Na noite desta sexta-feira (29), a atriz Taís Araujo se pronunciou sobre as acusações de racismo envolvendo o cabeleireiro Wilson Eliodorio, profissional responsável por cuidar de seu cabelo e do visual de outras estrelas como Cris Vianna e Cacau Protásio. O caso ganhou repercussão após um vídeo em que o haistylist dava uma aula sobre cabelos crespos e cacheados viralizar nas redes sociais, a partir das denúncias das modelos Ruth Morgan e Mariana Vassequi.
No desabafo, publicado em seu perfil do Instagram com uma montagem das duas modelos envolvidas no caso, Taís explica os motivos que fizeram com que ela "demorasse a se pronunciar". As acusações ganharam força no início da semana.
"O racismo cometido pelo meu amigo e cabeleireiro Wilson Eliodorio me tirou o chão e a voz. Bateu doído. E por isso demorei a falar. E mesmo o amando, não posso passar a mão em sua cabeça. Ele deve se responsabilizar por seus atos e se repensar enquanto homem negro, gay e profissional de beleza. Demorei também porque, antes de tudo, sou uma mulher negra e isto me atravessa. Atravessa a todas nós. Demorei porque é terrível ver que a estrutura racista desse país se perpetua até com os nossos, os que amamos", escreveu.
A atriz manifestou sua solidariedade às duas profissionais, e incentivou que seus seguidores conheçam o trabalho das modelos. Também elogiou a coragem de Mariana e de Ruth de tornarem o caso público:
"Acima de qualquer coisa, estou aqui para acolher Mariana Messaqui e Ruth Morgan, mulheres negras como eu que não aguentam mais desrespeito e racismo. Mariana Vassequi e Ruth Morgam, a vocês duas todo meu amor, respeito e gratidão por terem tido a coragem de falar. Saibam que este é um grande e importante passo na luta contra o racismo. Você que está lendo esse post, recomendo que siga Mariana Vassequi e Ruth Morgan, que não somente são donas de cabelos maravilhosos: elas têm lindos trabalhos e pensamentos", finalizou.
Veja o post:
Nos comentários, personalidades como a filósofa Djamila Ribeiro e a cantora Gaby Amarantos agradeceram o posicionamento de Taís:
"Também fiquei sem chão e muito triste com o que essas mulheres passaram. É muito sério e a gente não pode passar pano nem em quem amamos. Não se pode normalizar racismo", escreveu Gaby.
Entenda o caso
Considerado um especialista em cabelos cacheados, Wilson Eliodorio estava em um evento de uma marca de cosméticos e trabalhava no cabelo da modelo Mariana Vassequi. Enquanto explicava a natureza dos fios da modelo, o cabeleireiro separa uma das mechas e diz:
— Filhote do patrão, né? Patrão comeu e gerou isso. Esse também é um cabelo brasileiro, pela ascendência étnica, mas aqui é mais comum (em referência aos fios de outra modelo). Esse é um cabelo que a gente encontra mais na Europa — afirma, no vídeo.
Veja:
Em suas redes sociais, Mariana condenou a fala de Eliodorio:
"Dizer isso é legitimar a cultura do estupro! Quando você diz com essa frase horrível que 'patrão comeu', você está falando de um estupro, ou você acha que mulheres escravas tinham liberdade sobre seu próprio corpo? Você está banalizando assédio e sendo machista! E vou te dizer uma coisa, querido: nós não somos filha de patrão nenhum, você conhece minha família? Sabe quem é meu pai minha mãe?", escreveu.
A modelo recordou também outro momento da fala do cabeleireiro durante o evento:
"Outra frase citada: 'Esse cabelo é um cabelo que vem do morro. Agora essas mulheres tem dinheiro e agora elas querem ir em salão chique, por isso nós temos que saber mexer com elas'. E muitas outras", afirmou.
Confira as postagens de Mariana:
Com a repercussão do vídeo, o cabeleireiro publicou um vídeo em seu perfil do Instagram pedindo desculpas a Mariana e Ruth Morgan, a outra modelo que aparece nas imagens:
"Eu erro. E o fato de ser negro não me isenta do erro. Porque assim como você, eu nasci nesse país racista. Sim, sofreu preconceito, racismo, e não aprende, não aprendeu que não se repete isso com um irmão. Mesmo negro, bicha preta, repetiu todas as merdas que ouviu pela vida, que ouve todo dia, que a gente ouve pela vida afora, perpetuando essas piadas horrorosas que disseminam ódio, racismo, machismo, misoginia, preconceito", disse. "Tenho muita culpa, muita vergonha, de ter dito o que disse. Principalmente pela dor que causei. Mas repito, ser preto não me faz imune da construção racista desse país. Estou em reeducação. Assim como tantos de nós. Desculpa. Desculpa, Mari, desculpa Ruth", finalizou.