O estilista francês Pierre Cardin morreu nesta terça-feira (29), aos 98 anos. A informação foi confirmada pela família do designer à Agência France Presse, mas a causa ainda não foi divulgada. O óbito ocorreu em um hospital em Neuilly, no oeste de Paris.
"É um dia de grande tristeza para toda nossa família, Pierre Cardin não está mais aqui. O grande estilista que foi atravessou o século, deixando à França e ao mundo um legado artístico único na moda, mas não apenas", afirma a família em um comunicado.
"Todos temos orgulho da sua ambição tenaz e da ousadia que demonstrou ao longo da vida. Homem moderno, com múltiplos talentos e uma energia inesgotável, aderiu muito cedo aos fluxos da globalização de bens e comércio", completa a nota.
Nascido em San Biaggio di Callalta, perto de Veneza, na Itália, em 1922, Cardin se mudou com os pais para a França ainda criança. Posteriormente, naturalizou-se francês.
Um dos maiores estilistas do mundo, realizou, em 1959, o primeiro desfile de prêt-à-porter e também foi o primeiro a criar uma coleção masculina. O primeiro grande nome da moda a abrir um "posto de vendas" em uma loja de departamentos, Cardin adotou um sistema de licenciamento em larga escala que assegurava a presença da marca em todo mundo. A estampa de seu nome passou a ser vista em produtos variados, que incluíram gravatas, cigarros, perfumes ou água mineral.
Estilo
Cardin sempre foi fascinado pelo espaço e o futuro, temas muito em voga nos anos 1960 e 1970.
— A roupa que prefiro é aquela que invento para uma vida que ainda não existe, o mundo de amanhã — declarou o estilista no livro Pierre Cardin, escrito por um de seus colaboradores, Jean-Pascal Hesse, e publicado em 2017.
A audácia de seus cortes, radicais e por vezes geométricos, mas sempre com pegada modernista, marcou gerações de estilistas.
Relembre momentos de Pierre Cardin na moda
Cardin, que trabalhou na casa francesa Christian Dior em 1946, contribuiu ao criar o New Look, o estilo que revolucionou a moda no pós-guerra. Em 1950, abriu sua própria casa de alta costura e ficou famoso rapidamente.
O francês, um empresário de sucesso, criou uma rede de lojas com filiais em muitos países asiáticos, entre eles a China, tendo como carro-chefe suas criações e uma quantidade impressionante de produtos derivados.
— Tive sucesso em tudo o que fiz. A vida tem me favorecido — disse o estilista, em entrevista no ano passado.
Ele esteve à frente de um império que vai da moda a restaurantes, passando por perfumes, hotelaria e viagens.
História e legado
Pierre Cardin começou a trabalhar como aprendiz de alfaiate e, aos 14 anos, já sabia confeccionar os próprios desenhos. Essa habilidade rara hoje no mundo da moda lhe permitiu traduzir suas ideias em peças reais.
A história de Cardin se confunde com a da moda. Formado na Maison Christian Dior, ele a abandonou em 1950 para fundar a própria empresa e, em 1953, apresentou sua primeira coleção.
— Na Dior, aprendi a elegância, evidentemente — afirmou.
Sempre um precursor, ele olhou muito cedo para a Ásia, onde tinha uma grande reputação: viajou desde 1957 para o Japão, então em plena reconstrução pós-Segunda Guerra Mundial, e organizou desfiles na China a partir de 1979.
Seu "museu" pessoal, em Saint-Ouen (periferia de Paris), tem 3,5 mil metros quadrados destinados à moda, 3,5 mil metros quadrados para os móveis, e abriga quase 10 mil modelos que guardou desde o início da carreira.
"Italiano de nascimento, Pierre Cardin nunca esqueceu as origens, ao mesmo tempo em que mostrava um amor incondicional pela França", complementou a família, em comunicado.
"Consagração suprema, finalmente foi o primeiro estilista a entrar para a Academia de Belas Artes, fazendo que a moda fosse reconhecida como uma arte de pleno direito", completa a nota.