*Texto por Luiz Américo Camargo, crítico gastronômico e autor do livro Pão Nosso
Na coluna anterior, eu tratei de privacidade; de não compartilhar; de buscar momentos pessoais e exclusivos na gastronomia. Nesta semana, vou pelo caminho inverso: dividir a refeição em todos os níveis, especialmente os pratos.
Eu, particularmente, gosto. E toco nesse assunto há muito tempo. Se quero provar mais coisas em uma única ida ao restaurante, por que não compartilhar? Faz todo sentido em tempos de crise e dinheiro curto, além de ser divertido. Contudo, é evidente que é preciso ter bom senso na hora de pedir e de eleger as opções.
Por exemplo: ninguém divide menu-degustação, ponto. É um repasto pensado por etapas, por pequenas doses. Mas um prato de massa, por que não, se a ideia for comer outras coisas? Se a cozinha estiver de acordo, a pasta pode até já chegar porcionada à mesa.
Vejamos a carne, então. Em vez de deixar um naco de 400g esfriando no prato, perdendo suas qualidades, que tal compartilhar um corte e, se for necessário, pedir outro? Agora, no caso de, digamos, um confit de pato, é preciso ser razoável: coloca-se o prato no centro da mesa e os comensais se servem por si mesmos.
Claro que tudo isso deve ser conversado previamente com o serviço. Há restaurantes que levam numa boa (cada vez mais); há outros que não gostam tanto; há aqueles que cobram um extra pela divisão – tanto faz, o importante é que seja às claras e de comum acordo entre as partes. E tem ainda aqueles que, por conta da escassez dos tempos atuais, tomam a dianteira e estimulam a divisão.
Em São Paulo, o francês Oui, por exemplo, um pequeno restaurante autoral, incorporou ao seu cardápio sugestões para duas ou mais pessoas. Outras casas, como a Taberna da Esquina, já adotam o esquema há algum tempo. E estou me referindo a preparações que extrapolam os tradicionais arrozes, moquecas, feijoadas, já normalmente pensados como pratos para compartilhar. Iniciativas assim ajudam a cativar os visitantes e, num momento delicado da economia, criam soluções para que as pessoas continuem a frequentar os salões – ainda que com orçamento menor.