antes do plantio para limpar o campo, o herbicida sofre um processo de deriva, se espalhando pelo vento e atingindo plantações vizinhas de videiras, oliveiras e macieiras.
Ao entrar em contato com outros vegetais, o químico ataca o sistema molecular, impede o desenvolvimento e causa atrofia e morte. O Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) projeta prejuízos na ordem de R$ 94,02 milhões, com redução de 32% da colheita da uva da atual safra.
Os prejudicados, o MP e os técnicos da Agricultura entendem que o 2,4-D deve ter seu uso e venda suspensos, com a busca por produtos alternativos que já existem no mercado, porém mais caros. Já os sojicultores, cujo grão é o principal item de exportação da economia gaúcha, argumentam que o problema é a má aplicação do químico, o que poderia ser resolvido com a ampliação de programas de qualificação da pulverização, como o Deriva Zero.