Que semana, minhas amigas. Que dias, meus amigos. E olha que nem terminou janeiro.
Nada indica que, com uma estreia dessas, 2020 será mais calmo. O jeito é manter a esperança – e os dedos cruzados, sal grosso e uma vela acesa. Bem longe de objetos inflamáveis, por favor.
Teve a morte do astro de basquete Kobe Bryant, aos 41 anos, junto com sua filha de 13, Gianna. Pai de outras três meninas, ele respondia a quem perguntava se não sentia falta de um garoto para jogar basquete: eu jogo com as minhas garotas. O helicóptero em que viajavam caiu a caminho de uma partida não do pai, mas da filha. E o domingo perdeu toda a graça.
Teve o coronavírus se alastrando. As notícias sobre Wuhan, o marco zero da epidemia, com seus aeroportos, estradas, lojas, restaurantes e quase todos os serviços fechados para evitar o contágio, assustaram mais do que qualquer filme de apocalipse. Cinco milhões de pessoas saíram da cidade antes do governo decretar o isolamento, o que foi decisivo para espalhar o vírus. Agora, sinceridade: quem é que não tentaria escapar, e levando a família toda, se de repente fosse condenado a uma quarentena sem data para acabar? Terror da vida real, o pior dos gêneros. De tanto ver esses blockbusters de desgraceira, fica aquela tentação de adivinhar o roteiro. Não, melhor deixar a ficção no canto dela.
Vai que já vai tarde, janeiro. Se fosse um filme, era o caso de abandonar a sala no meio".
Teve o crime da boate Kiss completando sete anos de impunidade. Para quem viveu a tragédia como espectador, parece que aconteceu ontem. Para os pais e mães das vítimas e para quem sobreviveu, é a eternidade. Inacreditável que tantas pessoas hoje cobrem dos pais, das mães e de quem sobreviveu que parem de lutar por justiça. Com o passar dos anos, a dor deixou de ser de todos. Fabrício Carpinejar foi xingado e agredido por escrever sobre a impunidade, leitores irritados com o assunto. Certíssimo o Fabrício. Quem tem espaço tem a obrigação de ser voz. E de estar ao lado dos pais, das mães e de quem sobreviveu para exigir que os criminosos sejam julgados juntos e em Santa Maria. É só isso que as famílias das 242 vítimas pedem. Se fosse em um filme, terminaria com a condenação dos criminosos. O problema é a vida ser tão inverossímil.
Teve o mais absurdo dos assassinatos. Rafael, Fabiana e Gabriel mortos por um arranhão na lataria de um carro. Na frente de um menino de oito anos e de uma menina de 18. O que dizer dos defensores da bizarra campanha armas pela vida – esse nome seria cômico se não fosse uma estupidez – insistindo que a história terminaria de outro jeito se um deles também tivesse um revólver? Faroeste no Lami. Rafael e Gabriel eram mecânicos, consertariam sem custo a preciosa Ecosport que valeu três vidas. E que vai levar o jovem criminoso, é o que se espera, para muitos anos de prisão. Algo deu realmente errado quando o trânsito é prerrogativa para uma barbaridade dessas.
Ainda teve a chuva levando tudo em Minas Gerais e no Espírito Santo. E a estiagem queimando as plantações todas por aqui. Teve a trapalhada com as notas do Enem prejudicando milhares de candidatos e fazendo do Sisu 2020 uma incógnita. Tem o pacote do governador que, até a entrega desta coluna, pairava sobre as carreiras e o futuro do funcionalismo. Para não dizer que falou aquilo que, na ficção, é chamado de alívio cômico, tivemos a participação especial de dona Damares com a campanha pela castidade como forma de evitar a gravidez na adolescência. Para que investir em educação e políticas públicas de saúde se basta não transar, não é mesmo?
Vai que já vai tarde, janeiro. Se fosse um filme, era o caso de abandonar a sala no meio. E ainda fazer uma banana para a tela.