Não sei se é só comigo, mas quando lembro dos almoços na casa da minha avó, a imagem é sempre de fartura. Tinha muito prato na mesa, e absolutamente de tudo, que é pra ninguém ficar desfavorecido.
Também era todo mundo meio amontoado na mesa, uma falação danada que ninguém se ouvia. Fecho os olhos agora e lembro perfeitamente de tudo. Do cheiro, do gosto do pudim de laranja, dos quadros pendurados nas paredes, das bugigangas da cristaleira, do barulho do elevador, até do ritmo que eu batia na porta pra ela abrir.
Engraçado que enquanto vivia isso não me dei conta da influência que teria na minha vida. E do quanto essa relação com as avós forma nosso caráter. Em todos os sentidos.
Enquanto os pais educam e fazem de tudo para que as crianças tenham uma rotina minimamente organizada, cumpram horários e mantenham seus hábitos, os avós mostram que na prática a teoria é outra. E que não tem certo e errado, acontece que cada um tem o seu jeito de encarar as coisas, e a política utilizada pelos avós se mostra bem mais interessante por ter um nível de experiência monstruoso por trás.
Percebo isso com o Francisco hoje. Lembro de tudo que vivi com meus avós, e ao olhar para ele me dou conta de que a história está se repetindo bem ali na minha frente, exatamente na mesma proporção, e com as mesmas referências.
Lá na frente o Chico vai lembrar exatamente da farra na mesa, das conversas desordenadas e atravessadas durante o almoço, do cheiro da comida, das brincadeiras com os primos, dos quadros na parede e dos livros da vovó.
To pensando agora que o curioso disso tudo é que, tanto no meu caso quanto no do meu filho retratam situações de almoços durante os finais de semana. Ou seja, a motivação era a comida.
Talvez este seja um paralelo importante sobre a vida. Em qualquer situação, é sempre muito mais do que comida. É sobre carinho, origens, cuidado, conforto e novas descobertas. O mundo é dos avós!
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