Há 14 anos no comando global da AGCO, uma das principais fabricantes de máquinas e equipamentos agrícolas do mundo, o alemão Martin Hichenhagen reforçou a aposta da empresa – que reúne as marcas Massey Ferguson, Valtra, GSI, Challenger e Fendt – no Brasil. Com a expectativa de retomada da economia brasileira, a companhia projeta crescer até 10% em 2018.
E para fazer frente às demandas do campo e à concorrência, investe na transformação de portfólio e na mudança da forma de produção. Nos últimos quatro anos, US$ 300 milhões foram investidos, 95% no Brasil. Também é do país que sairão dois lançamentos para 2019 – uma plantadeira e uma colheitadeira fabricadas em Ibirubá e Santa Rosa, no Rio Grande do Sul. Durante passagem pelo Brasil, o executivo conversou sobre o papel da inteligência artificial na agricultura do futuro. Confira trechos da entrevista.
A empresa dá passos na direção do uso de inteligência artificial. O senhor diria que isso representará boa parte do negócio no futuro?
Estamos usando inteligência artificial cada vez mais dentro das nossas fábricas, acreditamos que veremos mais automatização no futuro. E existem muitas soluções disponíveis. Também estimamos que teremos soluções semelhantes na produção. Então, olhamos para a companhia produzindo robôs para colher uvas. Essas são as coisas que começamos a analisar. Em menos de duas semanas, teremos reunião com engenheiros da área de inteligência e especialistas em marketing com pessoas de fora, para entender as tendências. Não estou falando como será no próximo ano, mas em 20 anos.
Será possível ter máquinas fazendo tarefas hoje desempenhadas por pessoas?
Sim. Há dois anos lançamos um robô pequeno pela Fendt (marca da AGCO), como máquina para plantio de milho, sem motorista, muito compacta. Esse robô poderá chegar ao mercado no próximo ano. Também estamos trabalhando com trator completamente elétrico, para dentro dos estábulos. Há tecnologias que poderão chegar rapidamente, mas também estou interessado em conhecer o que poderemos ver em um pouco mais à frente.
Um dos concorrentes da AGCO tem um trator autônomo, que não necessita de motorista. Pensam em algo assim?
Desenvolvemos isso antes deles. Nossos tratores trabalham de forma autônoma, não precisam mais de motorista. O que o concorrente fez foi tirar a cabine, o que os produtores não gostam muito, porque daí não podem operar a máquina. Eles querem ter uma máquina automática, mas também poder dirigi-la, quando necessário.
O senhor falou na automação nas fábricas. Uma das ferramentas em uso é o Google Glass. Quantos exemplares são?
São 250 no mundo, 30 no Brasil e 15 em Canoas (na fábrica de tratores). Começou nos EUA, porque é onde tínhamos relação mais próxima com o Google.
E é possível medir como esses equipamentos ajudam na eficiência da produção?
Sim, é possível medir a eficiência de acordo com o tempo. Mas é também mais confortável. Os trabalhadores realmente gostam de usar, porque não precisam olhar nos manuais, ir para o computador. É mais fácil.
Estamos falando sobre tecnologias importantes sendo desenvolvidas, mas muitas vezes são complexas. Como preparam os produtores para lidar com essas inovações?
A coisa mais importante que você pode fazer pelos produtores é treiná-los. Por isso, temos investido em escolas de treinamento muito modernas, mas também fazemos capacitação remota, digital. Esse é o futuro.
Há busca dos produtores por tecnologias inovadoras?
Os mais jovens, com certeza. Entre os mais velhos, depende. Aqueles que entendem que isso os ajuda a serem mais bem-sucedidos, têm interesse. Sempre existem, porém, pessoas que têm mais dificuldade para se adaptar.
A AGCO tem meta de lançar 159 novos produtos em três anos. Será atingida? E como ajuda a ampliar as vendas?
Ajuda porque a maioria dos produtos são novos e oferecem vantagens que podem ser verificadas. Por isso, acreditamos que a estratégia será bem-sucedida.