De tanto receber pacientes assustadas com informações equivocadas sobre o câncer de mama, a cirurgiã Kristi Funk lançou um livro com o objetivo de derrubar mitos em torno da doença. A médica ficou famosa por ter realizado a mastectomia preventiva em Angelina Jolie, que retirou as duas mamas depois de descobrir que a mãe e uma tia morreram por causa de um câncer associado a uma mutação genética.
Em Peitos: o manual da proprietária, a autora incentiva as mulheres a fazer escolhas diárias que reduzem o risco do câncer não hereditário - que, ao contrário do que muita gente pensa, é a maioria dos casos, como as leitoras verão a seguir.
"Eu seria capaz de passar um dia inteiro jogando vôlei com as falsas ideias que estão no ar", escreve Funk, em um texto divertido em meio a centenas de citações científicas.
O câncer de mama é o mais frequente entre as mulheres. São cerca de 1,6 milhão de novos casos no mundo por ano, o equivalente a 25% de todo o câncer diagnosticado nelas. Segundo Funk, até 90% dos fatores que determinam risco ou saúde dos seios estão nas mãos das pacientes. Contudo, ela destaca que a doença também atinge mesmo quem parece ter controlado tudo que promete garantir uma vida saudável. Por isso é tão importante consultar um especialista e estar com seus exames em dia.
Publicado pela Editora Planeta, o livro tem prefácio da cantora Sheryl Crow, que teve um câncer de mama tratado por Funk. Ao lado do marido, Andy Funk, a cirurgiã criou, em 2007, a Fundação Pink Lotus, em Los Angeles (EUA). O centro atende milhares de mulheres por ano e oferece exames e tratamentos gratuitos àquelas de baixa renda e sem cobertura médica.
Neste Outubro Rosa, Donna selecionou três mitos e três fatos publicados no livro assinado por Kristi Funk para ajudar no combate à desinformação sobre o câncer de mama.
Não custa lembrar: essas informações não substituem as avaliações médicas.
A maioria das pacientes tem histórico de doença na família: MITO
Na verdade, 87% das mulheres com a doença não tem uma única parente de primeiro grau com câncer de mama. Só entre 5% e 10% dos casos são hereditários.
Existem diferentes mutações genéticas já associadas ao desenvolvimento do câncer de mama. Cerca de metade dos casos envolvem os genes BRCA1 e BRCA2. Quando saudáveis, eles cumprem um papel importante de suprimir o crescimento de células tumorais. Já pessoas que carregam mutações em um desses genes têm até 25 vezes mais chance de ter câncer de mama por volta dos 50 anos.
Usar sutiã apertado e desodorante favorece o desenvolvimento do câncer de mama: MITO
Não há qualquer evidência científica que relacione o surgimento da doença ao uso do sutiã, seja como for: com ou sem arame, apertado, usado durante 12 horas ao longo do dia ou para dormir. Funk também afirma que as mulheres não precisam se preocupar com o uso de desodorantes ou antitranspirantes.
Segundo ela, uma das hipóteses para o falso alarme é que os antitranspirantes, ao impedirem o suor, barram a expulsão de toxinas que se acumulariam nos nódulos linfáticos e causariam o câncer de mama. Um dos estudos que derrubam a teoria é de 2002 e comparou 1.600 mulheres com e sem câncer em busca de alguma relação entre a doença e a toxicidade dos produtos. Nada foi comprovado pelos pesquisadores.
Colocar silicone pode causar a doença: MITO
Funk é categórica: nenhuma mudança na anatomia da mulher causa câncer, seja um piercing no mamilo ou próteses de silicone nas mamas. A médica cita uma meta-análise de 17 estudos que apontou redução de um terço de incidência de câncer de mama entre mulheres com o implante. A explicação provavelmente está no fato de que mulheres com próteses geralmente têm menor índice de massa corporal (IMC) e tiveram filhos biológicos antes dos 30 anos, dois conhecidos fatores de redução de risco para a doença.
Contudo, a médica de Angelina Jolie recomenda exames mais rigorosos para quem tem próteses de silicone, já que elas podem dificultar a detecção de um tumor nas mamas.
Estilo de vida saudável reduz risco: FATO
Praticar exercícios físicos, não fumar, não ingerir álcool e consumir alimentos integrais e à base de vegetais, evitar carne e laticínios reduzem significativamente as chances de ter câncer de mama. Kristi Funk afirma que tudo o que consumimos influencia diversos processos relacionados à doença, como níveis hormonais, a formação de vasos sanguíneos e o controle de radicais livres.
Entre outras recomendações de dieta alimentar, a médica aconselha a ingestão de 30 gramas de fibras por dia para reduzir o risco de câncer de mama pela metade. Para se ter uma ideia da quantidade, uma xícara de feijão preto tem 15 gramas. A ingestão de fibras ajuda a eliminar o estrogênio, hormônio que alimenta 80% de todo câncer de mama.
Primeira gravidez tardia aumenta risco: FATO
Mulheres que engravidam antes dos 20 anos apresentam uma redução de 50% no câncer de mama em relação às que nunca tiveram filhos. Já aquelas que dão à luz depois dos 35 anos aumentam a chance em 40% em comparação a mulheres sem filhos biológicos. O curioso, afirma Kristi Funk, é que esse risco cai depois de 10 a 15 anos.
"Sua primeira gravidez cria transformações permanentes nas células que contornam os ductos e lóbulos dos seios, que são as células que, majoritariamente, formam o câncer de mama", explica a cirurgiã.
Da mesma forma, a menarca (primeira menstruação) precoce, antes dos 12 anos mais ou menos, e a menopausa tardia aumentam o risco de ter a doença. Mulheres que chegam à menopausa antes dos 44 anos têm 34% menos chance do diagnóstico do que aquelas que param de menstruar depois dos 54.
O risco aumenta conforme você envelhece : FATO
A chance de uma mulher descobrir que tem câncer aos 20 anos é de 1 em 1.567; aos 30, 1 em 220. A taxa pula para 1 em 25 quando ela chega aos 70 anos. São cerca de 80% as pacientes que recebem o diagnóstico depois dos 50 anos. A doença, destaca Funk, é mais comum no período pós-menopausa.