É fato que o desejo sexual costuma ser intenso na fase inicial do relacionamento. Mas, com o tempo, a vontade e a frequência tendem a diminuir. Ainda mais quando há questões como filhos, trabalho, estresse e cansaço no dia a dia. Por isso, alguns casais têm encontrado alternativas para não deixar o sexo em segundo plano. Uma delas é marcar dia e horário para transar.
O chamado "sexo planejado" é uma estratégia cada vez mais utilizada, principalmente em relacionamentos longos. A ginecologista e sexóloga Sandra Scalco explica que o planejamento é uma boa pedida para casais que têm filhos, que trabalham muito, que não se veem com tanta frequência ou ainda quando alguma pessoa não está satisfeita na relação.
— Pode ser uma opção para contemplar o ritmo, para ter uma frequência sexual em que ambas as partes se sentem contempladas no que tange à questão do prazer, da satisfação. É ter qualidade de vida — afirma.
A terapeuta sexual aponta que é importante que as relações sexuais façam parte da vida do casal e entende que o desacordo em relação à frequência pode prejudicar o relacionamento.
— Eu uso essa frase: quanto menos se faz, menos se quer. A ideia é ter um combinado para que se mantenha uma frequência (sexual) que seja boa para os dois. Se deixar passar muito tempo, significa que (os dois) estão priorizando outras coisas e o casal pode ficar desconectado.
Sexo planejado pode ser mais prazeroso
Embora exista uma crença de que a espontaneidade seja ideal nas relações sexuais, uma pesquisa divulgada pela BBC News no início de maio aponta que o sexo espontâneo não é necessariamente o mais prazeroso.
O estudo realizado pelo grupo de pesquisa do Laboratório de Saúde Sexual e Relacionamentos da Universidade de York, no Canadá, acompanhou as experiências sexuais dos casais ao longo de três semanas. Conforme a publicação, não foram encontradas diferenças na satisfação sexual, mesmo entre quem acreditava que o sexo espontâneo seria o modelo ideal.
Os participantes da pesquisa afirmaram que a espontaneidade aumenta a excitação sexual, a paixão, o significado e o desejo. Porém, também foi mencionado que o planejamento pode criar antecipação e desejo pelo sexo. Além disso, alguns disseram que, quando não havia planejamento, muitas vezes eles não tinham tempo suficiente para as preliminares, para deixar de lado as distrações mentais ou para garantir a privacidade.
A ginecologista e sexóloga Sandra Scalco entende que o sexo espontâneo para casais muito atarefados pode não ser tão prazeroso quanto o planejado. Isso porque, além das demandas diárias espaçarem as relações sexuais, quando ocorrer o desejo, aquele pode não ser o melhor momento e as condições podem afetar o prazer e a satisfação.
Planejado não quer dizer mecânico
O sexo planejado não deve ser visto como mecânico, frisa a especialista. Até porque o objetivo da técnica é justamente criar um ambiente para que a relação aconteça, com desejo, tempo, privacidade e, assim, criar uma frequência que seja agradável ao par.
— Para que o sexo aconteça, tem que ter disponibilidade, cumplicidade, intimidade emocional. Então tem que criar um ambiente favorável para que isso aconteça — aponta Sandra.
A sexóloga deixa claro que planejar, em conjunto, é essencial para a relação. Geralmente, os casais deixam "o dia D" para os finais de semana ou dias de folga, momentos em que as pessoas estão mais relaxadas e têm mais tempo livre para entrar no clima.
— É importante criar uma ambientação, talvez sair pra namorar, se estimular bastante durante a semana, para chegar no final de semana com um pouco mais de vontade — indica.
Pelo que tem visto no consultório, Sandra afirma que a organização e o planejamento para transar podem trazer tanto ou mais satisfação para os pares.
— A programação propicia preliminares mais efetivas e, por consequência, mais excitação, satisfação e prazer — pondera.
Início do planejamento
Conforme a sexóloga, uma das queixas mais comuns que fazem com que os casais decidam por essa técnica é a falta de sincronia: enquanto um parceiro gostaria de transar três vezes na semana, por exemplo, outro prefere só uma. Em outros casos clássicos, um do par reclama da falta de iniciativa do outro.
Em qualquer uma das situações, o diálogo é o melhor caminho para iniciar uma negociação sobre o sexo planejado. De acordo com a especialista, as pessoas devem se autorizar dizer que não gostam de transar durante a semana, ou que gostariam de ter relações sexuais mais à noite, ou ainda que preferem sair, fazer algo diferente, para estimular a relação.
— Se autorizar a falar como gostaria, como prefere, entendendo sempre o lado do outro. E também se dar o direito de entrar em uma relação sexual com tempo, para não fazer correndo por obrigação. Além de ter prazer — ressalta.
O sexo planejado é realmente um compromisso: além da ambientação e da organização, é importante que o espontâneo seja deixado de lado por um tempo. A sexóloga esclarece que, se os dois entraram em um acordo de que só transariam aos finais de semana, o sexo não deve acontecer durante a semana, por exemplo.
Como saber se está dando certo
A avaliação deve ser feita caso a caso, de acordo com as queixas de cada um, que podem ser tratadas em terapia sexual. O contexto como um todo deve ser analisado para entender qual combinação é melhor para cada um. Sandra Scalco aponta que o sucesso ou não do sexo planejado vai ser sentido pelo próprio casal.
— Se os dois estão satisfeitos com a estratégia, se estão felizes, se têm prazer — afirma.
A compreensão, o diálogo e o esforço de cada um para seguir a técnica podem trazer resultados. A sexóloga confirma que, a longo prazo, o desejo sexual do casal pode aumentar. Além disso, em uma vida sexual plena e sem queixas, o ideal seria aliar o espontâneo com o planejado, opina a sexóloga.
— Eu considero que é o perfeito. Mas, se o espontâneo não está acontecendo e há um prejuízo, porque não tem ambiente, não tem priorização, a gente conta com o programado. E sem perda no sentido de qualidade — finaliza.
*Produção: Jovana Dullius