O lifestyle queridinho das blogueiras parece estar se esgotando. Sem viagens, passeios, idas a restaurantes e lojas, ocorreu um esvaziamento de assuntos que giravam em torno do consumo. Segundo uma pesquisa deste ano da Youpix em parceria com a Brunch, quase 70% dos criadores consultados sofreram adiamentos dos trabalhos que ocorreriam nos primeiros meses da pandemia. E mais: 62% afirmaram que planejavam mudar o foco de conteúdo. Ou seja: reinvenção virou palavra de ordem para se fazer relevante. Grandes influencers passaram a produzir conteúdos em casa, tentando uma abordagem menos ostensiva e mais reflexiva. Outros apostaram em novos jeitos de se comunicar: um exemplo é Silvia Braz, focada em moda e lifestyle, que passou a fazer entrevistas com personagens fora de seu nicho, como Luiza Trajano, da Magazine Luiza, e Bernardinho, treinador de vôlei.
– O conteúdo informativo e consciente ficou ainda mais em evidência, as pessoas passaram a olhar para a ostentação como algo sem espaço – aponta Luísa Amalfi, head de campanhas de marketing de influência na Airfluencers.
Responsabilidade X cancelamento
Um dos casos emblemáticos da pandemia foi o "cancelamento" de Gabriela Pugliesi no Instagram. Depois de postar vídeos em uma festa particular, a influenciadora foi cobrada por uma postura mais responsável. Ficou fora das redes sociais por algum tempo e voltou reforçando as desculpas pelo ocorrido. O famoso "passar pano" para atitude de celebridades da internet realmente não terá mais espaço daqui para frente, avalia Luísa, da Airfluencers:
– A pandemia acelerou o processo de não tolerar um conteúdo que não tenha compromisso social. Cada vez mais vão existir fiscais para o influenciador se posicionar de forma consciente. Quando você consome o conteúdo de alguém, passa a considerar o que ele fala. Se ele falhar, a audiência vai reivindicar.
E essa postura de colocar as blogueiras na parede tem forte influência da Geração Z.
– Eles têm naturalidade e, por isso, cobram posturas. A bandeira dos Millennials foi globalização, integração, sustentabilidade. A grande bandeira da Geração Z é a equidade – afirma Henrique Diaz, da BOX1824.
O cancelamento capitaneado pelo público, o período de introspecção da influenciadora e a volta da blogueira às redes sociais após a reflexão e o arrependimento devem seguir como uma fórmula cada vez mais comum, embora não necessariamente eficaz, avalia a professora e pesquisadora Adriana Amaral, da Unisinos:
– A Gabriela Pugliesi, por exemplo, voltou ao Instagram com uma narrativa da desculpa, e esse storytelling já tem até uma estética. As pessoas voltam de branco, com cabelo por fazer, com uma maquiagem mais leve. Tem uma narrativa por trás disso.