No berço da imigração holandesa no Rio Grande do Sul, a 300 quilômetros da Capital, uma cidade com pouco mais de 16 mil habitantes é uma das engrenagens econômicas de outros 20 municípios do norte gaúcho.
Com indústrias de máquinas e implementos agrícolas focadas em agricultura de precisão, Não-Me-Toque recebe boa parte da mão de obra regional, tem o 22º maior Produto Interno Bruto per capita do Estado e desfruta de benefícios trazidos pelo desenvolvimento.A vocação da mecanização é antiga. Data de quase 60 anos, quando as primeiras famílias holandesas chegaram à região.
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O salto é mais recente, principalmente nos últimos 10 anos, quando o PIB do município cresceu 210% - puxado, em especial, pela expansão de indústrias de máquinas e implementos. Só as duas maiores, Stara e Jan, empregam 3,8 mil funcionários e faturam juntas cifras bilionárias.
- As indústrias de transformação respondem por quase 70% da matriz tributária do município. Isso sem contar as empresas prestadoras de serviços que crescem em torno do setor - destaca a prefeita de Não-Me-Toque, Teodora Lütkemeyer.
Ela se refere desde a sistemistas que fornecem peças para a fabricação de máquinas e implementos até gráficas, que produzem adesivos para os equipamentos, e tecelagens, que confeccionam uniformes para os trabalhadores.
- No passado, a cidade era conhecida pelo nome estranho. Hoje, é sinônimo de desenvolvimento - completa Teodora.
Foto Diogo Zanatta, Especial
Feira aumentou a visibilidade
Com um PIB per capita 60% maior do que a média do Estado, o município é beneficiado com o avanço econômico por meio de mais qualidade de vida e melhores condições de saúde e educação.
- O fato de ter renda média mais elevada acaba influenciando no índice de desenvolvimento humano da cidade e da região - diz o economista Julcemar Zilli, professor da Universidade de Passo Fundo (UPF).
Um dos reflexos imediatos desse avanço se dá na educação, já que as oportunidades de emprego nas indústrias metalmecânicas têm incentivado jovens a se qualificarem.
- Quase 100% dos alunos de Engenharia de Produção que estudam em Carazinho, por exemplo, são contratados pela Stara e Jan antes mesmo de se formarem - frisa Zilli, citando que as indústrias também incentivam os funcionários a se qualificarem.
Grande parte da visibilidade foi alcançada pela Expodireto Cotrijal, feira de tecnologia agrícola promovida desde 2000 pela cooperativa no município. O evento ajudou também a projetar as indústrias da região no mercado nacional e no Exterior. Foi durante a Expodireto que a Stara, com sede em Não-Me-Toque e unidades em Carazinho e Santa Rosa, fez os primeiros contatos com compradores estrangeiros nas rodadas internacionais, que abriram a porta para os negócios.
- Nossa fábrica fica a um quilômetro do parque. Todos os anos, levamos delegações estrangeiras que vêm à feira para conhecer a Stara. Matamos dois coelhos com uma paulada só - destaca o presidente da empresa, Gilson Trennepohl.
Trajeto de canoa para ir trabalhar
Foto Diogo Zanatta, Especial
Após três anos atravessando o Rio Jacuí de canoa para trabalhar, Derlan se mudou para Victor Graeff de olho no trabalho
O primeiro emprego de Denilson Derlan, 21 anos, teve o Rio Jacuí no caminho. Para chegar mais rápido a Não-Me-Toque, vindo de Mormaço, ele usava diariamente uma canoa. Durante três anos, caminhava à noite com lanterna por 600 metros até a margem.
Do outro lado do rio, utilizava moto guardada na casa de amigos para ir à Stara, onde trabalha no setor de corte a laser das 20h às 5h. Eram mais três quilômetros de chão batido e 24 quilômetros de asfalto.
- Atravessava o rio para não dar uma volta de mais de 50 quilômetros. Compensava, pois pagar aluguel seria muito caro - lembra Derlan.
Há três meses, ele se mudou para Victor Graeff. Mais perto, quer agora concluir o Ensino Médio e fazer um curso técnico para buscar uma posição melhor na empresa:
- Valeu a pena o esforço. Agora, mais perto, quero estudar para crescer.
Indústrias de precisão
As duas principais indústrias de implementos agrícolas de Não-Me-Toque, Stara e Jan, ganharam mercado ao investir em tecnologias voltadas à agricultura de precisão - de distribuidores de corretivos e fertilizantes a softwares de gerenciamento da propriedade. Não por acaso, a cidade ganhou o título de capital nacional da agricultura de precisão após desenvolver o projeto Aquarius, parceria de empresas e a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Conhecida por fabricar distribuidores de corretivos e fertilizantes e carretas graneleiras, embora tenha no portfólio pulverizadores e plataformas colhedoras, a Jan tem 1,3 mil funcionários. A empresa foi fundada há mais de 50 anos e exporta tecnologia para quase 30 países.
- Nos consolidamos oferecendo produtos que fazem a diferença para o agricultor - diz Claudiomiro Santos, gerente comercial.
Já a Stara vende pulverizadores, plantadeiras, distribuidores de fertilizantes, reboques e plataformas de carregadeiras para 35 países. Mas é o mercado interno que absorve quase 90% da produção, em especial Paraná e Centro Oeste.
- O Rio Grande do Sul responde por menos de 15% - destaca o presidente, Gilson Trennepohl.
Com 2,5 mil funcionários, mais da metade vinda de 23 municípios da região, a Stara ampliou em 40% a capacidade produtiva da fábrica. Agora, com instalações para alcançar até R$ 1,5 bilhão de faturamento, espera a economia se ajustar para colocar a produção a pleno.
Por oportunidade engenheiro trocou Capital por Não-Me-Toque
Foto Diogo Zanatta, Especial
O engenheiro mecânico Vagner Fortuna, 29 anos, coordena a produção de uma das unidades da Jan, em Não-Me-Toque, é professor do curso técnico de mecânica no Instituto São Francisco Solano e faz mestrado na UPF. Natural de Sananduva e formado em Rio Grande, optou pelo município devido à chance de crescimento.
O primeiro contato foi em 2010, quando trabalhava em uma consultoria de Porto Alegre. Ao prestar serviços à Jan por mais de um ano, gostou da cidade e percebeu que poderia fortalecer a carreira.
- Terminei o trabalho e, depois, voltei a Não-Me-Toque contratado - lembra Fortuna, que está há quatro anos no município.
Hoje, com salário 50% maior, o engenheiro comprou recentemente um terreno para construir casa própria e, assim, sair do aluguel.
- Tenho boas perspectivas aqui. Além da carreira, tenho qualidade de vida.