Seguindo a série de podcasts e páginas como sugestão para se ler e ouvir no distanciamento social – que pode até ser flexibilizado, mas não vai acabar tão cedo –, hoje a coluna apresenta a advogada estressada, que se confunde com sua própria autora. Ela se chama Saíle, uma auto-homenagem de seu pai, Elias, que escreveu o próprio nome de trás para a frente. E gostou. Saíle Barbara, porque Elias também era devoto da santa. Ana Paula, o nome que a mãe, dona Jane, queria, perdeu de goleada.
Conheci a Saíle Barbara Barreto em uma oficina de escrita criativa, e lá tomei conhecimento de que a página dela no Facebook, Diário de uma Advogada Estressada, tinha 70 mil leitores. Poucos meses depois, já são 90 mil. Números de best-seller que a Saíle, advogada em Florianópolis que coleciona Barbies nas horas vagas, não cansa de aumentar com suas histórias bem-humoradas.
Filha e neta de professoras, ela conta que cresceu em uma casa cheia de livros, sempre incentivada a ler. Foi contando os causos de seu cotidiano de ações de divórcio, litígios e alguns barracos – todos devidamente protegidos pelas liberdades da ficção –, que Saíle começou a chamar a atenção em seu perfil no Facebook. Criou a Advogada Estressada por sugestão do irmão, que também batizou a página. E não parou mais de conquistar seguidores. Um detalhe: como quase sempre acontece com as autoras, as mulheres são o público principal da Saíle.
Hoje ela tem três livros independentes publicados: Tão Legal que Nem Parece Advogada, Não Sou Tua Querida! e Os Herdeiros da Nonna, todos à venda no Facebook e no perfil @advogadaestressada do Instagram. É a própria Saíle quem embala e despacha os livros, o que cria uma relação quase que de amizade com as leitoras – que também interagem, e muito, nas redes sociais.
"Aquelas que estão todos os dias ali, comentando e curtindo, até já conheço. E respondo todas as mensagens, converso bastante e tento acompanhar os comentários. O que, confesso, já não é mais tão fácil como no começo."
Sobre o Diário da Advogada Estressada, Saíle conta: "A página é de humor, não jurídica. Embora tenha gente que não entenda, fiz questão de deixar bem claro que é ‘para quem encara com bom humor os perrengues da advocacia’. Cada dia conto alguma coisa que me acontece. Faço um desabafo, mas não cito nomes nem entro no mérito de nenhum processo, até porque ficaria muito chato para quem lê".
A seguir, três trechinhos da Advogada Estressada para desestressar em mais um fim de semana de pandemia. E, assim, seguimos.
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Hoje lembrei de um juiz com quem fiz muitas audiências (e levei muitos sustos) quando atuei como defensora dativa no começo da carreira. É que ele se jogava para trás e fazia umas caretas engraçadas sempre que ouvia alguma barbaridade nas audiências. E eram audiências de família. Então, sabe como é. Ele se jogava para trás muitas vezes, e eu achava que a cadeira iria partir, e o MM se estatelar no chão. Só que a cadeira era muito boa, e isso nunca aconteceu.
Pois bem. Um dia cheguei com um casal muito jovem para fazer um divórcio consensual. O guri entrou mascando chiclete e eu não vi. Tivesse visto, teria feito o dito cujo cuspir o chiclete, mas o “miserento” deve ter colocado aquela porcaria na boca no momento em que entrou na sala e estava de costas para mim.
O juiz viu. Fez aquela careta engraçada e jogou-se para trás em sua cadeira inquebrável. Olhou para o guri e perguntou, ainda calmo:
– O senhor casou apenas no civil, ou na igreja também?
– Na igreja também – ele respondeu.
– E entrou mascando chiclete?
– Claro que não – meu cliente respondeu rindo.
– Então por que para se separar está entrando aqui mastigando essa porcaria?
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Tranquei o francês, mas estou assistindo a um filme por dia no Festival Varilux em Casa e, também, seguindo o Justin Trudeau (primeiro-ministro do Canadá) no Instagram. Acho o máximo aquele homem lindo, fazendo os pronunciamentos em inglês e depois em francês. E ele fala pausadamente, dá para entender tudinho. Muito bom para treinar o ouvido. O que não dá de entender é como a cegonha me jogou aqui e não no hemisfério norte. Tá decidido! Vou processar essa desgraçada. Deixa estar, que vou pedir um dano moral beeeem alto no JEC, e ela vai se enfiar embaixo da cama tremendo de medo, hahaha!
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Descobri outra utilidade para as máscaras. Além de nos protegerem um pouco mais do vírus e camuflar nosso mau humor, elas também servem de disfarce! Pois é. Passei por um parente hoje na rua. Um falso, que sempre me tratou muito bem, mas, na época do inventário da minha avó, descobri que andava falando por aí que a demora era culpa minha. Sim, guardei mágoa. O inventário já acabou faz tempo, graças a Deus, e também não vou fingir modéstia, graças à minha competência e empenho. (...) Hoje o vi na rua. Ele estava mascarado (como sempre) e eu também, mas, no meu caso, por conta da pandemia. (...) Eu sou má!