De quantas formas é possível para uma mulher chegar ao orgasmo? A resposta é complexa e o contexto vai muito além do ato sexual. Segundo a psicóloga e sexóloga Lúcia Pesca, o clímax pode acontecer de maneiras diversas, a partir de diferentes estímulos.
Por esta razão, não há como afirmar que existe um número exato de meios para "chegar lá". Alguns deles, no entanto, são mais comuns e, para desvendar, convidamos a especialista a falar um pouco sobre como explorá-los.
Vaginal
Descrito por Freud como o "maduro", por muito tempo, ele foi considerado o único tipo "válido" de prazer feminino. Como a penetração é o principal estímulo masculino, ela foi (e às vezes ainda é) vista como central na cena sexual. Claro que pode ser, se assim os envolvidos desejarem. Mas, como sabemos hoje, o número de mulheres que conseguem atingir o ápice somente pela penetração é limitado.
Sobre o orgasmo vaginal em si, diferentes características foram descobertas pela ciência nas últimas décadas. Ganharam repercussão os pontos mais sensíveis ao prazer, como o famoso ponto G, que seria na parede anterior da vagina e equivaleria a um estímulo indireto, como se fosse por trás do corpo do clitóris. Tempos depois, colocou-se em pauta a existência do chamado ponto A, mais ao fundo da vagina.
Além deles, também ficou conhecido o ponto B, na entrada da vagina, por onde é liberado o início da lubrificação natural da mulher.
Apesar de existirem pesquisas sobre o assunto, não há uma comprovação fisiológica de que esses pontos de fato existam. Também é preciso ser levada em consideração a diferença anatômica: cada pessoa tem sensibilidade em áreas distintas.
Clitoriano
É o verdadeiro protagonista do orgasmo feminino. E, por incrível que pareça, os estudos científicos sobre ele são recentes e datam da década de 1960. Foi a partir dos relatos de mulheres que diziam sentir mais prazer no "roçar" do que na penetração em si que os pesquisadores perceberam a importância do órgão, que conta com cerca de oito mil feixes nervosos em toda sua extensão.
— Foram pesquisar onde estava a maior intensidade de prazer e acharam o clitóris — relata a sexóloga.
É tão potente que, exemplifica Lúcia, existem tribos na África que o mutilam das crianças do sexo feminino ao nascer como uma forma de tirar o poder das mulheres.
Anal
Um tabu quando o assunto é sexualidade, o prazer do sexo anal também não encontra comprovação científica fisiológica. Mas é um fato que muitas mulheres chegam ao orgasmo dessa forma. Sabe-se, entretanto, que o local conta com uma extensão de enervações, que podem explicar a sensação.
Também existem alguns fatores comportamentais que podem estimular o prazer feminino na região. Há mulheres, por exemplo, que gostam de sentir dor na relação sexual (vale esclarecer, conforme a sexóloga, que a dor acontece só no primeiro terço da entrada do ânus). Além disso, a fantasia de sentir-se "dominada" pelo parceiro pode estimular a excitação.
— No homem, temos a comprovação de que, estimulando a próstata através do ânus, ele vai ter mais orgasmos. Nas mulheres, não. Mas muitas têm preferido o sexo anal, principalmente, as que sentem contrações na vagina — afirma Lúcia.
Estímulo do mamilo
Algumas mulheres também chegam ao orgasmo somente com estímulo no mamilo.
— Não é no seio, é no mamilo — reforça a sexóloga.
Além do toque
Muitas mulheres conseguem gozar sem contato físico, a partir de outros estímulos sensoriais. O mais comum é o auditivo, e vem daí o sucesso dos podcasts eróticos.
Nesse sentido, a sexóloga também destaca os relatos de mulheres que ficam mais excitadas ao se ouvirem falando durante o sexo e, assim, chegam mais rapidamente ao orgasmo.
— O que isso quer dizer? Que ela está se permitindo, está sendo a protagonista. Fala o que está com vontade e o que está a excitando — frisa.
A visão também pode ser uma boa aliada do prazer feminino. Ainda que não tenha um apelo tão forte para as mulheres, elas vêm explorando mais a possibilidade e, aliada à fantasia, a visão pode, sim, levar ao orgasmo.
Até mesmo o olfato pode ser um estimulante sexual.
— Esse é mais difícil de ter pesquisa científica. Mas tenho relatos — garante Lúcia.
Porém, mais importante do que qualquer fator externo é o processo mental de cada mulher.
— Na terapia sexual, é isso o que mais trabalho. Entender o seu corpo, não só a parte genital, mas a sensibilidade. Se permitir pensar, antes de qualquer coisa, é o mais importante. A mulher se compara muito com o homem, em relação ao que sente, mas ela pode trabalhar para ter os mesmos estímulos com fantasias e histórias em que seja protagonista. A partir desse tipo de exercício, elas começam a ver que o corpo reage a todas as sensações — relata a sexóloga.
Resumindo, as possibilidades de orgasmo são infinitas. Tem quem goze só com o pensamento, dormindo, na hora do beijo e até mesmo fazendo exercício físico. Não existe uma fórmula e as pesquisas sobre o assunto ainda têm muito o que explorar.
— Temos poucos achados científicos, principalmente na área da sexualidade feminina — pontua Lúcia.
É bom, mas não é tudo
O que importa para a satisfação é o durante, e não o final. Essa é a premissa da "democracia do orgasmo" defendida pela sexóloga. Resumir a relação sexual ao orgasmo não é produtivo e, mais do que isso, dificulta o prazer.
— Se ficar focada no orgasmo, pensando "não estou conseguindo", "que saco", não vai aproveitar a transa e tampouco ter orgasmo. Trabalhamos com o deixar rolar e aproveitar o momento. Esse é o jeito de conseguir chegar ao orgasmo.
E, para concluir, a sexóloga lembra: nem sempre as relações vão acabar em orgasmo. E está absolutamente tudo certo nisso.
* Produção: Luísa Tessuto