*Texto por Luiz Américo Camargo, crítico gastronômico e autor do livro Pão Nosso
Leio uma pesquisa recente da consultoria NPD, especializada em tendências de consumo, a respeito dos hábitos dos frequentadores dos pubs ingleses. A síntese do estudo, ou, ao menos, sua informação mais chamativa, foi a seguinte: atualmente, 92 em cada 100 visitantes vão a esse tipo de estabelecimento para, acima de tudo, comer. Só oito querem apenas tomar um pint, virar um trago rápido, curtir essencialmente a bebida.
Pelo prisma do negócio, não há nada grave: o público continua comparecendo. Nota-se, contudo, que o perfil da clientela mudou – ficou mais familiar – e que as cozinhas desses estabelecimentos evoluíram, conquistaram mais espaço. O ponto mais curioso, ao meu ver, é constatar que os pubs parecem gradativamente se posicionar mais como restaurantes do que como bares. E aí, quero dar meus pitacos no assunto, extrapolando as intenções da tal pesquisa.
Penso que esse contexto vem na esteira de uma certa ritualização excessiva de alguns costumes. Você quer ir ao pub só para tomar uma? Não é mais tão simples: é preciso ver o menu, experimentar coisas. Quer tomar um chopinho (transportando o tema para o nosso cenário) de pé, na volta do trabalho? Não é assim tão fácil. Eu, particularmente, tenho saudade de bebericar meu cafezinho no balcão, em dois ou três goles. Pois parece que isso se perdeu: é preciso sentar, ser servido, esperar – caso você queira um expresso de cafeteria, não de padoca.
É evidente que produtos de mais qualidade (leia-se cervejas artesanais, cafés de origem e bem tirados) exigem um pouco mais de capricho no serviço, por vezes no discurso. Mas, às vezes, eu simplesmente queria apreciar minha cervejinha sem precisar recorrer ao copo certo, à quantidade de espuma exata (e que isso fosse possível com bons rótulos, não apenas com as marcas mais populares).
Quem acompanha minhas colunas já deve ter percebido que, além da boa comida, do bom serviço, da boa atmosfera, prezo a diversidade na gastronomia. Um dos grandes prazeres desse universo é justamente poder viver experiências bastante diferentes, do boteco ao palácio. Já imaginaram se tudo e todos ficassem muito parecidos? Não seria um tédio?