Com público esperado de mais de 250 mil pessoas, a Expodireto-Cotrijal, se transforma em uma safra cheia para o turismo de negócios na Região Norte. Desde a primeira edição da feira, as pessoas se multiplicam pelas ruas de Não-Me-Toque durante o encontro.
Em 2000, quando os moradores eram pouco mais do que 14 mil, o evento levou 41 mil visitantes ao parque. Desde então, o número de frequentadores cresceu mais de 500%. Em um município que hoje abriga 17,5 mil viventes e tem apenas três hotéis de médio e grande porte, não precisa ser bom de matemática para se perguntar: onde essa gente toda vai dormir?
Com a lotação da rede hoteleira da região meses antes do evento, as casas particulares são opção para quem planeja uma visita a uma da maiores feiras de agronegócio do país. Até o fechamento desta reportagem ainda era possível encontrar vagas para os dias 11 a 15 de março no site de hospedagens Airbnb. O serviço conecta pessoas que têm espaços para alugar com quem está em busca de um lugar para ficar, seja um quarto ou imóvel inteiro.
O engenheiro mecânico Luis Paulo Estery usou o Airbnb pela primeira vez em 2018. Como hóspede, ficou na Capital em uma viagem a trabalho. E, como anfitrião, alugou a chácara da família, em Não-Me-Toque, na época da Expodireto. Depois dessas e de outras experiênciascom aplicativos de compartilhamento, colocar o imóvel particular para alugar para estranhos foi uma decisão fácil.
– Nunca alugamos por imobiliárias porque as comissões são muito altas na época da feira. Além de taxa menor, o Airbnb te dá mais segurança. Assim como o Uber e outros apps semelhantes, é possível dar um feedback para os usuários – diz Estery.
Preferência é alugar diretamente
Apesar da variedade de imóveis na região disponíveis no site, o velho boca a boca ainda é o sistema preferido dos moradores que abrem as portas das suas casas para receber trabalhadores ou visitantes da Expodireto-Cotrijal. A menos de duas semanas da feira, Estery, que oferecia o imóvel da família no Airbnb pelo segundo ano, acabou alugando para uma empresa que o procurou diretamente. A chácara é usada como lazer, mas tem gente que deixa sua residência para hospedar visitantes.
É o caso de Anamaria Weber, 32 anos, que, pelo terceiro ano consecutivo, está de malas prontas para passar uma temporada com a sogra. Serão 10 dias em que ela, o marido, Fernando Ellwanger, e a filha, 4 anos, sairão da sua casa em Victor Graeff, cidade vizinha a Não-Me-Toque, para que um grupo de cinco funcionários de uma empresa de São Paulo se acomode antes e durante a feira. O município atrai público para o 18º Festival Nacional da Cuca com Linguiça, que ocorre durante a Expodireto.
– Somos uma cidade pequena, todo mundo se conhece. Assim um indica o outro – diz Anamaria, que dispensou imobiliária – Airbnb? Nunca ouviu falar.
Já Diane Royer, 29 anos, também moradora do município vizinho, está acostumada a alugar um de seus imóveis pelo site no verão. Mas, para os dias de Expodireto, prefere acertar com quem fala diretamente com ela. Apesar da segurança que o serviço online oferece, quando o contato é sem intermediário ela pode cobrar antecipado e evitar o risco do prejuízo de um cancelamento de última hora – opção prevista pelo Airbnb. E aí, adeus renda extra. Só no ano seguinte.
Rede particular é complementar à hotelaria
É cada vez mais comum a hospedagem em casas particulares e o contato direto com o proprietário, diz o presidente da Associação Comercial, Industrial, Agropecuária e de Serviços de Não-Me-Toque (Acint), Marcos Petry. De acordo com ele, os valores dos aluguéis variam entre R$ 5 mil e R$ 12 mil por cinco dias. Mas há quem alugue por até dois meses para os profissionais que montam a feira, que chegam a quase 3 mil pessoas.
– Tem quem saia de casa e quem comprou imóveis para alugar de olho nos preços das diárias praticadas durante o evento. É muito vantajoso – diz Petry.
O movimento não concorre com a rede hoteleira da região. Durante o ano, a taxa média de ocupação é de 60%, segundo João Schemmer, secretário-executivo da Associação dos Municípios do Alto Jacuí (Amaja). Como não se tratam de destinos turísticos, são poucos hotéis e pousadas que atingem a lotação máxima fora da época da feira.
Na carona da mostra, o comércio também ganha. Petry informa que há pelo menos dois novos restaurantes em Não-Me-Toque abertos em 2018 e ansiosos pela sua primeira Expodireto. O Dom Ben, localizado no hotel Me Toque, abriu em dezembro. Hoje serve almoço de terça a domingo, mas já se prepara para abrir também à noite e às segundas-feiras na semana da feira. A expectativa, diz o diretor, Thiago Wrublack, é dobrar o público.