Paola Carosella esteve no restaurante Le Bistrot, em Porto Alegre, para um bate-papo para convidados durante um café da manhã que marcou o reposicionamento da Activia, da qual a chef é embaixadora.
Conversamos com cozinheira argentina, que ficou famosa após sua participação como jurada do MasterChef, para saber um pouco mais sobre sua história. Paola falou sobre o lançamento de seu livro, contou curiosidades e refletiu sobre temas profundos como o papel da mulher na sociedade.
Paola chegou no Brasil há 15 anos e, atualmente, comanda dois restaurantes em São Paulo, o Arturito e o La Guapa Empanadas Artesanais e Café. Ela já morou na França, Estados Unidos e em diferentes cidades da Argentina, onde trabalhou com chefs como Francis Mallmann e Paul Azema.
1. Qual seria a tua última refeição antes de morrer?
É muito difícil, não tem uma resposta. Você vai me fazer chorar. Mais do que o quê, seria com quem. Eu faria com a minha filha, qualquer coisa que ela goste.
2. Quais os restaurantes que tu mais gostas no Brasil? Já conheceu algum em Porto Alegre?
Fomos ontem em um tailandês, o Koh Pee Pee. Eu adorei. Queria conhecer mais de Porto Alegre. Em São Paulo tenho vários restaurantes favoritos.
3. Quando se iniciou a primeira temporada do MasterChef tu imaginavas que fosse fazer tanto sucesso no Brasil?
Não. Eu não consigo me misturar ao sucesso que tem o programa, honestamente. Mas eu sou muito feliz fazendo, eu gosto do que a gente fala, acho que o programa é honesto, é verdadeiro. É uma mistura interessante entre o que as pessoas têm para contar sobre elas mesmas, com o seu histórico de cozinha, com os nossos sentimentos. É divertido. Um programa que abriu para muitas pessoas um olhar sobre a cozinha que antes elas não tinham.
4. Quem é a pessoa que tu mais admiras na cozinha hoje?
No Brasil, hoje em dia admiro a Neide Rigo. Mas, sabe quem eu admiro muito? Todas as mulheres que tentam dar comida para os seus filhos e não conseguem.
5. Sempre tiveste planos de ser cozinheira?
Sim, sempre. Não sei se falava que queria ser cozinheira desde pequena. Mas, sempre cozinhei na Argentina, e adolescente eu cozinhava para mim e para a minha mãe. Cozinhava para passar o tempo, para passar a solidão, para esperá-la voltar do trabalho. Não era tão simples escolher esse caminho, mas graças a Deus funcionou.
6. Tu acabaste te tornando referência para muitas jovens cozinheiras, como lidas com essa responsabilidade?
Acabei? Não sabia. É uma responsabilidade enorme, gigantesca. Lido com honestidade. Se você está fingindo ser outra pessoa é muito difícil você pedir desculpa ou entender os erros, ou se sentir feliz e honrada com as suas conquistas. Tem coisas que eu falo e faço que as pessoas não gostam. Eu não posso sair me desculpando o tempo inteiro, por isso tomo cuidado de não sair falando coisas. Me sinto responsável, com cuidado, mas a forma de exercer é com honestidade.
7. O que tu achas desse momento atual em que as mulheres estão descobrindo seus papéis na sociedade?
Nós vivemos um momento intenso em todos os sentidos. Ser mulher está cada vez mais em primeiro plano e bombardeado por muitas demandas, mas também tem a ver com o nosso lugar na sociedade. Nem todas as mulheres são iguais, nem todas as mulheres querem a mesma coisa. Meu grande medo do empoderamento feminino é que a mulher sinta que ela precisa ser uma coisa que ela não é, ou que ela sinta que ela tem que ser mais, tenha que ser empresária, bem-sucedida. E se ela não quer ou se ela não pode? Isso causa o efeito contrário. O que eu gostei muito da campanha da Activia foi que a gente quer que as mulheres sejam o que elas são. Que elas encontrem nelas a sintonia para serem o que elas são.
8. O que tu achas do glamour em torno dos chefs de cozinha?
Qualquer superexposição tem o seu lado saudável e seu lado não saudável. Tudo depende de quem se expõe e o que essa pessoa quer fazer com isso. Nós temos uma superexposição de tudo hoje em dia com as redes sociais, não somente da gastronomia. A nossa profissão tem um lado muito glamouroso e tem um lado muito duro, que não é muito divertido, e obviamente se você tem, que expor, vai expor o glamour. Não é tão charmoso expor o lado mais complexo. A única preocupação que eu tenho com a glamourização da gastronomia, e não necessariamente do chef de cozinha é que se cria algumas confusões e brechas. Parece que só o que é chique, caro, sofisticado, criativo, de nome difícil é o que vale, e que as outras coisas mais simples, a comida verdadeira de casa, de cozinheiro simples, não vale. Eu batalho para uma reconexão com o alimento em que a pessoa entenda que a gastronomia é uma expressão da cozinha, mas não é a única válida. É essencial e primordial se conectar com a cozinha da forma mais básica.
9. Mas podemos dizer que com o tempo houve uma democratização da gastronomia?
Poderíamos se de fato fosse assim. Na realidade a comida não é democrática, algumas pessoas comem bem e outras pessoas não comem nada. Por isso eu batalho tanto por essa reconexão com o alimento e por entender de onde ele vem. A comida sempre foi um divisor de sociedade. Quem pode e quem não pode.
10. O fato de tu utilizares alimentos orgânicos na cozinha é uma forma de ajudares nessa democratização?
Não poderia fazer de outra forma, uma vez que eu tenho acesso a eles. Eu preciso batalhar para que cada vez seja mais possível para todo mundo. Com isso, também consigo fortalecer a cooperativa de agricultores, consigo fazer com que meus funcionários comam comida orgânica. A comida é muito cara, por isso que os pratos super ultra mega industrializados e cheio de coisas não tão verdadeiras conseguem ter preços mais acessíveis.
11. Tu falas muito em comida com alma. O que significa?
É comida feita por alguém que quer te oferecer essa refeição, não necessariamente colocar comida na tua frente. Mas, comida feita por alguém que está colocando seu corpo e sua alma ali dentro e que tem algo para contar muito intenso. Eu acho que a comida com alma é aquela que quando você come, você se emociona. Você não faz apenas uma análise técnica, ela te toca com o coração de uma forma onde os tecnicismos não importam. Pode estar tudo errado, mas está incrível.
12. Há algum alimento que tu não comerias de jeito nenhum?
Acho que não... Sim. Não como comida pronta, industrializada. Não consigo, não gosto.
13. O que mudou na Paola do início da carreira para a Paola de hoje?
Eu sou mais segura de mim. Estou satisfeita com o meu caminho. Não preciso mais demonstrar nada para ninguém.
14. Como está sendo a experiência de lançar um livro?
Foi muito legal a experiência do livro. Foram três anos para escrever, fazer as fotos, de momentos mais intensos de conexão com ele, outros que você procrastina e não consegue fazer. Outros onde a inspiração não vem, outros onde a inspiração vinha demais. Eu mesma escrevi. Gosto do resultado, obviamente não é uma grande obra literária, mas não me dá vergonha que esteja lá fora. Não é um livro de design ou hipster, com uma estética de gastronomia. Todas as fotos que a gente fez foi no momento em que os pratos estavam perfeitos para comer, não tem nada que a gente tenha feito só para fazer a foto.