*Texto por Luiz Américo Camargo, crítico gastronômico e autor do livro Pão Nosso
Quais são os restaurantes da moda? Ou melhor: qual o estilo que mais parece em voga atualmente? A meu ver, a pergunta não diz respeito necessariamente a uma modalidade ou a uma escola culinária. Parece que os estabelecimentos da onda são os que transitam por aquilo que tem se chamado de custo-benefício. Se o preço é camarada, se cabe no bolso, então, parece que é bom. Mas é mesmo isso?
Em meu trabalho como crítico, sempre preferi tratar mais de valor do que de preço. Pois são diferentes. Valor é o que temos como retorno por aquilo que pagamos. Uma refeição, portanto, pode "valer" - ou não - em qualquer faixa de preço. A conta pode ser altíssima. Porém, se comemos bem, se saímos felizes, vale. A conta pode ser um nada: se comemos mal, não vale (nunca vale).
Coloco essas ideias na mesa como uma provocação. Neste meu espaço quinzenal, tenho citado a necessidade de cozinheiros e empresários encontrarem soluções que se ajustem aos combalidos orçamentos do público, num ano bicudo. E tenho instado os clientes a buscarem as melhores opções, a cuidarem cada vez melhor de seu dinheiro. Mas e aquilo que é baratinho e fuleiro, também compensa?
Façam um exercício, observem. Quando vamos a um restaurante que cobra pouco, geralmente não botamos tanto reparo nos detalhes - o que é justo. A qualidade do ingrediente, o serviço meio avoado, tudo acaba passando batido. Se o preço começa a subir, contudo, parece que ajustamos a lente e vamos aprimorando o foco. E passamos a constatar que determinado produto não é lá essas coisas, que o atendimento bem poderia ser mais ágil e por aí vai.
Qual é o meu ponto? Assim como devemos aprender a fugir do ouro de tolo, dos falsos luxos, dos caros-que-não-compensam, precisamos ter cautela para não consagrar o que é mero custo-benefício como algo melhor do que de fato é. Basta estar alerta ao que comemos, ao que compramos. Basta prestar atenção em nós mesmos, em nossos gostos e atitudes - como apreciadores e consumidores. Na dúvida, apliquemos a fórmula e analisemos a comida, o programa, o que pagamos. E aí: valeu o que estava na fatura?