As pessoas devem estar muito felizes hoje, porque a Gabriela Pugliesi está triste. A Gabriela Pugliesi, até já escrevi sobre ela, a Gabriela Pugliesi exerce uma profissão designada como influencer. Trata-se de uma loirinha de olhos verdes e corpo longilíneo eternamente dourado, que vive de publicar vídeos nas redes - esse é o trabalho dela. Ela posta vídeos fazendo ginástica, preparando comidas com vegetais, passeando com o cachorro, abraçando-se ao marido musculoso. Está sempre na praia, ou em sua agradável casa dentro de um condomínio elegante, ou em alguma festa.
Foi exatamente por causa desse último item, uma festa, que o fel das redes sociais se derramou sobre seus ombros bronzeados. Pugliesi, que, aliás, já pegou a covid-19, promoveu um convescote em casa nesses dias de isolamento e publicou os vídeos da comemoração nas redes.
Foi um erro, claro, mas, nossa! Pugli foi esfolada virtualmente como se tivesse esquartejado criancinhas. Foi um temporal de críticas, censuras e admoestações, três substantivos que significam o mesmo: eles encheram a Gabriela Pugliesi de porrada. Verbal, certo, mas ainda assim porrada. Algumas "análises" comemoravam que, graças à pandemia, o mundo agora não dará mais valor a falsidades como as que ela promove e tudo mais. Até uma vizinha da Pugli publicou um post contando que ela joga pingue-pongue à meia-noite, entre outras selvagerias.
Acuada, Pugli postou um vídeo de arrependimento, implorando por perdão. Não adiantou. Os internautas latiram que sua contrição era hipócrita, seus patrocinadores a abandonaram, seus seguidores se tornaram perseguidores, até que ela, definitivamente derrotada, cancelou a conta no Instagram, o que é grave para quem vive disso.
Não sei se a Pugliesi é mesmo inconsequente, irresponsável ou chata, como dizem. O que sei é que sua queda pública provocou espasmos de satisfação no povo. Cada reprimenda publicada não era uma reprimenda publicada, era um orgasmo virtual.
Pudera: Pugliesi é bonita, rica, saudável e seu trabalho é mostrar nas redes como desfrutar a boa vida. Ou seja: uma pessoa feliz. Dá uma raiva! Que delícia deve ter sido aproveitar essa oportunidade para espezinhá-la.
Li, em um site, um texto em que uma colunista chamada Nina Lemos celebra o malogro da Pugliesi, prevendo, com indisfarçável prazer, que tudo vai mudar para os influencers. Ela encerra o artigo assim:
"É o fim do mundo tal qual o conhecíamos. E, no caso dos influencers, talvez isso não seja ruim. Você já não estava cansada de ver gente vivendo uma vida perfeita, com viagens que você nunca poderá fazer e tirando selfies de rostinho colado em festas para as quais você nunca será convidada?"
Você conseguiu ver a amargura pingando de cada vírgula, o despeito pendurado nas vogais? E é exatamente isso. A colunista está certa. Você nem precisa ser miserável, basta ser insignificante para que o sucesso alheio lhe faça mal.