Em reportagem especial sobre Outubro Rosa, Donna ouviu a história de quatro mulheres para quem o diagnóstico do câncer de mama se tornou um impulso para a realização de antigos e novos sonhos.
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Catorze troféus e mais de cem medalhas, uma nova faculdade e a Carteira Nacional de Habilitação - depois da quinta tentativa - foram conquistas de Mariane Dias Barros depois do câncer de mama. De "sedentária convicta", a professora do Estado passou a triatleta.
Depois de uma sequência de enganos médicos, Mariane chegou ao diagnóstico correto aos 26 anos, em 2007. Durante a quimioterapia, engordou muito mais do que gostaria.
- Não fiz acompanhamento psicológico. Minha terapia era comer. Comia e ficava feliz. Na verdade, comia, ficava feliz, vomitava e chorava, esse era o ciclo - recorda hoje, aos 38 anos.
Mariane terminou o tratamento com 40 quilos mais do que tinha no início. Na época, ouviu do oncologista que precisava emagrecer porque o excesso de gordura é fator de risco para vários tipos de câncer. Meio a contragosto, começou a correr, na companhia do marido, Adriano. Em seguida, veio a natação, esporte pelo qual apaixonou-se. Logo, o casal começou também a pedalar.
Antes das atividades físicas, iniciadas em 2011, Mariane já havia retirado as duas mamas e também útero, trompas e ovários, comprometidos por causa de uma medicação usada na quimioterapia. Mas é o tipo de pessoa que prefere focar na metade cheia do copo.
- Infelizmente, eu tive câncer, mas sempre contei com o apoio de marido, pais e irmão - destaca.
Infelizmente, eu tive câncer, mas sempre contei com o apoio do meu marido, pais e irmão.
MARIANE DIAS BARROS
Com plano de assistência médica, Mariane se compara com quem depende do Sistema Único de Saúde (SUS). Um dos remédios de que precisava era comprado pelo pai no Uruguai a um preço quase 10 vezes menor do que no Brasil. O Ministério da Saúde fornecia o medicamento, mas o ritmo da rede pública poderia ter custado sua vida.
- Comecei a usar o remédio em janeiro e só consegui a primeira consulta pelo SUS em dezembro. Acabei doando as caixas que recebi - conta.
A professora de história, hoje vice-diretora de uma escola estadual, sempre se considerou uma pessoa vaidosa e "para cima". Passado o susto causado pela perda dos cabelos e pelos do rosto e corpo, Mariane brinca que o Dia dos Namorados de 2008 foi o mais prático da sua vida.
- Não tive que me depilar nem pintar cabelo - diverte-se.
E é com essa mesma positividade que encarou mais um diagnóstico "assustador". Em junho deste ano, Mariane começou a sentir-se mal com frequência e mais cansada do que o normal. A solução estava na reposição hormonal para elevar os níveis praticamente zerados, o que se apresentou como uma encruzilhada para ela. Seu câncer era do tipo receptor hormonal positivo, o que significa que as células cancerígenas se aproveitam de hormônios para evoluir. Tratamentos hormonais, inclusive, são um fator de risco conhecido do câncer de mama.
- É como tratar diabetes com açúcar - compara a professora.
Contudo, na avaliação do seu oncologista, Luis Fernando de Paiva Venegas, os benefícios da reposição hormonal seriam maiores do que os riscos. Ele explica que a produção hormonal é fundamental para que uma série de coisas funcionem bem no organismo humano. Nas mulheres, níveis insuficientes podem provocar ressecamento vaginal, variações de humor, depressão entre outros danos. A baixa na produção de Mariane está relacionada à retirada dos ovários, responsáveis pela produção de estrogênio.
- A qualidade de vida cai muito. Em casos como o de Mariane, uma paciente jovem, eu libero. Se o risco é maior, como quando a doença já se disseminou, não prescrevo _ afirma Venegas, diretor médico do GTTO - Grupo de Tratamento Oncológico e membro do serviço de oncologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
A orientação agora é fazer, a cada três meses, os exames de monitoramento que costumava realizar anualmente. Mariane engordou outra vez e suspendeu temporariamente os treinos, mas está confiante:
- Estou acima do peso, não me gosto assim. Isso limita a prática do esporte. Mas sei que vai passar e, logo, eu volto a treinar.