O termo vem do francês e se refere a "sexo lésbico", mas com o tempo a prática foi ganhando terreno e pode ser apreciada por qualquer um, tanto casais héteros quanto gays: "gouinage" é essencialmente sexo sem penetração, mas com muita excitação e orgasmo. A prática consiste em buscar prazer estimulando todos os sentidos, erotizando o corpo por inteiro, explica a psicóloga e sexóloga Lucia Pesca.
Embora o termo esteja se popularizando mais recentemente, na terapia sexual a técnica é utilizada desde sempre, na ideia de desvincular sexo e prazer de penetração.
— A característica principal do gouinage é explorar o sentidos em prol do empoderamento e da emancipação do prazer feminino. É a busca por prazer deslocando do foco masculino, que é a penetração — afirma.
O sexo heterossexual costuma ser baseado na penetração, algo que frustra muitas mulheres já que sabe-se que a maioria delas não consegue chegar ao orgasmo apenas com esse estímulo. Para elas, explica a especialista, sexo vai muito mais além, e é essa amplitude de possibilidades de excitação que é atendida no gouinage.
— Pesquisas há muitos anos vêm mostrando que o foco do prazer da mulher não está na penetração. Há ponto "G, Y, D", porém a mulher não necessariamente sente prazer ali. Estima-se que só 18% a 20% das mulheres têm prazer durante a penetração, e mesmo as que tem, o fazem em posições que internamente mexem com toda a enervação do clitóris. Retirando o foco da penetração se explora e valoriza zonas erógenas da mulher que são extremamente sensíveis — afirma Lucia.
Não há como fazer um guia dos "botões" a serem apertados para ter prazer no gouinage, pois cada indivíduo se excita de uma forma específica. Mas a especialista garante que colocando muita entrega, confiança e 100% de atenção ao momento de intimidade que está se desenrolando, todos os sentidos se voltam para a região que está sendo estimulada e, assim, homens e mulheres conseguem sentir prazer e até chegar ao orgasmo de formas inesperadas.
— Não adianta dizer que a zona mais importante vai ser o clitóris, os grandes lábios, o bico dos seios, o pescoço, porque para cada pessoa é totalmente diferente. Vale estimular o olfato com cheiros, fazer massagem, estimular o corpo com brinquedos sexuais, usar o paladar e os prazeres da alimentação. Muitas vezes, o estímulo não precisa nem ser tátil, já que, quando a pessoa consegue dar sua atenção plena ao momento, coisas como um filme, uma música, uma lembrança ou um estímulo auditivo já fazem com que ela tenha prazer e até chegue no orgasmo — explica Lucia.
Gouinage, masturbação ou preliminares? Entenda a diferença
Não coloque tudo no mesmo balaio, porque as práticas são diferentes.
Na masturbação, a ideia geralmente é friccionar os genitais, seus ou da sua parceria, para chegar ao orgasmo. Por outro lado, o gouinage é mais abrangente, utiliza o estímulo de diversas zonas erógenas do corpo e apela a todos os sentidos por meio de toques, sons, imagens, cheiros e gostos. Uma massagem com óleos cheirosos ou uma vela aromática podem contribuir para a excitação.
Já nas preliminares, geralmente, como o próprio nome já diz, as ações são feitas antecipando e preparando o corpo para o "evento principal" que virá depois, que seria a penetração. No gouinage, os estímulos do corpo todo já são considerados como sexo.
— Nas preliminares, muitas vezes mesmo fazendo e recebendo carícias, a pessoa fica um pouco tensa porque sabe que vai acontecer, dali alguns instantes, algo em que ela vai precisar mostrar sucesso, já que a penetração está muito ligada a um bom desempenho. No gouinage, a mulher não tem a ansiedade de ter que estar lubrificada, excitada, ter que ter um orgasmo, e o homem não tem a pressão de ter que ter ereção, ejaculação — pontua a sexóloga.