Apesar de ser gaúcha, e de já ter viajado bastante, foi recentemente que conheci algumas preciosidades do nosso Estado. Uma delas, os cânions em Cambará do Sul e o seu inigualável mel branco.
A nossa gastronomia tem tantas preciosidades que não é surpresa, nem para uma cozinheira fuçadora como eu, descobrir algo tão fantástico quanto esse mel, quase todos os dias. Fosse ele um produto nascido na França, já teria uma medalha, um selo de denominação controlada, um hino, um dia no calendário do país só para comemorar a sua existência, e uma procissão, com estandarte e tudo!
Infelizmente, o nosso talento para zelar pelos bens materiais e imateriais da nossa cultura precisa melhorar muito. Eu, como ferrenha grande defensora do artesanato brasileiro, sei bem do que estou falando. Ontem assisti a um vídeo do queridíssimo Marcos Livi – outro tesouro da nossa cozinha, um ícone da cultura gaúcha – fazendo um desabafo lúcido e emocionante sobre o momento que todos nós, cozinheiros brasileiros, estamos vivendo nesta pandemia, que teima em acreditar que irá nos vencer.
Lutamos há tantos anos incansavelmente pelo nome, pela história e pelo legado da gastronomia brasileira. Investimos tempo, amor e patrimônio pessoal em nome da manutenção desta história. Desta expressão que nos define tão mais brasileiros, e que corre através desta linha que tece a colcha de retalhos, riquíssima, que é nossa cultura gastronômica.
O Parador Hampel é um oásis desta cultura! Um lugar que se alimenta de brasilidade e propõe o reencontro com o produto e o produtor local. Foi lá que conheci tanta coisa incrível, dos cogumelos porcinis selvagens aos queijos e embutidos, de deixar qualquer europeu de boca aberta. Estamos abandonados, Marcos, mas a sua voz ecoa, seu grito é nosso, e seu chamado por mais união, necessário. Contando os dias para voltar a me sentar ao seu lado, numa fogueira do Parador, e brindar com algum vinho do poeta Luís Henrique Zanini...