Nada mais representativo do que uma impressão digital para simbolizar a importância da personalização no tratamento contra o câncer de mama. Essa imagem foi escolhida para ilustrar a campanha deste ano do Outubro Rosa da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama), que tem como tema "Me Trate Direito". A ideia é trazer à tona a discussão sobre a individualização das abordagens às pacientes com a doença.
Maira Caleffi, presidente voluntária da Femama e chefe do Serviço de Mastologia do Hospital Moinhos de Vento, lembra que o câncer de mama não é único e que pode mudar no curso da doença.
—São muitos os tipos, e a gente precisa de testes no tumor para acompanhar suas mutações, exames genéticos no sangue para individualizar e avaliar questões de herança familiar. Um tumor quando volta (a recidiva) não é necessariamente igual ao inicial — exemplifica.
A campanha, acrescenta Maira, ainda reforça a importância do cumprimento dos direitos dos pacientes com câncer de mama e a relevância do tratamento humanizado:
— É a questão do acolhimento, do olho no olho. Paciente tem nome, tem direitos, então, precisa ser bem tratado.
Dados divulgados nos últimos dias pelo Ministério da Saúde mostram que a mortalidade por câncer de mama no Brasil tem uma taxa considerada baixa: 13 a cada 100 mil, índice similar ao de países como Estados Unidos e Austrália e menor do que França e Reino Unido. Em contrapartida, a taxa de incidência da doença no país é considerada alta. São 62,9 casos por 100 mil habitantes. A mortalidade, afirmou a pasta, está diretamente relacionada ao acesso a diagnóstico e tratamento adequado no tempo oportuno.
— Enfrentar o câncer é um problema de saúde pública. Não existe mais como pagar por todo esse custo de perder tantas vidas prematuramente por dificuldade de acesso ao diagnóstico. Precisamos trazer a ideia de que o câncer tem que ser enfrentado na atenção primária, com o médico e a enfermeira do posto. Os agentes de saúde precisam estar mais sensibilizados para a alta prevalência da doença na nossa cidade e Estado —enfatiza Maira.
Expectativa versus realidade
O médico oncologista Stephen Stefani, do núcleo de avaliação de tecnologias do grupo OncoClínicas, destaca que, com o avanço das pesquisas e da tecnologia, as ferramentas para identificação dos tumores ficaram muito mais apuradas. Agora, é possível conhecer bem cada paciente e compreender se a intervenção sugerida vai ou não modificar o curso da doença.
— Não basta só identificar a paciente de maior risco, mas é preciso ter certeza de que os tratamentos vão modificar o panorama. Isso cria a possibilidade de tratamentos mais assertivos e assinala as pacientes que não adianta insistir com tratamentos não efetivos — pondera o especialista, que é preceptor da residência médica do Hospital Mãe de Deus.
Testes genéticos que contribuiriam para esse tratamento mais preciso ainda têm custos altos e são uma realidade apenas no sistema privado.
— O sistema público não conseguiu andar com a mesma velocidade do que o privado. Ainda há uma lacuna entre a melhor medicina possível, testes e tomadas de decisões mais assertivas versus o que é oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O SUS tem vários méritos, mas ainda carece de uma série de coisas que se referem a financiamento realista e gestão sofisticada. O sistema precisa de mamógrafos de qualidade e aparelhos de radioterapia. O número ainda é desproporcional frente à epidemiologia — finaliza Stefani.
Quais tratamentos existem?
Com um leque mais amplo em relação às opções do passado, hoje, é possível tratar o câncer de mama com intervenções menos tóxicas e mais efetivas, garante Stefani. No entanto, nada é mais eficiente do que a detecção precoce.
— A paciente não pode criar desculpas de que está bem e não tem ninguém com a doença na família para deixar de fazer a mamografia adequadamente — alerta o oncologista.
- Tratamentos locais
Cirurgia
Radioterapia
- Tratamentos sistêmicos
Quimioterapia
Imunoterapia: é um medicamento que "acorda"o sistema imunológico, fazendo com que ele reconheça o tumor e o ataque.
Hormonioterapia: é um tratamento que atua como bloqueador dos receptores de hormônios nas células cancerosas.