Obra em bronze Biforcazione, de Giuseppe Penone, criada em 1991
- Não é preciso dinheiro para colecionar arte. O que você precisa é sentimento - afirma Joop caldenborgh proprietário do jardim de esculturas aberto ao público na cidade de Haia
Duas vezes por ano, o colecionador de arte holandês Joop van Caldenborgh, 73 anos, parte armado com uma série de produtos de limpeza (e vários ajudantes) e passa o dia no terreno de 20 hectares atrás de sua casa, em um subúrbio de Haia, na Holanda. Sua missão: manter o precioso conteúdo do jardim com um visual fresco e vibrante.
Não são as plantas, e sim o enorme bronze nu de Henry Moore, os cogumelos de fibra de vidro de Sylvie Fleury, os grandes pés de bronze de Tom Otterness e as cerca de 60 outras esculturas modernas que preenchem o jardim. Todos os bronzes precisam de polimento; os cogumelos de fibra de vidro recebem uma lavagem completa, com xampu automotivo e acabamento em cera; e a pátina negra de obras como os pés de Tom Otterness recebem uma camada de graxa de sapato para manter o brilho.
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- Nesta era de super-ricos, a arte é uma das coisas que você precisa ter, como um jatinho particular. Porém Joop é um amante clássico da arte: ele tem obras de todos os grandes artistas, mas porque as comprou em estágios iniciais - explica Wim Pijbes, diretor do Rijksmuseum em Amsterdã, que faz parte da fundação privada de Joop.
Uma coisa é ter uma grande coleção de quadros e fotografias, o que Joop tem. Ela pode ser vista nas paredes de sua casa e de sua empresa de produtos químicos e, em breve, no museu que está planejando abrir ao lado de sua casa no próximo ano.
Parques particulares de esculturas são relativamente raros, especialmente na Europa. No início, Joost não tinha planos de abrir o parque, que ele chama de Clingenbosch, ao público. Na verdade, tudo surgiu ao acaso. Ele comprou a propriedade em 1988. O jardim, projetado em 1912 por Jan David Zocher, arquiteto paisagista holandês, não era de seu agrado.
- Ele era como Versailles: muito simétrico e bem cuidado, com arbustos retos.
Joop começou acrescentando caminhos sinuosos e lagoas. Depois, colocou algumas obras. Em pouco tempo, estava comprando mais esculturas para colocar ali. Um dia, convidou alguns amigos e colegas para um passeio. A novidade se espalhou, e ele começou a receber pedidos de visitas.
Então, passou a abrir o parque para visitantes uma vez por semana, com hora marcada. Hoje, há 20 curadores que realizam passeios a pé.
- Jardins de esculturas são como zoológicos, onde diferentes espécies que não podem conversar entre si são obrigadas a conviver juntas - comparou o escultor britânico Antony Gormley. - Joop permite que cada obra tenha sua própria zona, então não há nada para distrair seu relacionamento com a peça.
Próximo passo é um museu
No entanto, instalar cada obra em sua zona nem sempre é fácil - particularmente quando se trata de peças grandes como as de Gormley.
- Eu havia concluído o molde de gesso para uma grande peça chamada Still Leaping, um grupo de formas esféricas reunidas com base no conceito do espaço deslocado por uma figura que salta - explicou ele, quando Joop visitou seu estúdio em Bruxelas e comprou a versão final, em ferro.
- A obra pesa cinco toneladas, e nunca imaginei que ela encontraria um lar.
Levá-la a Clingenbosch exigiu um caminhão para formar um caminho de placas de aço através do parque, para que um segundo caminhão, carregando a escultura, não afundasse no solo devido ao peso. Um guindaste foi necessário para içar Still Leaping. Essa é apenas a parte final de um longo processo que começa quando Joop encomenda uma escultura.
- O artista faz um desenho e então você aceita. Isso não é da noite para o dia.
A obra Pavilion 111 for Joop, de Dan Graham, por exemplo, levou anos para ser concluída. O artista queria uma peça mais arredondada, o colecionador queria uma quadrada. Foi uma longa negociação, mas no fim, saiu ao gosto de Joop.
O jovem amante de arte, que ganhava uns trocos entregando jornais, comprou seu primeiro quadro aos 17 anos.
- Era um Peter Struycken. Paguei cerca de US$ 11. Hoje, as obras dele são muito conhecidas. Você começa a comprar, e então se transforma num colecionador. Não é preciso dinheiro para colecionar. O que você precisa é de sentimento - resume Joop, que agora adiou quaisquer aquisições para o parque de esculturas para se concentrar em um museu que abrigará entre 300 e 500 obras de artistas modernistas como Jeff Koons, David Hockney, Ellsworth Kelly, Damien Hirst, Ai Weiwei, Andre Kertesz e Man Ray.
Parque holandês
Uma das esculturas da coleção The Ninth Power, do israelense Yaacov Agam, em aço inoxidável, criada em 1971.
Upside-Down Feet (Pés de Cabeça para Baixo, em bronze, obra do americano Tom Otterness, datada de 1993.