O movimento constante nas quadras de beach tennis que ocupam o recém-inaugurado trecho três da orla do Guaíba, em Porto Alegre, comprova que o esporte vem ganhando terreno por aqui. E mais: o tênis jogado na areia desponta como um dos queridinhos entre as mulheres.
As regras são semelhantes às da modalidade tradicional: competições entre duplas ou individuais, com o objetivo de fazer a bolinha cair na areia dentro da quadra dos adversários. A medida oficial é de 8x8 metros em cada metade da quadra, sendo que a altura da rede é de 1m70cm para os campeonatos femininos.
A árbitra da Federação Gaúcha de Tênis (FGT) Márcia Kuser Araujo, de 51 anos, foi praticante apaixonada pelo tênis tradicional durante muito tempo, desde a adolescência. Há nove anos, porém, foi apresentada ao beach tennis e mudou de esporte e de profissão. Hoje, além de árbitra, também é professora da modalidade na Zona Sul da Capital. No seu entendimento, a versão na areia está conquistando mais mulheres a cada dia porque é relativamente fácil de aprender — as pessoas costumam evoluir rápido — e pelo clima de descontração e integração que oferece. Seja em um treino ou torneio, é comum colocar música alta e animada durante as partidas.
— Tu coloca um som e joga conversando, rindo, cantando. O beach te permite isso, diferente de outros esportes em que tu precisa de um pouco mais de foco e concentração. Também é gostoso pois é na areia, é pé no chão. Tu cai na areia, brinca, se suja, levanta, é uma curtição — afirma Márcia.
Democrático
Trata-se de um esporte agregador: dá para jogar com as amigas, com o parceiro, com os filhos, em todas as idades. Márcia destaca, porém, que muitas mulheres preferem jogar entre si, em partidas mais niveladas que permitem fazer do beach tennis seu momento de autocuidado. Há alguns anos, a árbitra faz parte de um grupo de WhatsApp chamado Lobas 40+, um espaço exclusivo para a interação de jogadoras com 40 anos ou mais e que hoje soma 160 integrantes, de diferentes partes do Estado.
As mulheres começaram a se sentir mais à vontade e a entender que podem fazer parte desse esporte.
MÁRCIA KUSER ARAUJO
Professora de beach tennis
De olho na vontade de reunir o grupo, em 2019 Márcia organizou duas edições do Torneio das Lobas, em Porto Alegre. A primeira reuniu 60 atletas e a segunda juntou 80 mulheres nas quadras. Em 2022, ano em que a pandemia parece estar dando trégua, o plano é retomar as atividades em junho, com um campeonato que promete ser ainda maior.
— Muitas mulheres não gostam da animosidade e da rivalidade que alguns esportes trazem. No beach é diferente, há mais parceria. Muitas vezes, nos treinos, as duplas até se mesclam para primeiro jogar como parceiras, depois como adversárias. Assim as mulheres começaram a se sentir mais à vontade e a entender que podem fazer parte desse esporte. Eu brinco que nós "descobrimos o que os homens fazem na tal da quarta à noite ou sábado à tarde de futebol". Nós criamos esse mesmo hábito de se reunir, jogar, levar uma coisinha para comer, uma bebida e ficar ali confraternizando — explica Márcia.
Quem acompanha de perto o crescimento e os benefícios do beach tennis é Alex Mingozzi, atleta da Itália — berço do beach tennis — que mora em Porto Alegre e é fundador e professor da maior escola do esporte do mundo, a Astra. Mingozzi é considerado o maior vencedor da história do esporte e foi três vezes campeão do mundo, duas delas como capitão da seleção brasileira de beach tennis, que comanda atualmente. Para ele, as vitórias do Brasil em campeonatos importantes e a atenção que o esporte tem recebido da mídia também são fatores que contribuem para sua popularidade.
— As grande qualidade é que é um esporte fácil que joga-se quase sempre ao ar livre. Como é uma atividade sem contato, mesmo no meio da pandemia o sucesso do beach tennis em muitos clubes foi bem grande. Ele hoje é provavelmente o esporte mais febre no país, e a visibilidade também aumenta porque a TV passou a transmitir alguns jogos de campeonatos. Eu jogo faz 30 anos, nasci onde inventaram o esporte, mas faz só 12 anos que ele existe no Brasil. Acredito que atrai também por ser novo — explica Alex.
Benefícios para a saúde
Por ser um esporte jogado em quadras de areia, também é um aliado na melhora do condicionamento físico, desafiando principalmente os pulmões, as coxas e as panturrilhas, responsáveis por propiciar toda a movimentação que precisa acontecer para que o jogo flua. É um esporte que faz suar e a atividade intensa também auxilia na perda de peso.
— Quem faz aula ou pratica o beach umas duas vezes por semana nota um fortalecimento e tonificação principalmente dos membros inferiores e uma perda de peso importante. O beach queima gordura, por isso, para quem não quer ir na academia fazer um cárdio tedioso, é uma forma divertida e descontraída de queimar calorias. Sem contar que agora tem várias quadras em que as pessoas tem possibilidade de jogar sem pagar, o que ajuda a fortalecer o esporte — afirma Alex.
Moda no beach
Com o aumento do interesse no esporte, crescem também as opções de vestuário e acessórios para deixar a atividade mais fashion, principalmente para as mulheres. As duplas muitas vezes apostam em roupas, viseiras e raquetes combinando.
O uniforme que funciona melhor para esse esporte é aquele em que a atleta se sente mais confortável, e as opções são muitas: vão desde legging e regata ao short e top, dando espaço também para as saias e vestidos que ficaram famosos entre as jogadoras de tênis. No beach tennis, porém, normalmente são feitos com uma modelagem mais curta e em tecido dry-fit, para a pele não ficar tão úmida durante a atividade intensa.
— Tem muito comércio de vestidos, óculos, viseiras, bolsas, raquete, body, saia. A cada semana é uma coisinha nova que agrega à atividade física. Aqui no país, está ficando um esporte muito estiloso, mais do que na Itália — afirma Mingo.
E quem se apaixona por esse esporte também quer poder mostrar suas jogadas nas redes sociais. Foi pensando em responder a essa demanda que a jornalista Renata Zwarniski passou a trabalhar com a divulgação do beach tennis desde 2018, acompanhando torneios em todo o Rio Grande do Sul e produzindo vídeos e fotos dos atletas. Junto com a sócia, Regina Cirne Lima, criou a página Beach Tennis POA, onde também indicam lugares da Capital com aulas e professores disponíveis e tiram dúvidas sobre a prática.
— Ele é hoje o maior canal de divulgação do esporte no Estado, é onde o pessoal que joga aparece, principalmente os amadores. Começamos a fazendo vídeos dos torneios e postando nas redes do canal. O pessoal adora pois se sente visto. Chegam para nós querendo saber "Tu filmou aquela minha jogada? Conseguiu pegar aquele meu smash? E o peixinho?". Hoje somos geralmente convidadas para cobrir os eventos e nossa página no Instagram conta com 13,7 mil seguidores — conta Renata, que fez do beach um negócio.