Falar sobre a saúde íntima feminina, infelizmente, ainda é tabu para muita gente. Como consequência, alguns hábitos que podem fazer mal acabam se perpetuando entre as mulheres. Como, por exemplo, lavar a calcinha no banho e deixar secando no box ou usar absorvente diário.
Pensando nisso, conversamos com as ginecologistas Ana Carolina Lúcio Pereira e Simone Vaccaro para esclarecer por que esses hábitos podem ser prejudiciais às mulheres. Confira:
Lavar a calcinha no banho e deixar secar no box
Lavar a calcinha no banho não tem problema nenhum, garante Simone, principalmente se for com sabonete neutro ou íntimo, porque os outros podem causar alergias. Uma dica: a água quente, inclusive, limpa melhor.
Mas não pode, de jeito nenhum, deixar a peça secando no banheiro, que é um ambiente úmido e abafado, o que favorece a proliferação de microrganismos.
— O ideal é colocá-las para secar em ambiente arejado. Vale a pena também passar a roupa íntima antes do uso, já que o calor do ferro ajuda na eliminação das bactérias e fungos que podem estar presentes no tecido — aconselha Ana Carolina.
Usar absorvente diário
Os absorventes devem ser usados para conter secreções e corrimentos abundantes, como a menstruação e a perda urinária. Porém, o item deve ficar restrito a esses casos, pois o seu uso abafa a região, favorecendo a proliferação de fungos e bactérias e, consequentemente, o surgimento de infecções.
— Em situações em que não é possível evitar o uso diário de absorvente, como nos casos de mulheres com incontinência urinária, o ideal é optar por modelos respiráveis que não possuem película plástica e trocá-los a cada quatro horas — afirma Ana Carolina.
Simone ainda acrescenta que existem opções de absorventes de papel, que são finos e permitem a ventilação e a transpiração correta da região. Esse tipo de protetor não deve ser usado no período menstrual, pois não tem grande absorção e deixa o sangue vazar na roupa. Também precisa ser trocado com frequência.
Usar calcinhas sintéticas
A escolha da calcinha é fundamental para garantir uma região íntima saudável. E o tecido sintético, geralmente o mais barato, não é a melhor opção, pois é o que mais colabora para o surgimento de alergias, garante Simone.
— Esse tipo de tecido pode ser prejudicial para a genitália feminina pois abafa a região, aumentando a transpiração e a umidade do local, o que, além de causar desconforto, favorece a proliferação de microrganismos responsáveis pelas infecções vaginais — explica Ana Carolina.
Por isso, dê preferência às calcinhas de algodão, que permitem que a região íntima respire adequadamente. Simone ainda dá a dica: o ideal é dormir sem calcinha.
Higienizar a região íntima incorretamente
É importante lembrar que higiene íntima não é interna. A limpeza deve ser feita na parte da vulva, o órgão externo, e não na vagina, que é o canal interno.
— A higiene deve ser feita nos grandes e pequenos lábios, clitóris, capuz do clitóris, períneo e região anal — afirma Simone.
Na hora do banho, evite o uso de buchas, cotonetes ou outros materiais que podem provocar ferimentos na pele dessa região.
— Utilize apenas os dedos, que oferecem maior mobilidade e permitem que a remoção de sujidades seja feita de forma adequada e segura — acrescenta Ana Carolina.
Lavar a região íntima com muita frequência
O ideal é higienizar a vulva diariamente, mas repetir o processo de limpeza em excesso ao longo do dia pode evitar o ressecamento da região.
— Porém, em alguns casos, a higiene da região íntima pode ser mais frequente, como após relações sexuais, para eliminar resquícios de lubrificante e evitar o surgimento de infeções urinárias. E também durante o período menstrual, pois o sangue é um meio de cultura de bactérias, além de alterar o pH da região, facilitando a instalação de infecções — diz Ana Carolina.
Usar duchas, lenços umedecidos e sabonetes inadequados
O uso de duchas vaginais e de sabonetes bactericidas não é recomendado, pois altera a barreira de proteção da região, lembra Ana Carolina:
— Esses produtos podem eliminar microrganismos presentes na região que são responsáveis pela manutenção da acidez do pH da vulva, que é a forma de proteção da região contra bactérias e outros agentes patogênicos causadores de doenças.
O ideal então é optar por sabonetes neutros, sem cor, sem perfume e ginecologicamente testados, que vão manter o pH da região equilibrado.
— Esses sabonetes muito alcalinos, que são cheirosos, danificam e não são os ideais. Pode usar no resto do corpo e, na região íntima, usar um sabonete íntimo — recomenda Simone. — Como o pH dentro da vagina é ácido, o ideal é optar por sabonetes íntimos que contenham ácido lático na composição.
A médica lembra que o ideal é optar pelas versões líquidas, e não em barra - que ficam expostos a bactérias que podem estar presentes no ar.
Já o lenço umedecido deve apenas ser usado para fazer a higienização da região anal, pois limpa melhor os resíduos do que o papel higiênico - que também deve ser sem perfume. Opte por aqueles para bebês recém-nascidos ou mesmo os ginecológicos, específicos para mulheres.
Usar roupas muito apertadas
Para Simone, vestir roupas muito apertadas é um dos hábitos que mais prejudica a saúde íntima, por influenciar na circulação e na transpiração da região íntima.
— Às vezes, no consultório, a paciente tira a roupa e está toda vermelha, machucada. Os tecidos não são adequados e propiciam infecções secundárias — explica.
Essa proliferação de fungos e bactérias pode causar infecções vaginais, como a candidíase. Por isso, opte por roupas que deixem a vulva respirar.
— Evite usar calças muito apertadas com frequência e dê preferência aos tecidos mais leves e que permitem que o ar circule adequadamente. Se não for possível durante o dia, uma boa solução é usar peças mais leves na hora de dormir. Por exemplo, pijamas largos de algodão são uma boa substituição para o moletom — indica Ana Carolina.