Em reportagem especial sobre Outubro Rosa, Donna ouviu a história de quatro mulheres para quem o diagnóstico do câncer de mama se tornou um impulso para a realização de antigos e novos sonhos.
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Em 2009, aos 26 anos, quando descobriu que tinha um tumor na mama esquerda, a produtora musical Alice Comassetto começou a escrever um livro sobre a sua vida. Um ano depois, perdeu a irmã, vítima de complicações de um mesmo câncer. O projeto do livro acabou adormecido.
Assim como a irmã, Alice tem uma mutação no gene BRCA1, que prejudica o reparo celular e aumenta o risco de câncer, particularmente de mama e ovário, explica o oncologista Jairo Lewgoy, do Hospital do Câncer Mãe de Deus e que acompanha Alice há 11 anos. Apenas 10% dos casos de câncer de mama são atribuídos a fatores hereditários, como a mutação de Alice, a mesma que levou a atriz Angelina Jolie a realizar uma mastectomia dupla preventiva em 2013, depois de perder a mãe e uma tia com a doença.
O risco de um novo diagnóstico para quem já teve câncer de mama aumenta de três a quatro vezes. Em 2017, outro tumor apareceu em Alice. Dessa vez, ela retirou as duas mamas. Seis meses depois de concluído o tratamento, recém-separada e morando em outro Estado, a história que Alice ainda quer transformar em livro ganhou ares de produção do Netflix.
A reviravolta começou com um teste digital de farmácia. Enquanto olhava para aquela tela onde lia "Grávida", na sua cabeça, ressoava a voz da médica lhe dizendo "seus ovários não têm mais atividade". O sonho da maternidade se realizava, embora não do jeito que ela tinha idealizado.
- Fui pular carnaval e voltei grávida - resume, bem-humorada.
O oncologista Lewgoy afirma que a quimioterapia pode provocar uma menopausa precoce mas que pode ser transitória, como no caso de Alice. Especialistas não recomendam que mulheres tratadas engravidem por no mínimo dois anos, período associado ao maior risco de recidiva da doença e que pode ser estendido a cinco anos dependendo do caso.
- Durante uma gestação, tudo é peculiar. Não se pode fazer todos os exames, nem todos tratamentos - explica o médico.
Os primeiros seis meses da gravidez correram bem até uma nova surpresa levar Alice ao hospital às pressas. Com 26 semanas de gestação, Alice convulsionou. Foi levada para a emergência de um hospital em Balneário Camboriú, de onde saiu com uma receita de antibiótico para tratar uma infecção urinária. Era uma sexta-feira. No domingo, já estava em Porto Alegre para realizar novos exames. O diagnóstico: metástase no cérebro.
Mas a notícia que poderia encerrar a série sobre a sua vida foi só o início de outra temporada na história de Alice. Spoiler: a cirurgia de retirada do tumor foi um sucesso, e mãe e filho passam bem.
Meu filho é um milagre. Por isso vai se chamar Miguel, o arcanjo Jesus.
ALICE COMASSETTO
- Meu filho é um milagre. Por isso vai se chamar Miguel, o arcanjo Jesus.
Alice estava ciente de que corria o risco de acordar com a metade direita do corpo paralisada. A produtora não pertence a nenhuma igreja, mas tem uma fé muito grande e acredita que as respostas para muitas angústias da vida estão na Bíblia. Para ela, ciência e religião não se excluem. Depois do parto, previsto para 1º de novembro, quando completará 36 semanas de gestação, vai enfrentar uma nova fase de radioterapia.
Com a detecção do novo tumor, voltou para a casa dos pais, em Taquara (RS). Acredita que reunir outra vez a família é um propósito divino da doença. Junto à realização do sonho da maternidade, pretende lançar uma plataforma digital com vídeos de especialistas apresentando informações necessárias para quem recebe o diagnóstico de câncer de mama. Vai se chamar Aguenta Firme.
- Deus vai me abençoar com um filho saudável. Meu plano agora é curtir o Miguel e incentivar as pessoas a cuidarem mais da sua saúde. Viver um dia de cada vez. O universo vai se encarregar de revelar o que vem nos próximos capítulos.