A viagem no tempo promovida pelo filme Ainda Estou Aqui, afora o que já se falou sobre sua importância para a preservação da memória do país e o brilhantismo das atuações, nos mostra que perdemos a pureza pelo caminho – quando se falava em revolução, era sempre a favor do ser humano e seus valores essenciais: paz, amor e liberdade.
Hoje, ninguém mais perde um minuto pensando nisso. A idolatria é pelo dinheiro. Vota-se em quem promete fartura, mesmo que ao custo da destruição do meio ambiente e do poder ilimitado das big techs, patrões de todos nós.
Daí que a revolução agora é conduzida pela extrema direita, que despreza a diversidade e neutraliza a massa, extorquindo os dízimos da ignorância. Uma revolução apoiada por desiludidos que leem pouco e só pensam em si. Bandeira fincada em terra árida, seca, desmatada, em prol daqueles que nunca se coçaram para se informar direito, preferindo vestir os dogmas e as fake news que lhes servem. É a revolução dos costumes marcha a ré.
A esquerda, desorientada, ainda apegada a discursos que ninguém escuta, se une ao centrão e perde a identidade. Pautas importantes como a homofobia, o racismo e a misoginia caíram na vala comum e, pelo desgaste, já não mobilizam quase ninguém. Combater a desigualdade social virou papo retrô. Cenário perfeito para um ex-presidente golpista se fazer de defensor da democracia, inverter a lógica e confundir os crentes.
Os líderes esdrúxulos desta revolução às avessas soltam frases como “Make America great again”, mesmo que seja evidente que não será armando a população e expulsando imigrantes que a América voltará a ter o protagonismo que já teve, mas quem está preocupado em evoluir? O passado é o novo futuro.
Solidariedade, tolerância e compaixão continuam a ser o que há de mais moderno no mundo, mas são vistos como fósseis, despencaram no ranking dos valores. Os sentimentos – que é o que salva um país, uma família, uma pessoa – parecem servir para mais nada.
A revolução da direita não fala em paz, nem amor, nem nada que respingue no emocional. Robôs no poder. Os eletrônicos e os de carne e osso.
Diante desta “eficiência” dos brutos, só nos resta tomar um vinho, dançar com os amigos no meio da sala, ver o sol nascer e morrer no mar, enquanto lamentamos a escassez de lideranças afetivas, as que poderiam realmente acordar esse bando de sonâmbulos que não se preocupam com quem sofre a sua volta. Ainda estamos aqui.
Quase não sabendo mais escrever à mão, sequestrados pelas redes, mas ainda trazendo na memória o tempo em que importante era ter a capacidade de se comover – o que robôs, por mais que tentem, nem mesmo sabem imitar.