Mais do que insistir e dizer como as coisas deveriam ser, o que vale mesmo é dar exemplo. Já percebi isso, e comecei a adotar essa prática com o Francisco. Quando desejo fortemente que ele se interesse por determinados assuntos, começo a falar sobre eles, mostrar coisas e fazer com que ele vá se envolvendo aos poucos.
Foi assim com futebol. Comecei a jogar bola sozinho em casa, simular partidas dificílimas contra times imaginários e, por fim, assistir a jogos em um momento em que ele estivesse por perto.
Deu certo. Só não entendeu direito a relação dos times ainda, porque para qualquer que seja o lado, ele grita gol e levanta os bracinhos, me olhando bem firme nos olhos.
Nesse momento, percebi que as coisas mudaram bastante com o tempo. Quando morava com meus pais, lembro de ter sido o terror da vizinhança porque mais do que o gol em si, para mim, a bola na rede valia mesmo para abrir a janela e soltar o grito.
O troco vinha em seguida, na hora do gol dos caras. Mas tudo bem, faz parte da infância de todo mundo. Na verdade, fazia. Porque quando digo que as coisas mudaram, é porque atualmente o grito de gol transferiu-se para as redes sociais.
É triste perder esse hábito tão maravilhoso do grito de gol raiz, aquele grito com o coração, que é um desabafo, uma fuga para um universo paralelo de alegrias momentâneas.
Sou um cara muito ligado em tradição. Gosto de manter a rotina de ir ao supermercado, por exemplo. Daí, avaliando este ponto especificamente, de como a tecnologia impacta nossas vidas, fico um pouco chocado com a notícia de que já existem supermercados totalmente automatizados no Brasil, onde o cara não fala com ninguém, compra sozinho e paga sozinho.
Não sei se estou preparado para isso, será que o Chico não vai poder repetir a minha corrida das compras contra o rapaz do caixa, de tirar todos os itens do carrinho mais rápido do que o atendente registra as compras? Seria um tremendo gol contra, hora em que o vizinho gritaria na minha janela!