Em alguma fase da vida, você acendeu um cigarro, só para experimentar. E odiou. Sentiu a garganta queimar, tossiu, detestou o cheiro e não viu graça nenhuma naquilo. Ótimo, um fumante a menos. Já quem, contrariando o bom senso, consome uma carteira por dia, viveu também a sua primeira tragada. E odiou. Sentiu a garganta queimar, tossiu, detestou o cheiro e não viu graça nenhuma naquilo, mas queria muito parecer adulto e, de quebra, ocupar as mãos. Deu uma segunda tragada naquele treco fedorento. E uma terceira. E está aí, até hoje, devoto, sem conseguir largar o maldito.
O primeiro gole de Coca. Posso imaginar a careta. Ainda criança, foi introduzido ao xarope amargo e escuro em uma festinha de aniversário. Os pais cederam à pressão dos parentes: “deixa ele provar para ver como suco é melhor”. De fato, que troço repugnante. Mas você deu um segundo gole, para mostrar que era valente, e um terceiro gole, para ter certeza. Bastou. Mais um colonizado feliz.
O primeiro beijo, vamos lá. O encaixe levou uns minutos. E você talvez tenha achado meio nojenta aquela história de roçar uma língua na outra. Não chegou a fazer a careta que fez diante do primeiro gole de refrigerante, a educação manda respeitar o próximo, que não é um copo, e sim uma pessoa com sentimentos. E foi por ser tão educado que você permitiu que viesse o segundo beijo, o terceiro e o quarto – depois do quarto, viciou.
A primeira transa não foi de cinema. É mais provável que tenha sido um enrosco humilhante. Tanto barulho por isso? Não acreditou que o universo estivesse conspirando contra suas ilusões e insistiu mais um pouco. Hoje entende por que sexo é assunto popular.
É possível que, no primeiro encontro, você tenha achado seu marido meio arrogante. Ou sua mulher tão ansiosa a ponto de pensar em não ligar para ela de novo. Já ouvi uma garota dizer que não viu nada de mais em Paris na primeira vez em que lá esteve. Levei dois dias até acostumar meus ouvidos com o tom de voz da Amy Winehouse. Só consegui engatar na leitura de Grande Sertão: Veredas na terceira investida.
O primeiro cálice de vinho da minha vida ficou pela metade, não consegui chegar até o fim. Para gostar, seja do que for, é preciso respeitar a maturação do prazer. Excelência é algo que se revela devagar, e não de imediato, o que explica a frustração da atual geração de apressados. Apenas bicar em breves amostras de felicidade, sem se demorar um pouquinho, é que é perda de tempo. Aliás, vale o reverso: se ainda não conseguiu deixar de fumar, continue tentando.