O ator e cineasta norte-americano Tom Hanks, 60 anos, declarou, em entrevista concedida recentemente à BBC Rádio 4, que é contra um projeto adotado por algumas editoras cujo objetivo é reescrever livros antigos, eliminando passagens consideradas ofensivas. O posicionamento do artista também reacendeu, nas redes sociais, o debate sobre censura e liberdade de expressão e criação.
Entre os principais argumentos de Hanks está o de que o leitor adulto tem a capacidade de compreender que determinada obra reúne os elementos culturais de um dado tempo e lugar. Por conta disso, segundo o ator, não há como julgar essa produção com um olhar da época presente.
— Não é difícil dizer: isto hoje não é aceitável. Há que ter fé nas nossas próprias sensibilidades, em vez de ter alguém a decidir aquilo que nos irá, ou não, ofender — afirmou o artista.
Hanks ainda disse considerar invasivo esse projeto porque dá o poder para as próprias editoras tomarem a decisão pelos leitores. O artista também revelou que gosta de ter acesso às obras na íntegra, o que não aconteceria com a reescrita dos materiais.
— Deixem-me decidir aquilo que me ofende e aquilo que não me ofende. Sou contra a leitura de qualquer livro, de qualquer era, que tenha sido truncado — acrescentou.
O projeto
A editora Puffin Books, do grupo Penguin Random House, e a Roald Dahl Story Company, que administra o legado do autor de mesmo nome da marca, se envolveram em uma parceria no início deste ano que tinha como intuito reescrever os livros infantis de Roald Dahl, eliminando passagens consideradas inadequadas ao tempo presente e com potencial ofensivo.
Com o projeto, a editora britânica relançou obras do escritor, como o famoso livro A Fantástica Fábrica de Chocolate, sem os trechos que mencionavam gênero, aparência e peso dos personagens. Na época, os curadores e editores de Dahl argumentaram que a medida foi adotada para melhor atender o público moderno.
A iniciativa dos grupos dividiu a opinião pública. O primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, comunicou, por meio de um porta-voz, que era contrário à medida e que defendia que as obras de ficção fossem preservadas e não retocadas.
— Quando se trata de nossa rica e variada herança literária, o primeiro-ministro concorda com o grande e bem-humorado gigante BFG (personagem da obra O Bom Gigante Amigo, de Roald Dahl) que não devemos "gobblefunk" (brincar) com as palavras — disse o porta-voz à imprensa.
No Brasil, projetos como esse foram realizados em 2020. Nessa época, editoras decidiram reeditar obras de Monteiro Lobato, criador do Sítio do Picapau Amarelo, retirando termos considerados racistas. A revisão foi conduzida, na época, pela bisneta do escritor, Cleo Monteiro Lobato.