Stefanie Cirne, especial
Tanto quanto lavar as mãos e escovar os dentes, cuidar da higiene íntima é um hábito essencial para a saúde do organismo. Entre as mulheres, a atenção costuma ser redobrada – o que também pode ocasionar excessos e outros tipos de problemas.
Consultamos dois o ginecologista e obstetra Élvio Floresti Junior e Janete Vettorazzi, professora da Faculdade de Medicina da UFRGS e profissional do serviço médico de ginecologia e obstetrícia do Hospital Moinhos de Vento, para tirar dúvidas sobre mitos e verdades. Confira:
A alimentação influencia na saúde da região íntima?
Verdade. Tal como a flora intestinal, a flora vaginal é composta por milhões de bactérias, lactobacilos e outros agentes que protegem a região e mantêm seu funcionamento.
– Se a dieta não for balanceada e a mulher manifestar outras infecções (como aquelas tratadas com antibióticos e corticoides), o equilíbrio desse microambiente pode ser alterado – explica Janete Vettorazzi, especialista do serviço médico de ginecologia e obstetrícia do Hospital Moinhos de Vento.
A dica é colorir o prato com frutas, verduras e alimentos integrais, além de praticar atividades físicas e não ter vícios.
É normal a mulher ter algum tipo de corrimento?
Verdade. A vagina libera secreções naturalmente por conta de seu mecanismo de autolimpeza e proteção. Nas mulheres que não usam contraceptivos hormonais (como a pílula), a secreção sofre variações durante o ciclo menstrual, sendo mais ou menos intensa ao longo do mês. Gestantes também podem secretar mais fluidos devido à flutuação hormonal durante a gravidez.
– A maioria das mulheres não fica com a calcinha seca o dia inteiro – garante Janete. – Em geral, a secreção vaginal saudável é clara, inodora e não implica coceira na região vulvar (parte externa da vagina).
Na dúvida sobre o que a secreção pode significar, deve-se consultar um especialista.
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A higiene íntima feminina exige o uso de produtos especiais?
Mito. De modo geral, água e sabonete neutro (líquido ou em barra) são suficientes para higienizar a área íntima e manter o equilíbrio do pH vaginal.
– A região íntima possui um pH ácido, diferente do pH alcalino geralmente encontrado em sabonetes comuns – explica o ginecologista e obstetra Élvio Floresti Junior.
Embora o uso de sabonetes íntimos não seja proibido, os especialistas afirmam que estes produtos não fazem uma diferença significativa na higienização. Sabonetes muito perfumados e desodorantes íntimos podem causar alergias e, por precaução, devem ser evitados.
Duchas higiênicas contribuem para a higiene íntima?
Mito. Higiene íntima não é sinônimo de higiene interna: tanto a aplicação do sabonete como o enxágue devem ser feitos apenas na vulva e entre os pequenos lábios.
– A vagina possui uma flora natural com equilíbrio próprio. Fazer duchas ou adicionar substâncias pode alterar esse ecossistema e predispor a ocorrência de infecções – reitera Janete.
O mecanismo autolimpante da vagina também dispensa a higienização frequente: segundo Janete, lavar a área uma ou duas vezes ao dia é suficiente.
O tipo de calcinha pode interferir na saúde da região íntima?
Verdade. O ideal é optar por calcinhas de algodão e outros tecidos que facilitem a transpiração. O uso frequente de calcinhas muito apertadas ou de tecidos sintéticos abafa a região e pode suscitar infecções como a candidíase. Dormir sem calcinha também é bem-vindo.
A depilação pode interferir na saúde da região íntima?
Mito. As adeptas da depilação cavada podem respirar aliviadas.
– Do ponto de vista científico, não há nenhuma indicação que proíba ou recomende a depilação, que é uma questão cultural – diz Janete.
Mas a remoção dos pelos deve ser feita com cuidado, como explica Floresti Junior:
– O que pode acontecer é a depilação irritar a pele da vagina e do entorno, e isto sim ocasionar algum problema.
O uso de absorventes diários é contraindicado?
Meia verdade. Os ginecologistas já reprovaram veementemente o uso contínuo e prolongado de absorventes diários, que impediriam a região íntima de "respirar". Mas atualmente, os protetores de calcinha tornaram-se mais finos, promovendo uma melhor ventilação.
– O ideal é ter bom senso e usá-los apenas quando houver uma secreção pouco mais intensa – destaca Floresti Junior.
Já Janete recomenda outro truque:
– Se a mulher não se sente confortável com a secreção diária, é melhor que troque a calcinha ao longo do dia – diz a ginecologista.
Lenços umedecidos substituem o asseio no banho?
Mito. Os lenços umedecidos podem quebrar um galho, mas, se usados em excesso, podem ressecar e irritar a região vaginal.
– Aqui, entra-se na mesma questão do sabonete íntimo: quem deseja usar lenços umedecidos deve preferir os produtos sem fragrância, o mais neutro possível – diz Janete.
O período menstrual exige limpezas mais frequentes da região íntima?
Mito.
– Sangue menstrual não é sujeira e não causa doença – diz Floresti Junior.
A manutenção da higiene íntima dependerá da intensidade do fluxo menstrual, mas, por via de regra, limpar a região vaginal normalmente e trocar o absorvente interno ou externo pelo menos uma vez por turno é suficiente.
Lavar a calcinha no banho é um mau hábito?
Mito. Desde que se use sabão neutro e produtos não abrasivos, o hábito não implica nenhum problema. O importante é que a secagem seja feita em um local seco e arejado. A umidade do box pode favorecer a proliferação de fungos e bactérias no tecido.
Fazer xixi após o sexo é benéfico à saúde íntima?
Verdade. Assim como a higiene da região, a prática é aconselhável antes e depois da relação sexual.
– Isso diminui acentuadamente a incidência de infecções vulvares e urinárias – afirma Floresti Junior.
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