Recebi o e-mail de um leitor de Palmeira das Missões, o Sérgio Padilha. Ele encontrou em casa uma Revista Donna de novembro de 2019 que a Tati, mulher dele, havia guardado. Nela, uma coluna minha que dizia: “Os dias voaram em 2019, quem sabe para acabar logo com esse ano que, não sei se concordam, vai embora sem deixar saudade – e também sem deixar garantias para os que trabalham, para os que estudam, para os que envelhecem, para os que precisam de assistência, para os que merecem descanso. Eita, ano que termina sem deixar pedra sobre pedra”.
Os e-mails dos leitores são sempre uma alegria para quem, aqui do outro lado, nunca fica tranquila sobre estar ou não agradando. Ou irritando, como também mostram certos retornos.
Argumentei com o Sérgio que nem na ficção mais delirante daria para imaginar o que nos aconteceu. Mas prometi controlar o meu pessimismo. Se eu escrevi isso sobre 2019, dizer o quê sobre o que estamos vivendo hoje? O Sérgio arriscou: “2020 passou com a velocidade de um míssil e não deverá, absolutamente, deixar nenhum resquício de saudade”. Sugestão anotada e um beijo para a Tati e o Sérgio. Que estejam bem e protegidos junto com sua família.
Leitora aqui de Porto Alegre, a Jamile – vou guardar o sobrenome porque não negociei os direitos de imagem dela –, me disse que eu andava muito séria nas colunas. Fiz o mea-culpa. Muitas vezes o bom humor me escapa por conta de uma notícia lida na hora de escrever o texto. Pensando na minha leitora, fiz uma coluna mais leve, descolada dos fatos – quais fossem naquele dia.
Pois e não é que, na sequência,o status do coronavírus mudou para pandemia e agora estamos aqui, quem pode vendo da janela o mundo de cabeça para baixo? Eu tentei, Jamile, juro que eu tentei.
Os e-mails dos leitores são sempre uma alegria para quem, aqui do outro lado, nunca fica tranquila sobre estar ou não agradando. Ou irritando, como também mostram certos retornos. Não faltam os que detestam sempre e, vai entender, continuam lendo mesmo assim. Só para mandar aqueles e-mails cheios de ofensas, um deslocado “atenciosamente” no final. Tem louco para tudo. Entre os leitores queridos que não falham, o seu Sidney e o Mauro.
Já a Sílvia, que me escrevia quase todos os sábados, está estranhamente silenciosa. E eu, preocupada. Tudo bem aí, guria?
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Sobrevivente de inúmeros passaralhos, highlander nesse quesito, sigo trabalhando por Skype. Sorte. Vazia, a cabeça é um coworking do diabo, espaço sobrando para os fantasmas e monstros que sublocam a gente. Além do trabalho, do apoio à família, dos momentos de desânimo, do stresse com um e outro – conviver no mesmo espaço sem botar a cara na rua é para os fortes –, dos livros e filmes que fazem de mim uma das pessoas privilegiadas dessa quarentena por esse vivo e atrapalhado conjunto, tenho ocupado grande parte do confinamento com uma questão: como a casa pode ficar tão bagunçada?
Mal a pia de louça foi vencida, você dá as costas e já tem louça para lavar. Nada me convence de que os copos não sofrem de geração espontânea: eles surgem do nada, nos lugares mais estranhos. E o pó? De janelas fechadas, ainda assim o pó entra. Do pó vieste e ao pó voltarás, lema de toda casa. E só a essa altura do campeonato percebi que o responsável pela lavagem das roupas seria mais feliz se, antes de colocar as meias e camisetas na tulha, os parentes não as depositassem pelo lado avesso. Já pensou que sonho recolher a roupa sem ter que virar cada peça pelo lado direito? Quando isso terminar, o único presente que quero pelo resto da vida são as roupas na tulha pelo lado direito.
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Com saudade da vida de antes, comentei com meu filho sobre o medo de, daqui a pouco, surgir outro vírus que ninguém conhece. Outro confinamento, mais pânico. E se acontecer de novo daqui a dois anos? Resposta dele: para com isso, daqui a dois anos tem é Copa do Mundo. É isso. Entre más notícias de jornal, copos que brotam de todos os lados e o ano em suspenso, os e-mails dos queridos leitores e o otimismo de quem tem certeza: vai passar.
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Utilidade pública: em época de pandemia, o projeto WimBelemDon, que ensina tênis e desenvolve atividades extracurriculares com meninas e meninos de Belém Novo, não pode parar de ajudar a criançada e suas famílias. Com o atendimento presencial suspenso desde o dia 18 de março, a ONG iniciou uma campanha virtual para a aquisição de cestas básicas e kits de higiene pessoal e residencial, que serão entregues para as famílias dos participantes do projeto.
As doações podem ser de qualquer valor, e o pagamento, feito através de cartão de crédito, PayPal ou boleto bancário.
Para contribuir basta acessar combatecovid.org/wimbelemdon.