Quando eu era criança, tinha uma máquina de escrever. Usava ela para registrar os campeonatos de botão que eu fazia. Ficava horas fazendo listas com as escalações e os cruzamentos dos meus times preferidos. Logo veio a adolescência, o primeiro computador e um ritmo mais acelerado de vida. Nem preciso dizer que perdi o contato com a máquina.
“Mas o que diabos isso tem a ver com gastronomia?”, você deve estar pensando. Explico. Mês passado ganhei de um grande amigo uma máquina de escrever que ele achou em um antiquário. A nostalgia me deixou mais filosófico e me fez pensar no valor das coisas artesanais.
Escrever uma carta nela demandou energia. Tive que comprar uma fita pela internet, achar o papel adequado e limpar cuidadosamente cada peça. O peso no dedo para deixar bem gravada cada letra foi bem mais pesado do que minha mão está acostumada no celular. Porém, quando terminei a primeira carta (de agradecimento a este querido amigo) o sentimento de ter produzido algo único e verdadeiro fez valer todo o esforço. Mais do que isso, fez eu valorizar cada produto artesanal que eu consumo nos dias de hoje. Aquele queijo, aquela compota. Quanta dedicação e carinho foi colocada na comida.
Outro ponto que me fez pensar foi o fato de ter que respeitar o tempo da produção. Demora mais para gravar a tinta no papel e exercita a paciência tão escassa nos dias de hoje. Foi um momento quase terapêutico para mim. Ressaltou a importância de valorizar os produtores que passam um ano inteiro cuidando de uma hortaliça que vai ser degustada em minutos.
Também me peguei pensando no cuidado que se tem que ter quando não dá para deletar e voltar atrás na palavra escrita. Cada ação é definitiva, assim como cada experiência em um restaurante não pode ser apagada da memória de um cliente. É preciso cuidar de tudo nos mínimos detalhes.
Por fim, fiquei tocado com a nobreza do gesto do meu amigo de dar um presente sem data, daqueles que faz um dia qualquer virar um momento especial. Hoje em dia, os presentes vêm em somente em datas especiais. Mas a capacidade que um pequeno gesto tem pode fazer o dia ser mais feliz.
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* Conteúdo produzido por Diego Fabris