Sabe aquela influenciadora que você se identifica porque já criou uma conexão muito além dos likes nas fotos? Ela é "gente como a gente", não tem milhões de seguidoras, fala sobre um assunto bacana, responde aos comentários nas postagens, impacta nas suas decisões no dia a dia – da marca em que vale a pena investir até o livro de cabeceira – e se tornou ainda mais indispensável no confinamento. As redes sociais no pós-pandemia serão dominadas por blogueiras com esse perfil: autênticas e dispostas a se conectarem com a audiência, a levantarem bandeiras e a serem (muito) coerentes com o que pregam. Essas mulheres mostram suas vulnerabilidades e produzem conteúdo para conscientização, fugindo da corrida por curtidas vazias.
O cenário atípico de 2020 fortaleceu ainda mais as nano e microinfluenciadoras no mundo digital, grupo que já vinha fazendo barulho desde antes do coronavírus. Elas são capazes de construir uma relação única com suas fãs e gerar engajamento, por isso, devem se tornar as queridinhas de público e marcas daqui para frente. E tudo ficou mais evidente porque a pandemia mudou as regras do jogo. Hiperconectadas, as pessoas buscaram referências que fizessem sentido neste momento de reflexão sobre o "novo normal", o que impulsionou os "pequenos" – mas que são autoridades em seus nichos. Algumas blogueiras com milhares de seguidores viram seu conteúdo lifestyle, muitas vezes beirando à ostentação, desaparecer. Isso tudo acelerou mudanças que já se avizinhavam, explica Henrique Diaz, head de tendências da BOX1824, referência em pesquisas de consumo, comportamento e inovação:
– As audiências buscaram portos seguros. Existem criadores que começaram a ter mais dificuldade de conexão massiva, com produção de conteúdo, e quem começou a ganhar destaque foram os com audiências mais íntimas. São aqueles que criam uma live e realmente a fanbase está lá.
Além de Henrique, a Revista Donna consultou um time de experts na área digital para descobrir quais os estilos de perfis que vão se multiplicar na sua timeline nos próximos meses. Das temáticas que mais prometem bombar à responsabilidade cada vez maior dessas influenciadoras, fique de olho nos caminhos que prometem se desenhar.
A vez das pequenas
Talvez a ideia que vem à mente ao pensar em uma influenciadora seja da mulher pop com milhões de seguidoras. É hora de rever esse conceito: as nano e microinfluencers estão em alta. Claro que depende de cada temática, mas, em média, uma nanoinfluenciadora tem cerca de 10 mil fãs, enquanto a micro chega tranquilamente aos 10, mas não passa de 100 mil.
– Não é gente que apareceu do nada. Algumas já estavam aí com seus nichos. É menos a celebridade e mais a verdade. Sem recebidos e viagens, o que sobra? – questiona Rafaela Lotto, head de planejamento e sócia da Youpix, uma das maiores consultoras de negócios para influência e entretenimento digital da América Latina.
Uma pesquisa do ano passado feita pela BOX1824 em parceria com a Youpix apontou a tendência de valorização desses blogueiros de menor expressão, sem levar em conta a pandemia que estava por vir. O contexto criado pela covid-19 acelerou o estreitamento de laços entre público e pequenos criadores de conteúdo – a influência e o engajamento tão almejados estão muito ligados a essa relação, como explica Henrique Diaz, da BOX1824:
– Quem segue a Anitta está ali porque ela é um fenômeno pop. A Anitta dificilmente consegue criar influência para todos, o que ela consegue é se comunicar com milhões de pessoas. Mas quem tem uma audiência menor consegue falar fortemente de um para um.
Temáticas em alta
Assuntos que já chamavam atenção foram impulsionados na pandemia e prometem seguir fortes. Body positive, bem-estar, saúde mental, luta antirracista, diversidade, inclusão, consumo consciente, uma nova relação com a casa: perfis que abraçam causas, bandeiras e transformações pessoais se fortaleceram. Nanos e micros que já abordavam esses segmentos ganham visibilidade, enquanto as próprias macroinfluenciadoras tentam virar a chave para não perder a relevância.
– A relação dentro de casa, como a decoração, e da própria relação com o corpo, cresceram na pandemia, mas longe de ser só isso: questões políticas, no sentido político identitário, racismo, gênero, foram uma tendência que se acelerou. Muitos que não falavam sobre isso se viram precisando falar. Essas temáticas já vinham explodindo – destaca a pesquisadora Adriana Amaral, professora da Escola da Indústria Criativa da Unisinos e da Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da universidade.