A maior área plantada da história no país, que chegou a 62,5 milhões de hectares, garantiu nova supersafra de 238,4 milhões de toneladas de grãos, segundo a Conab. Não foi recorde, mas ajudou a nutrir a economia, engordar as divisas e alimentar milhões de brasileiros. No setor de carnes, enquanto os bovinos devem ter alcançado em 2018 novo recorde nas vendas externas com 1,62 milhão de toneladas exportadas – conforme a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) – a expectativa para aves e suínos é de retração na produção e nas exportações, estima a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Considerando as dificuldades, que incluem embargos, greves de caminhoneiros e encarecimento do frete com o tabelamento, o desempenho positivo do agronegócio em 2018 deve ser muito comemorado.
Produção de leite
Janeiro já começou difícil para os produtores de leite. O levantamento mais recente da Emater aponta redução de 22,6% no número de fornecedores entre 2015 e 2017, ficando em 65 mil produtores. Em 2018, mesmo sem dados consolidados, o assistente técnico regional em produção animal da Emater em Lajeado Martin Schmachtenberg estima que o abandono da atividade cresceu. Apesar da recuperação no valor do litro de leite em 2018 – 11,42%, já descontada a inflação – o preço médio ficou em R$ 1,1012, abaixo das médias de 2016 e 2013, segundo projeção do Conseleite.
Operação Trapaça
Em março, a Polícia Federal deflagrou a Operação Trapaça, desdobramento da Carne Fraca. A nova investigação apurou esquema de fraudes em laudos de exames na gigante BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão. A ação causou novo impacto nas exportações brasileiras. Uma das consequências foi o embargo à proteína animal processada no Brasil por países compradores. A União Europeia, por exemplo, suspendeu a compra de 20 frigoríficos locais. A situação impactou as vendas externas de frango. As exportações da carne devem fechar 2018 com recuo de 5,1% em volume, com 4,1 milhões de toneladas. Na carne suína, a reabertura do mercado russo deve trazer certo alívio para 2019. Mas no ano que se encerra, o resultado esperado para os suínos é de embarques de 640 mil toneladas, volume 8% inferior. Os dados são da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
Greve dos caminhoneiros
A greve dos caminhoneiros paralisou o país em maio. No Rio Grande do Sul, as perdas estimadas pela Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs) com insumos e receitas totalizaram R$ 2,9 bilhões em 10 dias, com impacto maior no setor de alimentos, especialmente em aves, suínos e lácteos. Isso sem contar os gastos para retomada das operações nas plantas e as multas por atrasos nas entregas. No campo, também não foi considerado que os negócios de grãos ficaram travados. A partir da greve, o governo editou tabela de frete no transporte rodoviário, medida que está sob discussão no Supremo Tribunal Federal (STF).
Exportações de gado vivo
O ano foi de consolidação das vendas externas de gado em pé do Estado. O recorde foi em junho, com 26.755 animais. O volume exportado via porto de Rio Grande para a Turquia – atualmente único país de destino – mais do que dobrou no ano. A crise econômica daquele país prejudicou os negócios a partir do sexto mês do ano, mas não impediu o aumento dos embarques, que passaram de 72.059 animais em 2017 para 146.363 em 2018. Agora, a notícia de que o Irã abriu suas portas para a carne brasileira e o avanço nas negociações com a Arábia Saudita trazem expectativas favoráveis para 2019.
China X Estados Unidos
A guerra comercial entre Estados Unidos e China, que se agravou em junho, impôs sobretaxa em produtos comercializados entre os dois países e parece longe do fim. Os efeitos imediatos no Brasil foram de aumento dos embarques de soja para a China – que cresceram acima de 100% em outubro, e de valorização do produto, pelo prêmio de exportação – bônus pago em razão da grande demanda. Apesar das vantagens iniciais, uma briga entre os dois gigantes pode impactar o agronegócio brasileiro a médio e longo prazos.
Censo agropecuário
O Brasil conheceu em julho os números do campo com o Censo Agropecuário do IBGE, após 11 anos sem pesquisa. No Rio Grande do Sul, o envelhecimento de quem trabalha na atividade rural chama a atenção: pessoas com mais de 65 anos representam 23,1% do total de homens e mulheres, enquanto o número de jovens caiu de 1,9%, em 2006, para 1,2%. No Estado, foram visitadas 365 mil unidades de produção ou exploração dedicadas às atividades agropecuárias, florestais e aquícolas.
Bicampeão do Freio de Ouro
O cavalo JA Libertador sagrou-se o primeiro bicampeão da história do Freio de Ouro. O final da 36ª edição ocorreu durante a Expointer, em agosto, em Esteio. O equino da raça crioula pertence a um condomínio de criadores do Paraná e de São Paulo e já havia vencido a prova em 2015.
Bolsonaro na Expointer
O então candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro foi ovacionado pelos produtores rurais durante a Expointer, em agosto, em Esteio. Reuniu-se com lideranças da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) e emendou breve discurso em palco improvisado. Prestes a assumir a Presidência, Bolsonaro tem o apoio do agronegócio, reforçado com a indicação da atual presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputada Tereza Cristina, para o Ministério da Agricultura.
Impactos do 2,4–D
Pela primeira vez, laudos oficiais confirmaram, em dezembro, resíduo do agrotóxico 2,4–D em 52 amostras coletadas em culturas como parreirais e oliveiras no Rio Grande do Sul. O herbicida é aplicado antes do plantio de soja para combater a buva, planta daninha que prejudica a produção. O tema está nas mãos do Ministério Público e há projeto de lei em discussão na Assembleia Legislativa. O campo aguarda resolução.