A catarinense Regina Vanderlinde é a nova presidente da Organização Internacional da Vinha e do Vinho, com sede em Paris. Professora na Universidade de Caxias do Sul, a doutora em enologia é a primeira representante do Brasil a assumir o cargo, para um mandato de três anos. Em entrevista por telefone com o Destemperados, direto da capital francesa, ela compartilhou um pouco de sua trajetória profissional e expectativas para o mandato de três anos.
Como o mundo dos vinhos entrou na tua vida?
Eu estudava Farmácia Bioquímica Tecnologia de Alimentos na Universidade Federal de Santa Catarina e, no último semestre, me apaixonei pela disciplina de fermentações, na qual tive que fazer um estágio de graduação. Eu tinha uma amiga que a avó morava em Caxias do Sul e ela me propôs fazer esse trabalho numa vinícola. Então eu fui, mesmo sem conhecer a cidade. Gostei tanto do aroma do vinho que resolvi ficar nessa área.
Antes de assumir a presidência da OIV, tu já tinhas trabalhado na instituição. De que maneira você ingressou nela?
Foi em 2001, quando comecei como expert representando o Brasil, porque já tinha meu mestrado e doutorado em enologia pela Univerdade de Bordeaux (França). Vale ressaltar que a OIV é uma organização intergovernamental cuja responsabilidade em nível nacional é do Ministério da Agricultura. No país, ajudei a criar o laboratório de Referência Enológica do Instituto Brasileiro do Vinho e dirigi esse espaço por 17 anos. Em 2012, fui designada secretária científica da subcomissão de métodos de análises, cargo em que fiquei por dois mandatos, até a última semana. Neste ano, o Ministério apresentou minha candidatura para a presidência e eu fui eleita.
A que tu creditas a tua vitória?
A um conjunto de fatores. O Itamaraty e o governo brasileiro fizeram campanha, mas eu tinha a minha carreira, eu era a candidata mais conhecida aqui da OIV, com uma carreira longa na área científica. No dia 19 de setembro, terei minha primeira assembleia dirigida.
Existe algum peso em ser a primeira representante do país a assumir esse cargo?
Por enquanto não senti penso nenhum, já estou tanto tempo aqui que tenho conhecimento da estrutura e funcionamento da organização.
De que forma a tua presidência pode contribuir para o crescimento da vitivinicultura brasileira no mundo?
Eu assumo como presidente de uma organização mundial, tenho que representar todos os países que fazem parte dela. Mas, para o Brasil, acredito que seja uma grande publicidade para o setor vitivinícola brasileiro, mostrar ao mundo que existe o nosso país como produtor.
E como está a aceitação e percepção dos produtos nacionais mundo afora?
Nos últimos anos, a qualidade dos produtos tem crescido muito. O volume de exportação é pequeno, mas o setor tem se empenhado para aumentar. Os espumantes brasileiros, por exemplo, têm ganhado muitos prêmios internacionais, então estão ficando conhecidos.
Quais serão as tuas prioridades no mandato?
Primeiro, o desenvolvimento do setor vitivinícola em todos os setores. Além disso, particularmente, quero continuar a mobilizar todo o potencial técnico e científico da OIV e a articulá-los para enfrentar os novos desafios no cenário mundial, como a mudança climática, novas tecnologia e a produção sustentável. Temos que promover as iniciativas que contribuem para um modelo de negócio internacional baseado na transparência e nas trocas comerciais, para que isso gere a confiança dos consumidores e valorize o retorno de todos que dependem do setor. Também é muito importante que o presidente exerça uma ação diplomática a nível internacional para integrar novos países membros à OIV - hoje, temos 46 países que representam 85% da produção e do consumo de vinho do mundo. Quero também criar um ambiente aberto à inovação, reforçando ainda mais a nossa eficácia.
Vinhos varietais ou de corte?
Eu gosto de todos, não tenho uma preferência. Os cortes muitas vezes enriquecem os produtos, mas tudo depende da qualidade dos produtos. Existem vinhos típicos e bons em cada região do mundo.
E entre as variedades de uvas, existe alguma?
Também não tenho. Existem variedades mais conhecidas que são plantadas em vários lugares do mundo e em cada local essas uvas manifestam características diferente, produzem vinhos distintos. Além disso, cada vinho é mais indicado para um momento, cada tipo de comida exige um tipo dele.
Um livro para aprender mais sobre vinhos.
Existem muitas obras boas, mas gosto muito da abordagem da Jancis Robinson, uma crítica inglesa que escreveu Como Degustar Vinhos, Expert em Vinhos em 24 Horas e The Oxford Companion to Wine.
* Conteúdo produzido por Eric Raupp