Uma busca rápida pelo termo BLW nas redes sociais já dá uma ideia do tamanho do fenômeno. São centenas de páginas e grupos em diferentes idiomas com informações sobre o Baby-led Weaning, método de alimentação complementar baseado no protagonismo do bebê. A ideia é a criança definir como e quanto quer comer, explica a nutricionista Ana Carolina Terrazzan, especialista em nutrição materno-infantil e doutora em saúde da criança e do adolescente:
– Os alimentos são colocados à disposição com cortes específicos, e o bebê é quem vai levar os pedaços à boca para comer o quanto quiser. Para que a criança consiga fazer a autoalimentação, ela precisa pegar o alimento, por isso a opção por pedaços maiores, e não a papinha.
A criadora do BLW é Gill Rapley, agente de saúde britânica e doutora em alimentação infantil. Ao lado de Tracey Murkett, a especialista escreveu o livro Baby-Led Weaning – BLW: O Desmame Guiado pelo Bebê, lançado no Brasil em 2017. O assunto se tornou tão popular que a Sociedade Brasileira de Pediatria se posicionou sobre o tema sugerindo um "meio-termo", caminho que seria o mais adequado na opinião de Elza Mello, pediatra, professora da UFRGS e integrante da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul:
– Temos que fazer a alimentação complementar participativa. Tu vais deixar a criança se sujar, interagir com o alimento, mas tens que cuidar com os pedaços. Existe o risco do engasgo e da criança ser muito seletiva, daí não consome os nutrientes necessários. O importante é os dois, a papa inicial e ir aumentando a consistência. BLW sozinho, não.
O engasgo é justamente o maior medo de mães e pais, e o anseio ganha destaque nos fóruns de discussão online. Antes de aplicar o método em casa, é preciso estar atento a duas questões básicas: a diferença entre engasgo e reflexo de gag (quando o alimento volta pela boca do bebê) e a avaliação sobre as condições da criança para se iniciar o BLW.
– O bebê precisa sentar, não pode mais depender de apoio dos braços, porque precisa liberar as mãos para pegar o alimento. Nem todos estão prontos com seis meses. E não se assuste com o gag, que é um reflexo de proteção e pode ocorrer com todo o tipo de comida. É claro que o engasgo é um receio da família, mas não é comprovado que há maior risco no BLW. Os cortes e a consistência precisam ser respeitados. Maçã, que é mais rígida, pode ser cozida ou assada, abacaxi da mesma forma – indica Ana Carolina.
A nutricionista pontua como principais benefícios do BLW o desenvolvimento da autonomia da criança, assim como o autocontrole de ingestão e uma boa percepção de fome e saciedade. O processo de mastigação também é estimulado nesse cenário. Mas, como a criança é a protagonista do método, é preciso garantir a variedade de alimentos ofertados, pontua a especialista:
– Quando o bebê come em pedaços conecta textura, sabor e alimento. O que a gente faz é incentivar que a criança tenha contato com a comida. Os pais precisam desconstruir a ideia de que o bebê precisa comer muito, os que mamam no peito mostram o quanto querem comer, por exemplo. O BLW parte desse princípio, que o bebê vai ter condições de entender sua fome e saciedade. É importante que as crianças tenham fontes razoáveis de todos os grupos alimentares, e isso parte da oferta dos pais. O que não pode é só oferecer batata, aipim e legumes. Desapegue da quantidade e se foque na qualidade e na variedade.
O manuseio do alimento é fundamental para o desenvolvimento da criança, concorda a pediatra Elza:
– Tocar a comida é fundamental. Aproxima o bebê da noção das consistências e estimula a aprender a se alimentar sozinho. Temos que seguir o ritmo de cada criança, cada uma é diferente. O desafio é tornar o bebê participativo no processo.
No Grupo de Mães Donna no Facebook, perguntamos às leitoras quais os desafios de aplicar o BLW em casa e recebemos depoimentos com diferentes experiências. Confira abaixo alguns relatos de como o método funcionou na prática.
Depoimentos
Apliquei o método com a minha bebê desde os 6 meses. Tinha medo de ela engasgar, mas nunca aconteceu. Me incomoda um pouco a sujeira e a bagunça. E noto que minha filha sempre quer comer sozinha, segurar a colher apesar de não conseguir muito bem ainda. A Aurora já sabe como fazer, coloca a comida com a mão na colher e leva à boca.
Valesca Dagostin Inácio, 28 anos, empresária, de Canela. Mãe da Aurora, um ano
Fiz com meu filho desde os seis meses. Hoje, com 3 anos, come sozinho, mas tem a seletividade. É bom pela descoberta, você sai e todos jantam juntos, a criança tem autonomia. O medo é o engasgo, porém, o risco existe pra tudo, papinha, leite. No BLW achamos que é mais fácil engasgar, mas não é, nunca meu filho engasgou. É preciso envolver toda a família no processo e estar com a cabeça aberta de que a criança vai comer no seu ritmo. Às vezes vai mais brincar do que comer, mas isso não quer dizer que estará com fome.
Nanna Torres, 36 anos, tecnóloga em gestão de pessoas, de Porto Alegre. Mãe de Nicolas, de três anos
Minha filha tem um ano e dois meses e iniciou a introdução alimentar com seis meses. Alternamos entre os alimentos esmagados com garfo e o BLW. Preferi mesclar os métodos por achar mais adequado para minha realidade - ela frequenta a escola e não fazem BLW lá. Alguns alimentos, como o brócolis, são perfeitos para BLW. Minha maior angustia são os engasgos... A cada gag (reflexo em que o bebê cospe a comida) um mini-infarto.
Mariana de Andrade Pranke, 37 anos, farmacêutica, de Porto Alegre. Mãe da Sofia, um ano e dois meses
Aqui em casa fazemos um misto de BLW e alimentação participativa. No início, a angústia era a questão do engasgo, mesmo sabendo sobre o reflexo gag. Mas, como não fico com meu filho o dia todo, devido ao trabalho, a avó que cuida dele ficava muito preocupada com os engasgos. No fim, optamos por fazer algo misto. Hoje ele come muitas coisas com as mãos, principalmente frutas e legumes, e outras na colher ou garfo.