Quem gosta de acompanhar conteúdos relacionados a autocuidado e tendências de moda no TikTok, no Instagram ou até mesmo no X (antigo Twitter) já deve ter percebido que os termos "pilates princes" ou "pink pilates princess" estão em alta novamente.
As expressões, que podem ser traduzidas como "princesa do pilates" ou "princesa rosa do pilates", ganharam força na internet e na mídia em 2022 – especialmente por meio de celebridades, como a modelo Hailey Bieber – e têm relação com uma estética e um estilo de vida: nos vídeos que acompanham a onda, é possível observar garotas vestindo conjuntos de top e legging em tons pastel ou na cor rosa-bebê, malhando em aparelhos de pilates e se exercitando nos tapetes pequenos, preparando receitas saudáveis e cuidando da pele.
— Hoje há um grande espaço nas redes sociais para conteúdos que falam sobre os benefícios da prática de exercícios físicos e boa alimentação. A trend do pilates princess pega carona nesta realidade, o que, por um lado, é bom, pois ajuda a difundir o pilates, principalmente, entre mulheres jovens, uma prática física com resultados incríveis tanto para o corpo quanto para a mente — afirma a socióloga e psicanalista Ingrid Gerolimich.
A filosofia da princesa do pilates tem a ver com uma jornada de bem-estar, que abrange vários aspectos da vida. Em termos de saúde, é sobre se alimentar de forma saudável, beber muita água – especialmente naqueles grandes copos de aço com canudinho que se popularizaram nos últimos anos –, meditar para cuidar da saúde mental e, claro, fazer pilates.
O intuito é se sentir bem, mas também parecer bela, e é por isso que a moda e a estética são aspectos centrais dessa tendência. O corpo desejado é aquele que tem músculos alongados, ao invés de volumosos, uma cintura fina e um abdômen marcadinho. A moda é a que incorpora elementos das bailarinas, como sapatilhas, tons rosa-bebê e também a feminilidade do estilo coquette – com lacinhos e rendas. O look valoriza o conforto – mas sem deixar de ser sexy – e muitas vezes se completa com algum casaquinho justinho ou jaqueta oversized e polainas.
Nas redes sociais, há relatos de mulheres de diferentes idades que se inspiraram nessa moda para melhorar seus hábitos. No entanto, a socióloga alerta que a tendência também reforça um estereótipo feminino:
— A questão é que a tendência “Pilates Princess” não exatamente foca em comunicar os benefícios do pilates, a sua comunicação se dá com muito mais força através da imposição de uma estética que acaba por reforçar estereótipos de gênero, quando investe em elementos que apresentam um ideal de mulher hiperfeminina, romântica e até mesmo infantilizada, que abusa de roupas de cor rosa, estilo princesa, maquiagens, cremes, unhas cintilantes e o que mais for considerado símbolo de feminilidade, como se atender a estas demandas, fizesse da mulher mais mulher.
Outra problemática levantada tanto por internautas quanto por pesquisadores em sociologia é que se trata de uma tendência cara. Nas redes sociais, há vídeos explicando como seguir a tendência se a pessoa tiver um orçamento apertado. Para ter o conjuntinho rosa-bebê, as jaquetas, o tapete para a prática, a garrafa, e para financiar o próprio estilo de vida, é preciso um investimento de tempo e dinheiro que muitas pessoas não têm condições de oferecer.
— Ao invés de colocar a prática do pilates no centro da proposta, foca-se na publicização de todo tipo de produto para venda, transformando aquilo que poderia ser benéfico para a saúde das mulheres em mero nicho de consumo para a já tão lucrativa indústria da beleza. É um estilo de vida incompatível com a da maioria das mulheres — define Ingrid.