Faz algum tempo, publiquei aqui um texto que tratava de restaurantes e bares tradicionais que encerravam suas atividades, de forma melancólica, causando comoção. Sabemos como é difícil manter um estabelecimento funcionando, além do mais por muitos anos. Mas, fora isso, um dos pontos da coluna era: se você gosta de um restaurante, se ele faz parte da sua memória, frequente-o. Não o abandone, sob o risco de chorar depois.
O panorama de negócios segue difícil no Brasil. E, nesta semana, soubemos que o famoso Bar Luiz, com 132 anos, no Centro do Rio, talvez feche as portas amanhã, sábado. O talvez fica por conta de uma campanha realizada nos últimos dias para que o público volte ao local. O decano bar lotou, ganhou algum fôlego. Seu problema, contudo, não se concentra apenas no “esquecimento” dos clientes. Ele se insere num contexto de uma cidade em crise, numa rua com problemas de iluminação, limpeza, segurança. Coisas que dependem do poder público.
Restaurantes longevos atravessam um campo minado formado por modismos, ciclos vitais, planos econômicos etc. Enfrentam mudanças do gosto, da dietética. É preciso competência, persistência e sorte para resistir. Porém, quando eles
adquirem a aura de patrimônio, será que demandam mais do que simplesmente ficar ao sabor dos riscos?
Penso no exemplo da Espanha, talvez o país ocidental com maior densidade de bares e restaurantes em relação à população. Os incentivos governamentais ao empreendedor (linhas de crédito) são grandes. O cuidado com os espaços públicos (conservação, mobilidade, limpeza) é um compromisso das prefeituras. Pois tudo isso movimenta o comércio, o turismo. Seria o caso de pensar, por aqui, em uma estrutura de “apoio aos veteranos”, do mesmo modo que se estimula a abertura de novas casas? Algo que se traduza em consultoria de gestão, em regime diferente de impostos e taxas, em status de atração histórica ou coisa do tipo?
Mas aí é preciso também que a comida, o serviço e o ambiente estejam em forma. E isso só vai acontecer se você, cliente, for assíduo – e exigente.
*Luiz Américo é crítico gastronômico e autor do livro Pão Nosso