Doces que mudam com o tempo

O perfil do paladar da população brasileira tem mudado com o passar do tempo. E a mesma tendência pode ser vista quando se trata de doces. Notada em diferentes níveis, essa modificação chega até mesmo ao universo dos docinhos de festa, que ganharam novos formatos e sabores em aniversários, formaturas e casamentos de 30 anos para cá. O que pe tradicional, porém, permanece. E convive lado a lado com as tendências que vão surgindo.

Proprietária do Delícias D'Alícia, Alícia Thorstenberg, 70 anos, aprendeu a arte de doces, pães, cucas e sonhos ainda na adolescência, quando entrou para um convento, onde conviveu com irmãs alemãs e austríacas. Mesmo não tendo seguido a carreira religiosa - preferiu ser professora -, Alícia levou adiante os conhecimentos. Incentivada por amigos e familiares, passou a aceitar encomendas de doces. O resultado foi uma vida de sucesso no mundo das confeitarias - ela comandou a Bombocado, em Porto Alegre, por quase 10 anos.

- Faço meus docinhos à mão, de forma artesanal, e não adiciono nenhum tipo de ingrediente industrializado ou recheios prontos - comenta, explicando o êxito de sua empreitada. - Meu doce é tradicional, mas sempre estou em busca de novidades.

Alícia tem em doces como camafeu, quindim, bombom de castanha e olhos de sogra (nas versões ameixa e damasco) os itens mais pedidos. E encara as tendências que surgem com tranquilidade.

- Percebi a mudança no perfil de doces e passei a aceitar encomendas diferentes da linha tradicional, como naked cake e bolos de Kit Kat. Tenho acompanhado essa mudança. Mas um amigo chef costuma dizer algo que eu concordo: "A tendência passa muito rápido, o tradicional permanece e será procurado" - acredita.

Em contrapartida, Neiva Buratto faz parte do novo mercado de doces, marcado por brigadeiros gourmet e bombons de chocolate. Formada em nutrição, Neiva trabalha com montagem de mesas de doces para festas há cerca de 12 anos, época em que percebeu uma nova tendência e uma necessidade de maior especialização na produção de eventos. Hoje, ao lado do filho Leandro, ela atende de cinco a 10 festas por semana, o que pode render até 16 mil docinhos, dependendo do número de convidados.

- Como a demanda é muito alta, trabalhamos com um número de 20 a 30 doceiras especializadas em cada tipo de doce que nos fornecem as criações. Temos uma doceira para os doces de ovos, outra para o de nozes, outra que faz os brigadeirs gourmet e outras que fazem os doces estilizados, por exemplo - explica Neiva.

Apesar da tendência atual que envolve muito chocolate, Neiva diz que os tipos de doces em cada festa dependem muito dos convidados.

- Costumamos fazer os doces tradicionais (com ovos, castanhas, nozes e frutas) para o público mais velho. Para o público mais jovem pensamos em produtos com doce de leite, Nutella e ganache, além, claro, dos brigadeiros gourmet, que atendem 100% dos convidados.

O moderno envolve muito as tendências do momento, que mudam a cada ano. Mesmo com o passar do tempo, o que é considerado tradicional hoje vai seguir com o mesmo status.

- O perfil dos doces vai mudar bastante, vai se trabalhar cada vez mais com chocolates recheados, mas os tradicionais vão continuar, principalmente pelo resgate feito em Pelotas - acredita Neiva. - Mas o mercado está exigindo cada vez mais coisas novas. Há 20 anos, por exemplo, o serviço de doces nas festas era feito pelos próprios garçons, em pratinhos, hoje já temos mesas e só tende a evoluir.

ALGUNS DOCINHOS DA ALÍCIA

CAMAFEU
A massa é feita com nozes e a cobertura é de açúcar glaçado.